sábado, 3 de maio de 2014

SAÚDE – JOGOS ELETRÔNICOS E DESENHOS ANIMADOS


Maria Inez de Almeida Leme Guimarães – Mãe e Psicóloga da Saúde
Desenhos animados e jogos eletrônicos podem ser prejudiciais às crianças?


     Quando perguntamos às crianças o que lhes vem em mente quando o assunto é entretenimento, surgem diversas atividades. Porém, as brincadeiras que exigem movimento tem perdido espaço para as “atividades estáticas”, voltadas a jogos de celular, computador, ipad, iphone e televisão, entre outras.

A grande diferença é que as atividades onde o movimento é priorizado colocam a criança em ação, há troca de energia. Enquanto as estáticas as deixam em uma atitude extremamente passiva, e sua única "atuação" é como espectadora. Buddemeier, especialista na Ciência dos Meios de Comunicação, descreve como é fácil, em entretenimentos desse tipo perceber a cabeça e o restante do corpo imóveis, assim como uma completa inatividade dos sentidos. A visão também é subestimada pois a criança enxerga tudo sempre à mesma distância e o mecanismo sensível da visão não recebe estímulo, se degenerando e atrofiando pouco a pouco.  É interessante notar que técnicas de fixação do olhar são utilizadas pelo tratamento através da hipnose, ou seja, nesse estado a consciência assume papel secundário, deixando o indivíduo extremamente suscetível.  Apenas o ouvido funciona, e mesmo assim parcialmente, devido ao som localizado e à distorção sonora. As crianças acabam ficando desorientadas e se acostumam com imagens prontas, inibindo seu potencial criativo e as fantasias tão imprescindíveis para futuramente, saberem lidar com novas situações.



Crianças e mídia: Buddemeier alerta para o papel dos pais



Todo passatempo pronto, enfraquece a vontade e o incentivo. A vontade é reprimida, pois tudo acontece sem a contribuição da criança. No caso da televisão, esta já pensou, já escolheu e já disse. Mais tarde, seus pais ou seus futuros chefes se queixarão de jovens estagnados e sem iniciativa. E a origem está aí, nos primeiros anos de vida.


Alguns pais se contentam com o fato do jogo, programa ou desenho ao qual a criança está exposta ser “educativo”. Mas será que eles sabem o que de fato educa? Sabem que para uma criança realmente aprender e para algo ganhar sentido, é preciso a criação de um vínculo afetivo e que vínculos só são criados através de relacionamentos reais e não virtuais?  O que é aprendido virtualmente não pode ser transposto para a realidade. Além disso, que pais são esses que delegam a um aparelho eletrônico, a tamanha responsabilidade que é educar um filho? O que é realmente educativo? Uma criança ouvir uma canção vinda da própria mãe, promovendo uma troca de emoções vívidas, onde a atenção é dirigida de maneira singular e única, ou ouvir um bicho animado pulando e cantando através de um aparelho frio e distante de maneira mecanizada e voltado para a grande massa? Quem se habitua a ouvir sons emitidos por aparelhos eletrônicos, torna-se insensível à voz humana, aos suaves timbres de um instrumento musical ou aos delicados sons da natureza. Desta forma, há um reforço do isolamento e o contato interpessoal deixa de ser exercitado.



Então aparecem frases do tipo: “Mas meu filho adora ouvir a fulana colorida cantando, ele fica vidrado, nem pisca!”. No início do texto encontra-se a explicação para isso. Essa postura fixa nada tem de positiva, pelo contrário, denota quão prejudicial é tal imagem.  E é claro que ele gosta! Que criança não gosta de uma canção? Mas será que esses pais já se deram conta do quanto seus filhos também adoram ouvi-los cantar ou lhes contar uma história? A diferença é que nestes casos, seus olhos brilham. Essas experiências são insubstituíveis! A criança precisa de vivências concretas, somente estas lhes fornecerão bases profundas para um desenvolvimento sadio. Se lhe oferecerem apenas conteúdos desprovidos de reais sentimentos, só lhe restarão emoções superficiais a serem expressas. E é este um dos grandes males dos jovens e adultos contemporâneos.

Uma crítica comum ao ponto de vista que evita o contato excessivo com conteúdos dessa espécie é se a criança não vai ficar alienada do mundo. A réplica se caracteriza por vários fatores: o mundo está formando seres humanos tão exemplares assim, a ponto de deixarmos nossos filhos fazerem exatamente o que a maioria faz? Ou será que andarmos na contramão é um sinal de consciência saudável e percepção diferenciada? Substituir a atenção das crianças a sensacionalismos excessivos por leituras inteligentes e formadoras de opinião não seria um caminho mais apropriado do que mantê-las presas a um pensamento massificado e que tem trazido resultados desastrosos para a humanidade? Por que deixar o mundo lá fora orientar nossos filhos se estamos cansados de saber que os valores estão invertidos e que algo precisa mudar? Portanto, há realmente algo de tão perfeito e valioso a ser aprendido através de programas televisivos ou softwares “educativos”? Não ser conformista é o primeiro passo rumo à conscientização e ao consequente progresso da humanidade.

Na Europa já existem hospitais especializados nos males causados pela televisão. Segundo Buddemeier, pesquisas mostraram que: “Utilizando como critério a frequência de cenas violentas, observa-se que os programas de ficção ocupam o primeiro lugar, sendo que 93% deles contêm cenas de violência. Surpreendentemente, o segundo lugar é ocupado pelos programas infantis: 89% deles contêm violência”. As crianças se acostumam de tal modo ao conteúdo agressivo ao qual são expostas frente às telas, que se tornam necessárias sensações e estímulos cada vez mais fortes para mobilizá-las. Aos poucos, a sensibilidade é perdida.

Em um estudo americano intitulado “Television and violence” realizado por Centerwall, ele afirma que “a violência grave explode frequentemente em momentos de grande estresse, e o mais provável é que, exatamente nessas ocasiões, jovens e adultos recorram às suas mais arraigadas ideias sobre o significado da violência. Grande parte desses conceitos terá advindo da televisão”.

Enfim, é cada vez mais preocupante saber onde estão esses pais enquanto seus filhos requerem atenção e direcionamento. Será que esse apelo ao fator dito educativo dos programas ou essa busca frenética por preenchê-los de atividades e informações, não é muito mais uma fuga de suas próprias responsabilidades? Pois não basta proibir ou ignorar a televisão e outros tipos de diversões fáceis, deve haver uma substituição por algo saudável. Contudo, para oferecer opções positivas para os filhos, esses pais precisam estar disponíveis.



Aí entramos em mais um âmbito repleto de contradições. A sociedade moderna abre mão de todas as suas relações em nome de retorno financeiro. Não basta ter o dinheiro suficiente para o necessário. É preciso ter mais. É claro que não podemos generalizar essa situação para famílias de baixa renda que não tem alternativa a não ser trabalhar noite e dia. Aqui está em pauta pais que acabam gastando grande parte do seu salário terceirizando suas relações, mas não abrem mão dessa mesma quantia para passarem mais tempo com seus filhos. Trabalham excessivamente para pagar a babá, para proporcionar-lhes atividades extras e para chegarem exaustos em casa apenas no momento de desejar boa noite. Há um contrassenso aí, não? Por que a opção de trabalhar menos e ganhar o suficiente para estar com o filho, não é levada em conta? Criança não precisa ter seu tempo entulhado com atividades intelectuais, precisa sim de mais tempo recebendo atenção, carinho e afeto.

Ser mãe é muito diferente de simplesmente ter filho e educá-lo é trabalhoso, delegar essa função o prejudica. É preciso pensar antes! Se os casais planejassem a chegada de um filho, assim como planejam sua festa de casamento, sua viagem de lua de mel, o apartamento onde desejam morar ou até mesmo como planejam a compra do enxoval do bebê nos EUA... Já seria meio caminho andado!

Estamos em um círculo vicioso que requer uma nova consciência. A televisão e a tecnologia em geral não são os únicos vilões da história, mas é importante notar que ambos estão a nosso serviço e não nós a serviço deles, como tem acontecido.  Devem ser utilizados com bom senso e parcimônia. Além disso, o materialismo atingiu tal nível, que o ser humano não consegue diferenciar necessidade de prioridade. E nessa contramão de valores, a educação ganha um presente grego: educadores despreparados.




Devemos cultivar valores internos onde a essência se sobrepõe à aparência, onde o ser prevalece ao ter e onde o real e verdadeiro seja priorizado. Somente assim haverá pais conscientes e com conteúdo passível de imitação para seus filhos. Crianças imitam o tempo todo, há inclusive uma imitação inconsciente presente sem cessar. Se o exemplo que elas têm em casa as alimentarem de maneira superficial, teremos futuros adultos com esse mesmo perfil atuante. É preciso iniciar uma mudança de dentro para fora. Quem quer viver em um mundo melhor, deve ser melhor e dar exemplos melhores. Uma andorinha não faz verão, mas se não existir a primeira para começar, nada nunca irá mudar.

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