segunda-feira, 19 de maio de 2014

ASTROLOGIA

Pelo saudoso amigo e Poeta Pompeu Salgado (1978 - 2013) - De seu livro - Minhas Poesias




ASTROLOGIA

No passado foi uma ciência,
Tempos em que se tinha mais consciência.

Essa leitura era até cantada em verso,
Pois descrevia tudo relativo ao universo,

Estudando dos homens seus interiores,
Comportamento, caráter, personalidade...
E também os astros cósmicos exteriores,
O ser humano se conhecia de verdade.

Hoje a fascinante astrologia
Se cedeu à sua irmã astronomia.

Esta só as estrelas, planetas... analisa,
Não enxerga mais o aspecto humano,
Não mais dos perigos nos avisa.

Analisar o exterior é a ciência atual,
Uma pena ter ocorrido essa mudança radical.



quarta-feira, 14 de maio de 2014

SEXUALIDADE E SAÚDE II

Continuação de: Sexualidade e Saúde I


No último mês, os paulistanos foram presenteados com uma bela imagem na decoração de seus relógios de rua, uma mocinha com sutiã e calcinha e face enigmática alternando com o comercial de um medicamento para dor, ambos em tons avermelhados. Sem querer negar a profundeza da imagem angelical assim como a competência do propagandista, me passou o pensamento “impuro” sobre como a questão é delicada, especialmente aqui no Gigante deitado eternamente em berço esplêndido ao som do mar e à luz do céu profundo.
            Algumas vezes no estrangeiro pude notar a ideia que os irmãos humanos de outros países fazem do feminino brasileiro, cá entre nós melhor nem saber! Penso que a questão da sexualidade e sua exploração midiática é tema que deve ser atentado ao menos pelos que caminham em busca de sentido.
De fato, Freud (não é Frôdo (senhor dos anéis) não, leia-se Fróide) e seu sobrinho Bernays, conforme explorado no intrigante documentário inglês - “O Século do Self”, são experts no tema. Quando Freud explora conceitualmente a ideia de libido, abre-se precedente para experimentalmente testar seu fundamento prático. Os autores exploram a ideia genial e bombástica de que a libido, enquanto atributo humano poder ser direcionada pelo seu portador (mundo interior), mas também por estímulos vindos do mundo exterior!
Freud explora de forma perseverante a ligação da libido com o impulso sexual do humano. Seus sucessores, como Carl Jung (veja-se Iungui), ousaram apontar que a libido poderia ser dirigida não apenas para baixo (criatividade pelo sexo), mas também para cima (criatividade pelo cérebro), associando à libido a capacidade criadora do humano. Na verdade, que a libido agia naturalmente de modo ascendente, já era de algum modo conhecido desde há muito na antiguidade ao se castrar meninos (Castrati) para que suas vozes não engrossassem e pudessem continuar a cantar em certa afinação mesmo após a puberdade.

Agora o humano podia criar a partir da libido – relação sexual – outro ser; e poderia criar a partir da libido – relação intelectual – outra realidade. Pergunto-me com frequência: poderia uma nação excessivamente culta sexualmente o ser intelectual e criativamente? Uma sentença para cada cabeça, a de cima e a de baixo, contingências dependentes dos usuários, eventualmente dos usurários.

Enquanto isso, no outro lado do mundo, em curiosa matéria no New York Times sobre uma série no canal “agá bê ô”, o repórter mostra surpresa ao relatar cenas de incesto e estupro meticulosamente programadas pelos personagens!

Ao que tudo indica, seja na moça de calcinha e sutiã nos aparelhos que mostram propagandas e hora pregados em canteiros, às vezes na mesma rua a cada cem metros, seja nos canais de formação de sensações e opiniões, essa questão da libido e sua estimulação é relevante e pede um olhar das autoridades de Saúde.
     Uma devassa nesse sentido seria bem vinda, mas uma devassa - averiguação - não aquela outra - libertina - e muito menos aquela terceira, que aparece depois da mocinha e que atrofia o cérebro.
Acredito que utilizar a sexualidade como estímulo ao motor social, nada contra, deve ser feito com uma pitada a mais de parcimônia por parte dos gestores. Tudo o que optamos por usufruir sustenta a cadeia desde a ideia semeada até a propaganda manifesta em imagem. Imaginação é imagem em ação; a imagem deve ser antes colocada em ação interiormente; hoje se sabe que a imagem em ação exterior interfere no processo de criação de imagens interiores e conduz e induz mesmo aqueles de nós mais bem intencionados...
A falta de sentido interior é mãe da ânsia por preenchimento com exterioridades. Os buracos dos sapatos e das bolsas são respostas irmãs aos “fálicos” automóveis e cartões de crédito assim como aos anseios de uma sociedade que se afastou de seu fundamento existencial. Como não bastasse, brotam ainda vícios e ambições desmedidas a sedar ainda mais os sentidos; consciência, só em último caso, porque é chato e dói. Assim, enquanto reina a falta de disposição para o sacrifício (ofício sagrado – sacro ofício), que o sofrimento nos auxilie a reencontrar o caminho!


sábado, 10 de maio de 2014

DIAS DAS MÃES 11 DE MAIO 2014


POR: MÁRIO INGLESI - VOVÔ E POETA CONSCIENCIAL
 VEJA TAMBÉM: DIA DAS MÃES 2013



Ainda hoje ecoa por todos esses nossos rincões: “Ser mãe é sofrer no Paraíso”.
Ouvir isso, em princípio soa esquisito. Não apenas porque pressupõe  viver-se num paraíso, o que, realmente, pode-se dizer que é uma grande balela ou uma enorme utopia.
Mas, em se tratando de mãe, o tal pregão faz sentido, pois, nunca se verá SER mais sofredor, em causa dos filhos do que a mãe, desde o começo até o fim da gestação, quando então, seu sofrimento chega a ser físico, quer em parto normal ou não.
Mas o seu sofrer se manifesta de todas as formas e graus. Em princípio, quando o filho é bebê, começa com as noites insones, noites mal dormidas, noites que se arrastam com ela de lá pra cá em busca de seu aleitamento e demais cuidados.
Como revela Drummond, em seu poema “Para Sempre”

Mãe não tem limite,
É tempo sem hora
Luz que não apaga.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Aliás como querem os filhos, em seu cotidiano egoístico e pragmático, como a lei também  pretendida pelo poeta Drummond

Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito um grão de milho.

Assim, ser mãe é perder, de imediato, a identidade pessoal: seu nome passa a ser única e exclusivamente: Mãe.
À essa perda, adjudica outras e mais outras, como liberdade, tempo disponível para si, disposição de fazer ou não fazer algo diferente apenas para si, ter pensamentos pessoais e próprios apenas para si, autoestima, confiança, e muitos outros sentimentos, ideias e ideais que convirjam apenas para si mesma e seu álter ego.
Em contrapartida, se sobra em trabalho, preocupação, ganha em amadurecimento, responsabilidade, cuidados, aporrinhação, e, mais que tudo, em envaidecimento, surpresas, e, muito carinho.
Afinal, como diz Vinícius de Moraes, em seu “Poema Enjoadinho”, enfocando a relação mãe e filho.

“Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!”.

Portando façamos ecoar, cotidianamente e com muito carinho e sofreguidão o Dia das Mães, todos os dias, enaltecendo o seu “sofrer no paraíso”.

Mario Inglesi


quinta-feira, 8 de maio de 2014

TEO-TROPISMO - SAÚDE AVANÇADA

       Mineral, Vegetal, Animal, Humano;

      Magnetismo, Heliotropismo, Geotropismo, Teotropismo...

      Coincidência, Consciência ou Consequência linguística?

      Em português, todas as letras da palavra Deus estão em Saúde!

      Saúde é vida é sentido é luz. Luz visível aos olhos ou ao coração...


POR HUBERTO ROHDEN - PROFESSOR E PENSADOR BRASILEIRO 


É este o inexplicável mistério de todas as coisas creadas:

Quando as procuramos – fogem de nós...

Quando as agarramos – diluem-se em nossas mãos...

Quando lhes saboreamos a natural doçura – enchem-nos a boca de fel...

Quando delas enchemos a nossa vida – abrem dentro de nós o vácuo do deserto...

Mas, quando nos desapegamos das creaturas e vamos em demanda do Creador – elas correm em nosso encalço, prendem-se a nós e conosco querem ir para Deus.

Pois, como, sem nós, só podem atingir parcialmente o seu fim, conosco e por nós o querem alcançar plenamente.

É este o estranho teo-tropismo de todas as coisas da terra:

Desconfiam do homem que as procura e delas se enamora – e tem confiança no homem que delas se afasta por amor a Deus.

Para fugir das creaturas não é necessário submergir na solidão do deserto – basta, e é necessário, desprender delas o coração.

Crear na alma um ambiente de serena neutralidade, de perfeita libertação.

Pode o homem se escravo daquilo que não possui – e pode ser livre daquilo que possui.

Não há mal em possuir – todo o mal está em ser possuído.

É triste a condição do homem que, em vez de possuir as creaturas, é delas possuído ou possesso...

É razoável a atitude do homem que se despossui das creaturas para não ser por elas possuído.

É sublime a liberdade do homem que sabe possuir as creaturas sem ser por

elas possuído.

Herodes não possuía – era possuído.

João Batista não possuía nem era possuído.

Jesus Cristo podia possuir sem ser possuído.

O homem perfeito, o gênio da espiritualidade, depois de se desfazer das creaturas que o escravizaram, pode a elas tornar, sem perigo de cair vítima de sua tirania.

“Tendo tudo – sem possuir nada” (São Paulo).

Contempla todas as coisas da sua perspectiva superior, aureolado da luz divina, imerso na atmosfera da sua grande liberdade interior...

À luz dessa gloriosa liberdade dos filhos de Deus, falava um dos espíritos mais livres do mundo com o “irmão lobo”, com a “irmã cotovia” e entoava o “cântico do sol”, até da “irmã morte”, sintonizando a mais intensa onda poética com a mais sublime onda religiosa.

Para ele, religião era poesia – e poesia era religião.

Ao som da sua grande liberdade interior, celebrava Francisco as núpcias do Evangelho e da Natureza...

Diluía-se o heliotropismo de sua alma sedenta de Beleza no teo-tropismo de seu espírito faminto de Verdade...

E reconquistou o paraíso perdido.

sábado, 3 de maio de 2014

SAÚDE – JOGOS ELETRÔNICOS E DESENHOS ANIMADOS


Maria Inez de Almeida Leme Guimarães – Mãe e Psicóloga da Saúde
Desenhos animados e jogos eletrônicos podem ser prejudiciais às crianças?


     Quando perguntamos às crianças o que lhes vem em mente quando o assunto é entretenimento, surgem diversas atividades. Porém, as brincadeiras que exigem movimento tem perdido espaço para as “atividades estáticas”, voltadas a jogos de celular, computador, ipad, iphone e televisão, entre outras.

A grande diferença é que as atividades onde o movimento é priorizado colocam a criança em ação, há troca de energia. Enquanto as estáticas as deixam em uma atitude extremamente passiva, e sua única "atuação" é como espectadora. Buddemeier, especialista na Ciência dos Meios de Comunicação, descreve como é fácil, em entretenimentos desse tipo perceber a cabeça e o restante do corpo imóveis, assim como uma completa inatividade dos sentidos. A visão também é subestimada pois a criança enxerga tudo sempre à mesma distância e o mecanismo sensível da visão não recebe estímulo, se degenerando e atrofiando pouco a pouco.  É interessante notar que técnicas de fixação do olhar são utilizadas pelo tratamento através da hipnose, ou seja, nesse estado a consciência assume papel secundário, deixando o indivíduo extremamente suscetível.  Apenas o ouvido funciona, e mesmo assim parcialmente, devido ao som localizado e à distorção sonora. As crianças acabam ficando desorientadas e se acostumam com imagens prontas, inibindo seu potencial criativo e as fantasias tão imprescindíveis para futuramente, saberem lidar com novas situações.



Crianças e mídia: Buddemeier alerta para o papel dos pais



Todo passatempo pronto, enfraquece a vontade e o incentivo. A vontade é reprimida, pois tudo acontece sem a contribuição da criança. No caso da televisão, esta já pensou, já escolheu e já disse. Mais tarde, seus pais ou seus futuros chefes se queixarão de jovens estagnados e sem iniciativa. E a origem está aí, nos primeiros anos de vida.


Alguns pais se contentam com o fato do jogo, programa ou desenho ao qual a criança está exposta ser “educativo”. Mas será que eles sabem o que de fato educa? Sabem que para uma criança realmente aprender e para algo ganhar sentido, é preciso a criação de um vínculo afetivo e que vínculos só são criados através de relacionamentos reais e não virtuais?  O que é aprendido virtualmente não pode ser transposto para a realidade. Além disso, que pais são esses que delegam a um aparelho eletrônico, a tamanha responsabilidade que é educar um filho? O que é realmente educativo? Uma criança ouvir uma canção vinda da própria mãe, promovendo uma troca de emoções vívidas, onde a atenção é dirigida de maneira singular e única, ou ouvir um bicho animado pulando e cantando através de um aparelho frio e distante de maneira mecanizada e voltado para a grande massa? Quem se habitua a ouvir sons emitidos por aparelhos eletrônicos, torna-se insensível à voz humana, aos suaves timbres de um instrumento musical ou aos delicados sons da natureza. Desta forma, há um reforço do isolamento e o contato interpessoal deixa de ser exercitado.



Então aparecem frases do tipo: “Mas meu filho adora ouvir a fulana colorida cantando, ele fica vidrado, nem pisca!”. No início do texto encontra-se a explicação para isso. Essa postura fixa nada tem de positiva, pelo contrário, denota quão prejudicial é tal imagem.  E é claro que ele gosta! Que criança não gosta de uma canção? Mas será que esses pais já se deram conta do quanto seus filhos também adoram ouvi-los cantar ou lhes contar uma história? A diferença é que nestes casos, seus olhos brilham. Essas experiências são insubstituíveis! A criança precisa de vivências concretas, somente estas lhes fornecerão bases profundas para um desenvolvimento sadio. Se lhe oferecerem apenas conteúdos desprovidos de reais sentimentos, só lhe restarão emoções superficiais a serem expressas. E é este um dos grandes males dos jovens e adultos contemporâneos.

Uma crítica comum ao ponto de vista que evita o contato excessivo com conteúdos dessa espécie é se a criança não vai ficar alienada do mundo. A réplica se caracteriza por vários fatores: o mundo está formando seres humanos tão exemplares assim, a ponto de deixarmos nossos filhos fazerem exatamente o que a maioria faz? Ou será que andarmos na contramão é um sinal de consciência saudável e percepção diferenciada? Substituir a atenção das crianças a sensacionalismos excessivos por leituras inteligentes e formadoras de opinião não seria um caminho mais apropriado do que mantê-las presas a um pensamento massificado e que tem trazido resultados desastrosos para a humanidade? Por que deixar o mundo lá fora orientar nossos filhos se estamos cansados de saber que os valores estão invertidos e que algo precisa mudar? Portanto, há realmente algo de tão perfeito e valioso a ser aprendido através de programas televisivos ou softwares “educativos”? Não ser conformista é o primeiro passo rumo à conscientização e ao consequente progresso da humanidade.

Na Europa já existem hospitais especializados nos males causados pela televisão. Segundo Buddemeier, pesquisas mostraram que: “Utilizando como critério a frequência de cenas violentas, observa-se que os programas de ficção ocupam o primeiro lugar, sendo que 93% deles contêm cenas de violência. Surpreendentemente, o segundo lugar é ocupado pelos programas infantis: 89% deles contêm violência”. As crianças se acostumam de tal modo ao conteúdo agressivo ao qual são expostas frente às telas, que se tornam necessárias sensações e estímulos cada vez mais fortes para mobilizá-las. Aos poucos, a sensibilidade é perdida.

Em um estudo americano intitulado “Television and violence” realizado por Centerwall, ele afirma que “a violência grave explode frequentemente em momentos de grande estresse, e o mais provável é que, exatamente nessas ocasiões, jovens e adultos recorram às suas mais arraigadas ideias sobre o significado da violência. Grande parte desses conceitos terá advindo da televisão”.

Enfim, é cada vez mais preocupante saber onde estão esses pais enquanto seus filhos requerem atenção e direcionamento. Será que esse apelo ao fator dito educativo dos programas ou essa busca frenética por preenchê-los de atividades e informações, não é muito mais uma fuga de suas próprias responsabilidades? Pois não basta proibir ou ignorar a televisão e outros tipos de diversões fáceis, deve haver uma substituição por algo saudável. Contudo, para oferecer opções positivas para os filhos, esses pais precisam estar disponíveis.



Aí entramos em mais um âmbito repleto de contradições. A sociedade moderna abre mão de todas as suas relações em nome de retorno financeiro. Não basta ter o dinheiro suficiente para o necessário. É preciso ter mais. É claro que não podemos generalizar essa situação para famílias de baixa renda que não tem alternativa a não ser trabalhar noite e dia. Aqui está em pauta pais que acabam gastando grande parte do seu salário terceirizando suas relações, mas não abrem mão dessa mesma quantia para passarem mais tempo com seus filhos. Trabalham excessivamente para pagar a babá, para proporcionar-lhes atividades extras e para chegarem exaustos em casa apenas no momento de desejar boa noite. Há um contrassenso aí, não? Por que a opção de trabalhar menos e ganhar o suficiente para estar com o filho, não é levada em conta? Criança não precisa ter seu tempo entulhado com atividades intelectuais, precisa sim de mais tempo recebendo atenção, carinho e afeto.

Ser mãe é muito diferente de simplesmente ter filho e educá-lo é trabalhoso, delegar essa função o prejudica. É preciso pensar antes! Se os casais planejassem a chegada de um filho, assim como planejam sua festa de casamento, sua viagem de lua de mel, o apartamento onde desejam morar ou até mesmo como planejam a compra do enxoval do bebê nos EUA... Já seria meio caminho andado!

Estamos em um círculo vicioso que requer uma nova consciência. A televisão e a tecnologia em geral não são os únicos vilões da história, mas é importante notar que ambos estão a nosso serviço e não nós a serviço deles, como tem acontecido.  Devem ser utilizados com bom senso e parcimônia. Além disso, o materialismo atingiu tal nível, que o ser humano não consegue diferenciar necessidade de prioridade. E nessa contramão de valores, a educação ganha um presente grego: educadores despreparados.




Devemos cultivar valores internos onde a essência se sobrepõe à aparência, onde o ser prevalece ao ter e onde o real e verdadeiro seja priorizado. Somente assim haverá pais conscientes e com conteúdo passível de imitação para seus filhos. Crianças imitam o tempo todo, há inclusive uma imitação inconsciente presente sem cessar. Se o exemplo que elas têm em casa as alimentarem de maneira superficial, teremos futuros adultos com esse mesmo perfil atuante. É preciso iniciar uma mudança de dentro para fora. Quem quer viver em um mundo melhor, deve ser melhor e dar exemplos melhores. Uma andorinha não faz verão, mas se não existir a primeira para começar, nada nunca irá mudar.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

DIA DO TRABALHO - 1 DE MAIO 2014


POR MÁRIO INGLESI - VOVÔ E POETA CONTEMPORÂNEO
Veja também: DIA DO TRABALHO - 1 DE MAIO 2013


Dr. Ricardo

Mais um dia comemorativo! Desta feita o “Dia 1o de Maio”, Dia do Trabalho, data estabelecida em homenagem aos operários mortos em confronto policial nos EUA por ocasião de uma gigantesca campanha de reivindicação em prol de melhores condições de trabalho, principalmente, dentre elas a fixação da jornada de trabalho em apenas oito horas, e não catorze horas como vinha ocorrendo.

Essa reivindicação, juntamente com todas as demais que regulam as relações individuais e coletivas do trabalho, formou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas em 1943, durante a sua gestão, no Brasil, do chamado Estado Novo.

No intuito de conciliar as relações entre patrões e empregados, já no iniciar do século 20 foram criadas associações sindicais, que, depois se reuniram formando até hoje as Uniões Sindicais, como por exemplo, a CUT e a CGT.

No desenrolar dessas inciativas verificou-se que tais sindicatos estavam à mercê não dos trabalhadores, mas do próprio governo, que lhes arbitrou para seu comando, e administração e manutenção, o Imposto Sindical, até hoje vigente, correspondente à doação anual, pelo trabalhador, do valor de um dia de seu trabalho em favor da manutenção sindical.

Com isso os dirigentes sindicais tomaram a pecha de “pelegos”, ou seja, aqueles elementos que desonram a classe trabalhadora em favor do empresariado em conluio com o governo.

Hoje, mesmo com essa estrutura do toma lá da cá, o movimento sindical, embora ainda vigente, está em declínio vertiginoso, pois os agentes sindicais agora manobram para fazerem parte das diversas vagas do Estado, em campanhas de fortalecimento do status pessoal, ou em seu conluio para obtenção de cargos e favores.

Com isso, o Dia do Trabalho que era data de reivindicações, de demonstração da força do operariado, tornou-se apenas data comemorativa, com grande alarde de oferta de brindes, carros, preferencialmente, e de grandes shows, ou seja, o “pão e circo”, de sempre, para desviar atenções e tensões.

Nesse cenário o trabalhador ficou só, sua situação agora sofre de todas as agruras de seu trabalho, e de sua situação de precariedade trabalhistas, cercado de violência e desmandos: morre “sem querer morrer”, com balas perdidas, quedas de aparelhamentos em obras faraônicas, sem apetrechos de proteção exigidos, desprotegido e desamparado, uma vez que nem as leis trabalhistas, pertinentes às horas de trabalho, e seu descanso diuturno e em dias feriados não mais são respeitados, causando com isso, enfartes súbitos, doenças psicológicas, e doenças provindas de toda sorte de fatores, oriundas da má administração e vigilância do trabalho.

Nessa teia de emaranhado, o trabalhador, já no estertor de sua vitalidade, ainda sobreleva às alturas o seu Deus lhe pague, como relembra Chico Buarque em sua “Construção”:



“Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir

A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir

Deus lhe pague”.



O seu status de trabalho desmoronou. Hoje, as máquinas fazem muito do que ele, como trabalhador/operário fazia. Assim, quando muito tornou-se um prestador de serviços ou um trabalhador avulso, sem carteira assinada, ou ainda trabalhador terceirizado, ou então, em última instância, objeto de trabalho escravo ou quando muito, trabalhador dito, braçal, ou ainda boia-fria, aquele trabalhador que opera em grandes fazendas ou latifúndios, na colheita de produtos.

Ele, como muitos outros, deixou de ser o operário padrão, com direito a considerar-se um profissional emérito, tal como torneiro-mecânico, eletricista, ou outros. E outros mais...

Assim, apesar das conquistas relevantes que, como trabalhador possui, sua real qualificação, é ele abandado, desqualificado, perdido no cipoal das grandes cidades, tendo como maior agravante a precariedade de sua saúde e de todos os demais que o cercam, uma vez que os bons ofícios da saúde pública, comida com nutrientes necessários, descanso e lazer lhe são frequentemente negados ou ausentes de sua vivência diária.

Mesmo porque, hoje, vigora em caráter prioritário, o senso empreendedor - o empreendedorismo de seu agente, ficando todo o resto, em compasso de espera de algum milagre.

Ou, ainda, como enfatiza Domênico de Masi, o que deve viger é o “ócio criativo”, todo o resto – acautele-se – se já não foi, irá para de baixo do tapete. Afinal, lembre-se: os tempos são outros, mas o trabalho, esse ainda o é, com todo o ranço de antanho, e as agruras da modernidade, nas quais a ausência de amparo e a disparidade de tratamento fazem do trabalhador apenas um objeto descartável.

Mas, sempre é tempo de arrazoado, e ver, como o fez o poeta Vinicius de Moraes, em seu poema “O Operário em Construção”:



“Uma esperança sincera

Cresceu no seu coração

E dentro da tarde mansa

Agigantou-se a razão

De um homem pobre e esquecido

Razão porém que fizera

Em operário construído

O operário em construção”.



Dentro dessa barafunda de sentidos e significados de trabalhador e seu dia comemorativo, onde a manipulação se faz presente, de real, só resta mesmo, curtir o feriadão, mas mesmo assim sem condições físicas e financeiras adequadas para tanto, talvez só reste cantarolar, para si mesmo,



“Mas pra que?

Pra que tanto céu?

Pra que tanto mar? Pra que?

De que serve esta onda que quebra?

E o vento da tarde? De que serve a tarde?

Inútil paisagem”.

Tom Jobim: “Inútil Paisagem”



Ou, então, em havendo possibilidade e o deixarem, durma, tranquilamente, sem culpas ou pesadelos.  Mas – pensando bem - como dormir com um barulho desses? Carros de som zoando pelos locais dos eventos, o som altissonante das aparelhagens de som e toda parafernália de instrumentos próprios dos shows, como guitarras, baterias, cuícas pandeiros e muitos outros mais, e com os ruídos da chuva de fogos que naturalmente encerrará o “Dia”.  Realmente, dormir, com um barulho desses é pura utopia, plausível só no reino do Céu, ou quiçá, trancado num iglu, ou enredado nas montanhas geladas do Evereste, ou ainda boiando depois de percorrer as profundezas de um mar aberto.

Arreda! Arreda!  Senhor, Meu Deus: Afastai de nós tanta euforia!!!


Mário Inglesi