terça-feira, 1 de julho de 2014

SALUTOGÊNESE



Por: Dra. Ana Cristina Guimarães


O conceito de Salutogênese foi proposto na segunda metade do século XX pelo médico e sociólogo norte americano Aaron Antonovsky.
Do latim, Salus- sanidade e do grego Gênesis- origem, portanto ele significa a origem da sanidade ou da saúde. A noção se contrapõe a “Patogênese”, que consiste no conceito da Medicina atual, fundamentada na busca e na origem das doenças. Os dois conceitos são complementares, pois obviamente precisamos saber a causa e o tratamento das doenças.
Porém, na Salutogênese a pergunta primária é outra. Como desenvolver e manter a saúde de uma população ou de um indivíduo?
Surge o conceito de “resiliência”, ou seja, resistência. Por que alguns indivíduos submetidos a um stress constante, físico e psíquico, sobrevivem sem adoecer, enquanto outros não têm tantas condições de resistência?
Trazendo para o nosso dia a dia, a preocupação primária de uma empresa ou de um governo deveria ser sobre quais os programas que poderiam ser implementados para que os funcionários ou a população não adoecessem. Quando adoecemos, já estamos correndo atrás do prejuízo: horas perdidas de trabalho, o custo enorme dos remédios ou de internações hospitalares. O velho ditado “prevenir é melhor do que remediar” demonstra-se verdadeiro tanto em nível pessoal, como em nível de política empresarial e pública.

Um brasileiro manter-se saudável atualmente é um verdadeiro “milagre divino”.
Porém, quando pensamos em “prevenir” uma doença, logo pensamos em exames de laboratório para “check-up”, ou uma consulta médica para “ver se está tudo bem...”.  Muitas vezes, vemos pacientes sedentários, fumantes e estressados saírem do consultório, felizes por seus exames não apresentarem nenhuma alteração. Em um caso como este, o fato dos exames estarem normais não significa nada e seria até um fator precipitante de doença, pois não serviu para que este paciente tomasse consciência de seu estilo de vida. Entretanto, na verdade não estaremos prevenindo nada com estes atos, apenas participando do conceito “patogênico”, com foco na doença e não na saúde.
Encarando desta maneira, a questão da saúde torna-se primariamente uma questão pedagógica. Ensinar a ser saudável é a primeira preocupação da Medicina da Saúde.
Segundo Antonovsky, os recursos promotores de saúde podem ser divididos em dois grupos.
O primeiro grupo seria atributivo, isto é, não dependente de nós:
-hereditariedade favorável, bom nível nutricional desde a infância, atendimento as necessidades afetivas básicas da infância, bom nível sócio econômico familiar, integração familiar, boa qualidade de vida em relação ao meio ambiente.
Quem teve a felicidade de receber uma boa educação, em um ambiente familiar amoroso e morando em um meio ambiente ecológico agradável já é um grande de candidato a adoecer menos. Como isto nos foi dado (ou não), não podemos agir sobre estes fatores, mas podemos pensar em nossos filhos ou na próxima geração, promovendo uma alimentação saudável, procurando criar um espaço familiar de harmonia e pensando coletivamente em como melhorar o meio ambiente. Percebemos também com este conceito, que políticas públicas que visem melhorar a qualidade de vida de uma grande cidade, aumentando áreas verdes, combatendo a poluição, seriam de extrema importância para a saúde.
O segundo grupo de fatores salutogenéticos seria aquisitivo, isto é, obtidos por nosso esforço voluntário:
 - coerente projeto de vida, boa situação sócio-cultural individual, boa interação afetiva, auto-cultivo em termos estéticos, filosóficos e espirituais, engajamento ideológico nobre.
Quando pensamos em “manter a saúde” logo nos vem à mente exercícios físicos (horas de academia) ou dietas restritivas. Obviamente uma dieta controlada, e certo grau de atividade física são importantes, porém no conceito salutogênico, as questões mais enfatizadas são as sociais, espirituais e culturais.
Diversos estudos mostram a importância de questões anímicas tais como cultivar alguma espécie de religiosidade, a sensação de que existe uma intencionalidade ou “sentido” para a vida, e o menor adoecimento ou maior resistência de pacientes acometidos por doenças graves, como, por exemplo, o câncer. Segue um exemplo de estudo, no link:

No conceito salutogênico, arte e cultura também são promotoras de saúde. Trabalhos tem demonstrado a importância da música e de atividades artísticas relacionadas à manutenção da saúde, pois atuam melhorando o anímico-espiritual.

 Como estamos levando a nossa vida diária e quanto tempo dedicamos a alguma atividade que não seja o trabalho?!
Para a manutenção da saúde devemos incorporar algum tempo para as atividades nutridoras de nossa alma, tais como leitura, música, arte; procurar estabelecer um ambiente de harmonia, tanto em casa como no trabalho; cultivar uma religião (oficial ou não) ou estudar filosofia. Amplia-se assim o antigo conceito de que saúde está apenas relacionada à prática esportiva, alimentação regrada e visitas regulares ao médico.

Para saber mais: Moraes, Wesley Aragão: Salutogênese e Auto-Cultivo, uma abordagem interdisciplinar. Instituto Gaia. 2006.

3 comentários:

  1. Amei este artigo,vem de encontro no que eu acredito. Pois o nosso organismo é sábio, porém as coisas de fora tomam uma força tão grande que fica quase impossível não se contaminar.
    Vivemos num mundo de imagens, de surperficialidade, de consumismo.
    Realmente para manter a saúde equilibrada é difícil ,porém esse é o único caminho para nossa existência.

    Abraços.

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  2. As atividades nutridoras da alma nos deixam mais fortes para viver com saúde. Acredito que a mente rege o corpo e se ele estiver sã o restante será consequencia das boas escolhas que fizermos. Somos responsáveis pelos "recursos aquisitivos". O que queremos para nós hoje???

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  3. Gostei bastante o artigo. proponho-me parar e refletir sobre a distribuição do tempo.

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