terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A TEORIA DO AMOR - PÍLULA DE CONSCIÊNCIA

Fragmento do livro: A arte de amar (1956) - Erich Fromm



Na sociedade capitalista contemporânea, o significado da igualdade passou por muitas transformações. Por igualdade, entende-se a igualdade dos robôs, a igualdade de homens que perderam sua individualidade. Igualdade significa hoje “uniformidade”, em vez de “unidade”. É a uniformidade das abstrações, dos homens que trabalham nos mesmos empregos, que têm as mesmas diversões, que lêem os mesmos jornais, que têm os mesmos sentimentos e as mesmas idéias. É por isso que devemos encarar com certo ceticismo algumas realizações que costumam ser celebradas como sinais de nosso progresso, como a igualdade das mulheres. Nem é preciso dizer que não estou falando contra a igualdade das mulheres; mas os aspectos positivos dessa tendência à igualdade não devem nos enganar. Ela vai no sentido da eliminação das diferenças. A igualdade tem seu preço: as mulheres são iguais porque não são mais diferentes. A posição da filosofia iluminista, l’âme n’a pas de sexe, a alma não tem sexo, tornou-se a prática geral. A polaridade dos sexos está desaparecendo e, com ela o amor erótico, que se baseia nessa polaridade. Os homens e as mulheres tornam-se a mesma coisa, em vez de serem iguais como os pólos opostos. A sociedade contemporânea prega esse ideal da igualdade não individualizada por que necessita de átomos humanos, cada um idêntico ao outro, para fazê-los funcionar em massa, suavemente, sem atrito. Todos obedecendo aos mesmos comandos, embora todos estejam convencidos de que estão seguindo seus próprios desejos. Do mesmo modo que a moderna produção em massa requer a padronização das mercadorias, o processo social também requer a padronização do homem, e sua padronização é chamada de “igualdade”.

 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

METÁFORAS E METONÍMIAS...


Uma pérola anônima que circula pela rede...

Chutando o balde
 
Pergunta:
Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão “no frigir dos ovos”?

Resposta:
Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de um certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce mas não é mole, nem sempre você tem ideias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.
E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas. Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.
Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe. Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.
Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.
Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese… etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com cara de quem comeu e não gostou.
O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente.
Por outro lado se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco…
A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.
Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.
Respondido?


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

OLHARES E PENSARES

POR MARIA INEZ DE ALMEIDA LEME GUIMARÃES (PSICOLOGIA E SAÚDE)
(marinezleme@hotmail.com)




O que leva tanta gente a ameaçar a vida dos primeiros?

"Tempo virá em que os seres humanos se contentarão com uma alimentação vegetariana e julgarão a matança de um animal inocente como hoje se julga o assassínio de um homem."
Leonardo da Vinci

"Não te esqueças que por mais distante e escondido que esteja o matadouro, tu, que comes carne, sempre serás seu cúmplice.”
Ralph Waldo Emerson

"A compaixão para com os animais é uma das mais nobres virtudes da natureza humana. Não há diferenças fundamentais entre os homens e os animais: eles, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento."
Charles Darwin

"Amai a todo ser vivente e pacificai vossos espíritos, deixando de matar e comer animais; eis aí a verdadeira prova da religiosidade, pois o verdadeiro sábio e homem de Deus não só não matará nem comerá nenhuma criatura, senão que amará e conservará a vida em todas as suas manifestações."
Buda

"Ao matar animais para alimentar-se, o homem limita desnecessariamente sua capacidade espiritual, sua simpatia e piedade com as criaturas vivas como ele mesmo e, por violar seus próprios sentimentos, torna-se cruel."
León Tolstoi

"Para produzir meio quilo de carne de vaca, precisamos, por exemplo, de um pouco menos que 5 quilos de cereais. Essas circunstâncias lançam uma luz realmente expressiva sobre a situação mundial dos nutrientes: se as mesmas áreas plantadas com forragem para os bovinos e os suínos, que são criados por causa de sua carne, fossem transformadas em áreas de cultivo de cereais e verduras para a nutrição humana, isto seria suficiente para nutrir a humanidade do mundo inteiro!"
Otto Wolff



 O valor da vida aos olhos da criança

Deixai vir a mim as crianças, pois delas é o reino de Deus.

Qualquer que não receba o reino como criança, não entrará nele.

Tomando-as nos braços, as abençoou.

Marcos 10:14-16



sábado, 11 de fevereiro de 2012

A DIVINA FUMAÇA


POR MÁRIO INGLESI
Meu caro amigo
Outro dia, numa visão panorâmica em seu “Blog” deparei-me com a postagem, na Sessão de Saúde é Consciência, de um texto sob o título de “Força de Vontade e as Drogas”.

Apesar do interesse pelo assunto, minha incredulidade – desculpe – foi mais forte. Creio que, no caso do cigarro, o querer, ainda que com muita vontade, não se apresenta suficiente para largar o vício. Aliás, me fez lembrar o tal “Sorria, você está sendo filmado” ou o famoso “Pensamento Positivo”. Ir ao supermercado ou a um shopping, a tantas horas do dia ou da noite, por obrigação ou cumprimento de um dever quase cívico, realmente não dá para “sorrir”, nem por prazer nem para atender a um mero pedido incongruente. No caso do ”pensamento positivo” ainda é pior. Como, em estando na rua, livrar-se de uma bala perdida, num mero tiroteio entre policiais e bandidos?

No caso da “Força de Vontade” para largar o fumo, afigura-se como uma mera força de expressão. Se há realmente um vício que induz ao prazer e crises de abstinência que levam a alterações comportamentais, como sugerir-se ”Força de Vontade”? Manifesta-se, realmente, apenas uma “frase de efeito”, cuja aplicabilidade e resultado são inócuos se não despropositados. Entretanto, - quem sabe - em caso de iniciantes ao fumo, ela tenha alguma validade?
 
Bem. Mas este não deve ser o foco da atenção primária.


O que é preciso rever com urgência é a situação atual dos pobres e sofridos fumantes, inveterados ou não. Hoje, há uma batalha desigual e de grande extensão contra eles. Estão invadindo a sua privacidade de modo terrificante, cercando-os cada vez mais em guetos, ou, então, amedrontando-os com imagens terrificantes-apostas nos maços de cigarro, de doentes terminais. Falta, para muitos de seus opositores, apenas acender os fornos crematórios. Estão sendo vistos como hereges e, como tal, confinados cada vez mais, a espaços sempre mais reduzidos. Excluídos, no lar doméstico, no trabalho, nos lugares públicos ou particulares, enfim, de todo convívio social. São vistos e não tratados como viciados, mas como caso de policia. Como verdadeiros assassinos de crimes hediondos. Parece “sina de caboclo”: sempre na roça.

Com isso, os verdadeiros crimes vicejam, em larga escala, cada vez mais, pelas cidades e ruas deste país.  Senão, veja-se a poluição, o esgoto a céu aberto, as queimadas, as balas perdidas, a corrupção cada vez mais em alta, os aditivos cancerígenos das balas, doces e outros alimentos comidos pelas crianças, os agrotóxicos, os hormônios e antibióticos nas carnes em geral, as usinas nucleares, a poluição dos rios, riachos, encostas e demais, e crimes outros e mais outros, impunes ou não considerados como tais, ou cuja punição resvala, em sua maioria, ao esquecimento total.

O caso dos fumantes é de todo modo triste senão aflitivo, e sem perspectiva de mudança de solução realmente equânime para todos, porque “a doença é traiçoeira, crônica e recidivante”, como salientou o Dr. Drauzio Varella, no final de artigo seu publicado na Folha de São Paulo, pág. E-12, em 13 de julho de 2002, sob o título “A crise de abstinência de nicotina”.

A paranóia chegou a tal ponto que, possivelmente, para se fumar um mero cigarro, sossegadamente, só indo aos Andes ou aos Alpes. Agora, para se informar sem rancor, exigindo apenas uma leveza na escrita do texto, leia, no Caderno de Esportes, da Folha de São Paulo, pág. D5, de 27.11.2011, a crônica “Grito de campeão”, do Sr. Juca Kfouri. Ou, então, veja o filme “Sobre Café e Cigarros”, de Jim Jarmusch. E mais, se delicie com os poemas “Pronominais” e “Relicário”, de Oswald de Andrade, Poesias Reunidas (Ed Civilização Brasileira. / Círculo do Livro):

Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

Relicário
No baile da Corte
Foi o Conde d’Eu quem disse
Pra Dona Benvínda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí

Agora se quiser saber mais sobre a vida aflitiva dos fumantes ou dos quase não-fumantes leia a seguir a crônica do Veríssimo, sob o título de “Fumante” publicada, em 27 de Julho de 2003, no jornal “Estado de S. Paulo”, em seu Caderno 2/ Cultura:
                                             *
Fumante
 - Fumante ou não fumante?
- Não fumante.
- Por aqui, por fav…
- Espere.
- Pois não?
- Fumante.
- Como?
- Eu sou fumante. Era, Sou. Estou tentando parar.
- Muito bem. Fumante, então?
- É. Não! Eu preciso parar. Os outros vão estar fumando e vai me dar vontade. Melhor ficar com os não fumantes. Assim não fumo. Não por firmeza de caráter, mas por medo dos protestos. Não fumantes. Isso, Pronto.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Muito bem. Mesa para um, na seção de…
- Espere. Eu não vou aguentar. Fumante, fumante. Estou há quase duas semanas sem fumar. Nunca fiquei tanto tempo, das outras vezes que parei. Sinto que vou recomeçar hoje. Fumante. Definitivamente fumante.
- Muito bem. Siga-me por fa…
- Espere.
- Sim?
- Não tem uma seção mista?
- Não, cavalheiro. Eu…
- Deveria haver um salão só para os indecisos. Para os que pararam, mas poderiam ter uma recaída a qualquer momento.
- Infelizmente…
- Uma espécie de purgatório, para os que merecem o inferno, mas também merecem uma oportunidade de arrependimento e salvação. Por que não uma seção para não fumantes com sursis? Para semi-fumantes? Com direito a, no máximo três cigarros?
- Infelizmente…
- Dois?
- Nós só…
- Um! Depois do cafezinho!
- Só temos duas opções, cavalheiro. Fumante e não…
- Mas isso é de um radicalismo atroz. Então a pessoa tem que ser uma coisa ou outra? Assim, pá-pá? Fumante ou não fumante? Onde fica o meio-termo. A conciliação? A terceira via? O…
- Por favor, largue as minhas lapelas, senhor.
- Desculpe. É que certas coisas me deixam indignado. Isso é pura discriminação, está entendendo? Pura e odiosa discriminação Por que só fumantes ou não-fumantes? Por que não os que falam alto e os que falam baixo? E se eu não quiser ouvir o que estão dizendo na outra mesa? Tem conversa de outra mesa que é pior que fumaça de cigarro, está me entendendo? Tem conversa dos outros que dá câncer secundário.
- Largue as minhas lapelas, por favor.
- E o celular? O que você me diz do celular? Por que não uma seção só para quem tem celular e outra para quem não tem? Não existe nada pior do que ouvir conversa de celular alheia. Se a gente ao menos pudesse ouvir toda a conversa! Mas não, ouve só uma parte. E sempre a menos interessante. Esquece cigarro. Eu quero a seção sem celular.
- Controle-se.
- Me controlar, como?! Eu estou há quase duas semanas sem fumar. Você se controlaria, se estivesse há quase duas semanas sem fumar?
- Eu não fumo.
- Eu também não! É por isso que estou desse jeito!
- Por que o senhor não fuma um cigarro antes de comer? Para se acalmar? Eu reservo a mesa, o senhor fuma um cigarro, entra na seção de não-fumantes, come, e se der vontade de fumar outro, depois do cafezinho por exemplo, sai e…
- Boa idéia. Aliás, grande idéia.
- Obrigado.
- Você está me propondo a hipocrisia. Está propondo que eu esqueça meu juramento de não fumar nunca mais, nem que seja só por três semanas. Você está me acusando de inconstância.   Me chamando de abjeto, fraco, desprezível, autodestrutivo e louco.
- De maneira nenhuma, cavalheiro. Eu…
- E tem toda a razão. É o que eu sou. Um verme. Está bem, fumante. Você venceu. Me leve para a seção dos fumantes.
- Antes disso…
- O quê? O quê?
Largue as minhas lapelas.
                                             *
Bem, Dr., acho que por ora é só. Já estou estressado e não fumo.
Abraços, sem a divina fumaça que divaga
Mário Inglesi 29.11.11

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

SIMETRIA EM CRISTAIS - PARTE II


Calvin, Haroldo e a matemática como religião


      A beleza e a importância do estudo das simetrias se baseiam no fato delas oferecerem explicações elegantes para a compreensão de muitos fenômenos vitais (fenômenos de acoplamento de receptores em membranas celulares, neurônios em espelho, divisão celular etc.). A própria intimidade da natureza em seu aspecto microscópico, apela hoje a teorias quânticas para as quais os termos simetria e super-simetrias são corriqueiramente utilizados.
 
     Apesar de hoje a simetria conceitualmente pertencer ao reino físico matemático, o conceito pode também ser explorado gramaticalmente, a exemplo da idéia de imagem e semelhança, com base na qual os seres humanos já foram comparados a Deus enquanto potência significativa. Quem sabe nesse sentido a imagem tenha sido dada enquanto a semelhança deva ser conquistada...

      Aos interessados em se aprofundar no assunto sugiro a bela e concisa obra de Michael S. Schneider: A Beginner’s Guide to Constructing the Universe – The Mathematical Archetypes of Nature, Art, and Science. O autor é matemático educador e responsável pela harmonização geométrica dos monumentos na fachada da Catedral de St. John the Divine, em construção, na cidade de Nova Iorque. 

      De algum modo as crianças aprendem por “simetria” ou imitação do que os adultos fazem; e ainda, de algum modo tudo parece guardar uma relação de simetria, como em uma corrida de revezamento em que um bastão passado separa os dois extremos, representantes da simetria das relações. A simetria da imagem no espelho é familiar, mas o conceito de simetria vai muito além, podendo ocorrer mesmo onde não seja em um primeiro momento percebida pela visão consciente. O conhecimento de seqüências, como a de Fibonacci, por trás das quais a natureza responde sem uma explicação aparente, exemplifica como uma aparente estrutura matemática complexa subjaz à estruturação da natureza. Vivencie isso neste vídeo genial:
 


      Por outro lado, parece ser nas quebras de simetria que o novo surge, de modo que a quebra da simetria pode constituir um tipo de elo entre dois estados naturais distantes entre si, ou ao menos sem uma comunicação lógica convencional, digamos assim. Este tipo de especulação aparentemente estéril, recentemente gerou um prêmio Nobel de Química. Daniel Shechtman, desafiando o senso comum da maioria da comunidade científica, mostrou a existência de uma estrutura cristalina que “não deveria existir”, os quasicristais. Mais genial que a descoberta em si, foram as palavras raras proferidas pelo descobridor:

“O bom cientista é humilde a ponto de estar disposto a considerar novidades inesperadas e violações de leis estabelecidas”


      Interessante notar que a arte árabe em seus mosaicos, como os do palácio de Alhambra na Espanha e em construções no Oriente Médio já mostravam exemplos dos mosaicos observados nos quasicristais; veja o vídeo:


      É surpreendente que o padrão não repetitivo dos quasicristais encontre mais uma vez raízes matemáticas relacionadas à proporção áurea, descrita por Fibonacci e conhecida desde a antiguidade. A título de curiosidade, para Steiner a diferença entre o vivo e o sem vida reside em sua forma; os minerais e suas formas cristalinas são sempre limitados por planos, superfícies achatadas, enquanto a vida se constitui de células e é limitada por superfícies esféricas. Assim o caráter dos limites é o que determina a diferença entre o vivo e o não vivo. Nas inspiradas palavras de Steiner no livro “A quarta dimensão”:

“Na transição para a terceira-dimensionalidade, nós encontramos um caso especial do espaço quadridimensional; ele se torna achatado. Para a consciência humana, a morte é a curvatura das três dimensões para quatro dimensões. Com relação ao corpo físico tomado por ele mesmo, o oposto é verdadeiro: a morte é o achatamento de quatro dimensões para três.”

      A seguir, mais um pouco do estudo sobre simetria, compartilhado por Tania Orlando (taorlan@gmail.com), física e estudiosa da astronomia...

Veja também:



SIMETRIA II - O REINO MINERAL
 
      Vimos que cristais se arranjam em formas geométricas definidas a nível atômico e molecular e ao se repetirem definem sua aparência externa. Assim é que podemos observar os belos desenhos que os diversos cristais nos apresentam. O primeiro estudo formal, definindo propriedades de cristais, foi feito por N. Steno em 1669. Independente do cristal, todos apresentam propriedades comuns.
  • O ângulo entre faces correspondentes (lado a lado) de um cristal é sempre o mesmo.
  • Todos os cristais de uma mesma categoria apresentam estes ângulos iguais.
  • Uma estrutura geométrica bem definida externamente reflete a existência de uma estrutura interna.
  • A existência de estruturas geométricas implica em algum tipo de simetria.
  • Cristais podem vir de um mesmo elemento químico, por exemplo, grafite e diamante, mas apesar disto possuem diferentes estruturas (geometrias) moleculares.
      E aqui temos nova propriedade dos cristais. As diferentes estruturas moleculares, com ângulos constantes entre faces de um mesmo tipo de cristal, implicam em simetria especifica para cada categoria.

  • Suponha um cristal com determinada forma geométrica. Gire-o, em sentido horário ou anti-horário, em torno de um eixo vertical que passa pelo seu centro, e observe que a forma geométrica se repete após certa quantidade de giro.
  • As voltas ou parte de volta, que é preciso fazer para que a forma se repita, determina que tipo de simetria este cristal ou sistema cristalino apresenta.
      Simetria rotacional de um passo é quando precisamos dar uma volta completa para que a estrutura se repita, ou seja, não há simetria alguma. Em mineralogia, costuma se representar esta simetria como um círculo cheio.

  • Alguns cristais, por formação, não apresentam um tipo de estrutura interna atômica ou molecular com um padrão definido que se repete.
  • De alguma forma se aproximam do Caos, por não terem uma estrutura pré-determinada, e assim contem em si mesmos, potencial para infinitas possibilidades.
  • Acessam mais facilmente uma consciência Unificada.
  • Podem nos ajudar a expandir a consciência.
      Minerais: obsidiana, opala e âmbar. 

      Simetria Rotacional de dois passos ou Simetria Binária é quando a estrutura se repete girando em 180°, ou duas vezes em um giro completo. Como exemplo, a figura abaixo demonstra esta simetria, assim se você girar em 180° observe como o desenho se repete.


      Da imagem 1 para a 2 giramos uma forma em 90° e a figura não se repete. Mas ao girar em mais 90°, a forma (imagem 3) se repete e é idêntica à forma 1. Isto quer dizer então que foi necessário um giro de 180° para que houvesse a repetição de um desenho em relação à nossa maneira de olhar.

  • Esta simetria fala de pólos opostos (usamos a expressão “dar uma guinada de 180°” na vida).
  • Reflete a polaridade e não temos aqui muita liberdade, pois o grau de simetria é apenas dois, ou seja, vamos de um pólo a outro. Vivemos em um mundo pleno de conceitos duais, tudo ou nada, claro e escuro ou bom e mal. Quantas vezes baseamos nossas escolhas dentro destes conceitos, sem perceber que o dual constitui uma unidade. Que estamos vendo dois aspectos de um mesmo evento. A separação é ilusória.
       Estes cristais podem nos confrontar com escolhas duais, talvez uma delas nos leve em uma condição oposta a que pretendíamos ou percebíamos. Com o que você tem se defrontado? O quanto determinista e rígida está sendo sua vida?

  • O ângulo é de 180° que nos leva a um nove (180=1+8+0=9). Nove é o horizonte. Tudo leva a uma linha divisória, antes e depois do momento atual e da decisão. Assim, podemos continuar na mesma direção, às vezes, com novo entendimento, nova maneira de agir (que também refletirá uma guinada), ou reconhecemos a hora de mudar a direção, a volta de 180°. Entretanto precisamos lidar aqui com nossa visão dual das coisas, ou seja, muitas vezes limitamos nossas possibilidades devido a nossos próprios conceitos do que é bom ou mal, aceito e não aceito (prisão na dualidade) que norteiam nossas escolhas.
  • Simetria binária é a que apresenta maior número de cristais, por exemplo, gipsita, azurita, malaquita, topázio, olivina, marcasite e muitos outros.

      Simetria Rotacional de três passos ou Simetria Trigonal é quando a estrutura se repete a cada 120°, ou três vezes em uma volta completa. Representada com um triangulo eqüilátero cheio.

      Veja o exemplo abaixo. No lado esquerdo temos um triângulo (imagine um cristal com este tipo de geometria). Fixamos um ponto denominado “1”. Afigura central mostra um giro ou volta de 90° e repare que o resultado é diferente do anterior (à esquerda). Entretanto se girarmos mais 30°, totalizando uma volta de 120°, o resultado é idêntico à figura mais a esquerda. Isto quer dizer uma simetria Trigonal.



      Observação: Você pode recortar estas figuras em papel, prender com um alfinete no centro e girá-las. Se você pretende mais precisão desenhe um círculo e marque alguns graus, por exemplo, 90°, 180°, 120° e 270°.

      Uma simetria de três passos nos mostra a força da Trindade, da Lei Universal do Três – Ação, Inação, Neutralizante.
  • Também fala da energia da vontade. Podemos ter tudo, por exemplo, todos os ingredientes e condições necessárias para se fazer um bolo. Se você não tiver a vontade e determinação que o motiva a colocar a mão na massa e fazer, nada acontece!
  • O próprio ângulo de 120° nos remete ao nº 3 (120=1+2+0=3). Estes cristais nos trazem uma energia mais sutil, já que apresentam maior grau de liberdade. Nossas possibilidades de escolhas começam a aumentar.
  • A simetria binária possui uma energia mais mental onde estamos analisando cada elemento de que dispomos. Na simetria de três passos estamos chegando ao nível da energia psíquica, a um passo de materializar. Uma energia mais próxima então do tri-dimensional.
  • Alguns minerais que apresentam este tipo de simetria são: safira, rubi, hematita, calcita, rodocrosita, fluorita, ouro, prata, cobre e outros.
      Simetria Rotacional de quatro passos ou Simetria Tetragonal é o quadrado, pois ao girarmos em 90°, a estrutura se repete e continua se repetindo quatro vezes em um giro completo. Representada por um quadrado cheio.

       Reparem no ponto 1, lado esquerdo da figura e que a aparência externa é a mesma após um giro de 90°. Por isso da simetria Tetragonal ou de 4 passos. O Livre Arbítrio está aumentando e nesta hora geralmente começamos desviar de nosso caminho, porque nem sempre fazemos as escolhas de Alma, com consciência. Nossas possibilidades de escolha estão aumentando e conseqüentemente nosso exercício de Livre Arbítrio. Se as escolhas não forem feitas com Consciência na Unidade de tudo o que existe, podemos nos colocar em situações mais difíceis, nos afastando de nossa Essência. Estes cristais nos colocam em contato com os elementos, agora não mais uma questão sutil de escolhas ou intenção, mas a capacidade de concretizar. 

  • Falam-nos de movimento, estamos em movimento.
  • Estes cristais introduzem a variável tempo:
  • Três eixos espaciais e um eixo temporal. O giro a mais é o giro do tempo.
  • Somos agora confrontados com o temporal, ou seja, o tempo atuando como uma clave sobre nossas cabeças. O quanto estamos acostumados a postergar? Não há tempo a perder, oportunidades não podem ser perdidas.
  • O tempo é uma variável que depende da sua força da vontade e se as condições são de fato as melhores para você. O tempo de fato não existe, é uma ilusão, mas faz parte da grande teia energética, da qual todos fazem parte.
  • Novamente o ângulo de 90°, coloca uma linha clara, neste caso, entre a intenção e a concretização no tempo exato. Veja que a estrutura se repete quatro vezes em um giro completo.
  • Minerais: zircônia, rutilo, cassiterita.
      Simetria Rotacional de seis passos Simetria Hexagonal a estrutura se repete a cada 60°, ou seis vezes em uma volta completa. Representada por um pequeno hexágono cheio.
 

      Para entender este tipo de simetria, observe a figura acima. O nosso ponto 1, em vermelho, no lado esquerdo da figura. Veja que na posição central da figura, com um giro de 30°, não houve repetição da forma inicial. Entretanto na posição do ponto1, lado direito da figura e após um giro de 60°, o resultado é exatamente igual ao inicial. Isto é simetria hexagonal.

  • De todas as simetrias apresentadas, está é a de maior grau de liberdade, maior Livre Arbítrio e logo, maior Responsabilidade. Se você acha que Livre Arbítrio só lhe dá possibilidades de escolhas, não esqueça que junto a elas vem toda uma enorme responsabilidade!
  • A estrutura se repete seis vezes em um giro completo e o ângulo de 60° = 6+0 = 6.
  • Dentro da Geometria Sagrada, o Seis chega depois que o Cinco (a Vida) foi constituído, então ele trás Ordem, Função e Poder. Ordem como ordenação, razão. Conseqüentemente estabelece-se uma função a cada elemento desta ordenação. E daí surge o poder pessoal inerente a cada elemento.
  • Enquanto a Simetria de Quatro Passos nos coloca em uma rede de espaço-tempo, a tridimensionalidade de nosso mundo, a Simetria de Seis Passos, começa a nos mostrar que além destes eixos, existe um vertical, que é a Manifestação Divina.
  • Vamos pensar em um hexágono, no plano bidimensional para facilitar. Observe que nas laterais temos os quatro pontos que definem eixos da simetria de quatro passos, mas temos um eixo vertical, que em relação a um centro nos move em uma escala de maior ou menor consciência do divino.
 
  • Estes cristais favorecem nossas escolhas com maior consciência e responsabilidade, não apenas por nós mesmos, mas também pelo próximo.
  • É o maior grau de liberdade dentro do sistema cristalino.
  • Permite e nos ajuda, na escolha de manifestações com mais consciência, tanto individual quanto coletiva.
  • Pertencem a este sistema, por exemplo, apatita, água marinha, grafite e outros.
ATENÇÃO: Não encontramos outras simetrias, por exemplo, de 5, 7 ou mais passos, no mundo cristalino porque isto iria requerer que houvesse espaços vazios na estrutura molecular do reino mineral, o que não acontece. 

      Simetria Central ou de Eixo é um caso diferente: Cristais do sistema triclínico geralmente possuem este tipo de simetria.

  • Se você imaginar uma linha partindo de uma face de um cristal, passando pelo ponto central e ao bater em uma face oposta, esta apresenta a mesma estrutura, porém invertida, então o cristal possui simetria central.

  • Para facilitar o entendimento, observe os pequenos triângulos na estrutura acima. Veja como os pequenos triângulos são idênticos, ocupam uma posição semelhante, mas estão invertidos. Isto acontece com cada ponto do cristal.
  • Assim, ele se aproxima bastante de uma simetria esférica, onde cada ponto, em cada eixo, em relação ao centro do círculo, tem um correspondente, apenas não é invertido.
  • Estamos diante de cristais de ação muito elevada. Praticamente não temos aqui livre-arbítrio, mas tão somente a consciência plena do que É.
  • Cristais que conferem Paz, Harmonia, Sabedoria.
  • Existe a Paz de quando se sabe quem somos, onde somos e do porque de todas as Ações e Inações.
  • Exemplos de cristais com este tipo de simetria são: turquesa, rodonita, cianita.

      Observações finais

  • Quando um cristal apresenta vários graus de simetria, ou a de um passo, mais se aproxima da Mônada (a esfera) porque esta não tem Livre Arbítrio, ela É Livre Arbítrio!
  • Creio que estes cristais nos auxiliam em questões espirituais elevadas de Total Consciência de quem somos e onde estamos. O Livre Arbítrio não é mais condição porque só existe Consciência Absoluta, Tudo É.
  • Um cristal com poucos graus de simetria está mais sujeito à forma e ao determinismo.
  • Estes cristais podem nos ajudar a lidar com circunstâncias inevitáveis, ou aquelas que tenhamos construído em nossa vida por falta de conhecimento.
  • E também nos ajudam a nos estruturar e organizar, dentro de nosso sistema de vida escolhido, quando necessitamos e regras e limites.
  • Obviamente que na natureza, nem sempre tudo é tão claro e fácil de perceber. Os cristais e minerais sofrem interferência de temperatura, pressão, umidade ou outros elementos químicos durante seu processo de formação, causando crescimento em padrões diferentes e a presença de outros minérios com estruturas geométricas diferentes causam interações.
  • Por isso vemos que um cristal pode apresentar faces quadradas, pentagonais, hexagonais, triangulares e assim por diante.