sábado, 15 de julho de 2017

O PODER DOS MANTRAS COTIDIANOS


“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus.” (João 1:1).
Tudo começa com a palavra – pensada, falada ou escrita. Por meio dela, o ser humano constrói realidades internas e externas, define roteiros que podem levá-lo a prazeres carnais, objetivos materiais, reinos celestiais ou aspectos sombrios do inconsciente. Da abundância à ruína, da felicidade à depressão, da saúde à enfermidade.
Um olhar atento constata que em toda escolha de vida os “mantras”, mensagens de caráter repetitivo, recebidas e emitidas, interferem muito em nossas decisões. De origem sânscrita, a palavra mantra possui dois significados: 1) palavra ou som repetido para ajudar a concentração na meditação, 2) declaração ou slogan repetido com frequência (Dicionário Oxford, 2016).
O uso da palavra “mantra” com o significado de declaração ou palavra de ordem é frequente entre jornalistas, professores de economia e até mesmo autoridades. Haja vista declaração recente de um ex-ministro brasileiro de que a “austeridade” seria o “mantra” permanente do novo governo (FERREIRA, 2016).
Na presente obra, resultado de monografia apresentada no curso de especialização em Cuidados Integrativos da Unifesp, o termo foi considerado em sentido amplo (lato sensu), desde o aspecto sagrado – sons, ladainhas e orações, como o OM, o AUM e o Pai-Nosso – ao profano dos decretos, slogans e afirmações presentes na estrutura familiar, cultural, cotidiana e, principalmente nos meios de comunicação, os maiores difusores de mensagens liminares e subliminares.
Vale saber que 95% dos brasileiros passam mais de quatro horas por dia em frente à televisão, absorvendo informações muitas vezes de caráter questionável. O rádio figura em segundo lugar nas preferências, seguido das plataformas digitais, dos jornais (a fonte mais confiável, segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia, SECOM, 2015) e das revistas. Já as novas mídias, as redes sociais, são as favoritas de 92% dos internautas.
Dos sons, imagens e textos veiculados neste universo, entre 50% a 90% possui teor negativo, estando ligado a temas como violência, corrupção, desarmonia familiar, traição e sexo doentio. A exposição intensa a estas temáticas, aliada à falta de sentido existencial, provoca reações em nosso cérebro, incentiva e “legaliza” comportamentos, dessensibiliza para a realidade e torna o pensar e agir compulsivos. Como atraímos tudo por ressonância interna, acabamos sempre atraindo mais do mesmo.
Afinal, podemos fechar os olhos e escolher não olhar para algo, mas nossos ouvidos permanecem abertos e sensíveis durante toda a vida, mesmo durante o sono. Quem de nós não conhece pessoas que têm televisão no dormitório e adormecem com o aparelho ligado? Ou que perdem horas preciosas do dia com programas, leituras e conversas que não lhes acrescentam nada...
Estas atitudes ativam um “poder” criativo gigantesco, se considerarmos que a mente humana gera, em média, 60 mil pensamentos por dia, 60% a 70% deles negativos. O que fazemos com esses pensamentos, essas palavras e imagens que surgem em nossas mentes, define em parte o roteiro de nossa vida. Se os interiorizamos, ruminamos ou simplesmente deixamos ir...
Daí a importância de conhecer mais de perto as mensagens que recebemos do entorno desde o nosso nascimento e também o Universo de Comunicação, com sua capacidade imensa de transformação que pode ser usada de forma terapêutica a qualquer momento. A partir da identificação de nossos mantras dominantes, podemos refletir com mais clareza sobre seus efeitos na nossa conduta e saúde. Podemos começar a mudar...
O manejo consciente e terapêutico das mensagens, imagens e sons que dominam nosso cotidiano representa alternativa interessante para alterar as memórias celulares de dor e a dinâmica de pensamentos e crenças, no sentido de promover a maturidade e o equilíbrio necessário para uma vida plena e saudável, assim como para exercer qualquer atividade ligada à cura.
Com essas ponderações, esperamos fortalecer em outros humanos o exercício do livre pensar e o ressurgir do Ser tão essencial.

Regina e Ricardo