segunda-feira, 12 de junho de 2017

O MELHOR POSSÍVEL II

Por Maria Júlia Paes da Silva – juliaps@usp.br
Fragmento da obra: "No caminho - Fragmentos para ser o melhor"


           Maria, por trabalhar na área de saúde, viu muitas incisões, feridas, machucados e lesões. E também por trabalhar na área da saúde aprendeu a reconhecer o tecido de cicatrização. Aprendeu a reconhecer um corpo que mostra que está reagindo e que está se esforçando para recuperar o próprio equilíbrio e bem estar.
      Ela aprendeu a olhar essas lesões, localizar o tecido de cicatrização (a cura sempre acontece de dentro para fora!) e, espontaneamente dizer: "Que lindo está ficando isso aqui!", para, muitas vezes, surpresa dos pacientes e dos seus alunos que a acompanhavam em sua prática profissional.
      Não foram poucos os pacientes que perguntaram por que "lindo", e ela pôde explicar e partilhar a beleza expressa na vida se reconstruindo, se reorganizando. Auxiliar os pacientes a colocar o foco no lado positivo do momento, fortalecendo o belo de cada situação.
      O mundo é uma construção subjetiva, pessoal! É o reflexo de nossa visão e consciência. Não há momento do dia em que a meta não possa ser visualizada e o trabalho consigo mesmo levado adiante.
       Não ouvimos tudo o que é dito; só o que queremos/conseguimos ver. Tudo que lemos não está escrito de verdade; lemos o que desejamos ler. Nossa visão, audição e leitura são seletivas; nós escolhemos.
        Maria se lembrava de um paciente que não comia. Deixavam a bandeja com seu prato, o copo de suco e a sobremesa para que comesse, conforme o usual de um hospital, e o prato quando vinham buscar, estava intacto. Sempre escreviam, então, que o paciente "recusara a dieta". Um dia, Maria pediu que um de seus alunos voltasse à enfermaria e perguntasse ao paciente o motivo de sua recusa, afinal ele estava aprendendo enfermagem e não havia perguntado se o paciente estava com náuseas, sem apetite, com dor ou algum outro motivo para que não comesse nada do que lhe era oferecido. Além do que, já havia registro de uma passagem de plantão de que o paciente não estava comendo. Para surpresa de todos, ele respondeu que era porque não tinha dinheiro para pagar pela refeição. Pode parecer óbvio para alguns de nós que um paciente internado em um hospital público saiba que não se cobra pela comida, entretanto a vida acaba mostrando que "não tirar conclusões" pode ampliar nosso mundo.