quinta-feira, 1 de maio de 2014

DIA DO TRABALHO - 1 DE MAIO 2014


POR MÁRIO INGLESI - VOVÔ E POETA CONTEMPORÂNEO
Veja também: DIA DO TRABALHO - 1 DE MAIO 2013


Dr. Ricardo

Mais um dia comemorativo! Desta feita o “Dia 1o de Maio”, Dia do Trabalho, data estabelecida em homenagem aos operários mortos em confronto policial nos EUA por ocasião de uma gigantesca campanha de reivindicação em prol de melhores condições de trabalho, principalmente, dentre elas a fixação da jornada de trabalho em apenas oito horas, e não catorze horas como vinha ocorrendo.

Essa reivindicação, juntamente com todas as demais que regulam as relações individuais e coletivas do trabalho, formou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas em 1943, durante a sua gestão, no Brasil, do chamado Estado Novo.

No intuito de conciliar as relações entre patrões e empregados, já no iniciar do século 20 foram criadas associações sindicais, que, depois se reuniram formando até hoje as Uniões Sindicais, como por exemplo, a CUT e a CGT.

No desenrolar dessas inciativas verificou-se que tais sindicatos estavam à mercê não dos trabalhadores, mas do próprio governo, que lhes arbitrou para seu comando, e administração e manutenção, o Imposto Sindical, até hoje vigente, correspondente à doação anual, pelo trabalhador, do valor de um dia de seu trabalho em favor da manutenção sindical.

Com isso os dirigentes sindicais tomaram a pecha de “pelegos”, ou seja, aqueles elementos que desonram a classe trabalhadora em favor do empresariado em conluio com o governo.

Hoje, mesmo com essa estrutura do toma lá da cá, o movimento sindical, embora ainda vigente, está em declínio vertiginoso, pois os agentes sindicais agora manobram para fazerem parte das diversas vagas do Estado, em campanhas de fortalecimento do status pessoal, ou em seu conluio para obtenção de cargos e favores.

Com isso, o Dia do Trabalho que era data de reivindicações, de demonstração da força do operariado, tornou-se apenas data comemorativa, com grande alarde de oferta de brindes, carros, preferencialmente, e de grandes shows, ou seja, o “pão e circo”, de sempre, para desviar atenções e tensões.

Nesse cenário o trabalhador ficou só, sua situação agora sofre de todas as agruras de seu trabalho, e de sua situação de precariedade trabalhistas, cercado de violência e desmandos: morre “sem querer morrer”, com balas perdidas, quedas de aparelhamentos em obras faraônicas, sem apetrechos de proteção exigidos, desprotegido e desamparado, uma vez que nem as leis trabalhistas, pertinentes às horas de trabalho, e seu descanso diuturno e em dias feriados não mais são respeitados, causando com isso, enfartes súbitos, doenças psicológicas, e doenças provindas de toda sorte de fatores, oriundas da má administração e vigilância do trabalho.

Nessa teia de emaranhado, o trabalhador, já no estertor de sua vitalidade, ainda sobreleva às alturas o seu Deus lhe pague, como relembra Chico Buarque em sua “Construção”:



“Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir

A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir

Deus lhe pague”.



O seu status de trabalho desmoronou. Hoje, as máquinas fazem muito do que ele, como trabalhador/operário fazia. Assim, quando muito tornou-se um prestador de serviços ou um trabalhador avulso, sem carteira assinada, ou ainda trabalhador terceirizado, ou então, em última instância, objeto de trabalho escravo ou quando muito, trabalhador dito, braçal, ou ainda boia-fria, aquele trabalhador que opera em grandes fazendas ou latifúndios, na colheita de produtos.

Ele, como muitos outros, deixou de ser o operário padrão, com direito a considerar-se um profissional emérito, tal como torneiro-mecânico, eletricista, ou outros. E outros mais...

Assim, apesar das conquistas relevantes que, como trabalhador possui, sua real qualificação, é ele abandado, desqualificado, perdido no cipoal das grandes cidades, tendo como maior agravante a precariedade de sua saúde e de todos os demais que o cercam, uma vez que os bons ofícios da saúde pública, comida com nutrientes necessários, descanso e lazer lhe são frequentemente negados ou ausentes de sua vivência diária.

Mesmo porque, hoje, vigora em caráter prioritário, o senso empreendedor - o empreendedorismo de seu agente, ficando todo o resto, em compasso de espera de algum milagre.

Ou, ainda, como enfatiza Domênico de Masi, o que deve viger é o “ócio criativo”, todo o resto – acautele-se – se já não foi, irá para de baixo do tapete. Afinal, lembre-se: os tempos são outros, mas o trabalho, esse ainda o é, com todo o ranço de antanho, e as agruras da modernidade, nas quais a ausência de amparo e a disparidade de tratamento fazem do trabalhador apenas um objeto descartável.

Mas, sempre é tempo de arrazoado, e ver, como o fez o poeta Vinicius de Moraes, em seu poema “O Operário em Construção”:



“Uma esperança sincera

Cresceu no seu coração

E dentro da tarde mansa

Agigantou-se a razão

De um homem pobre e esquecido

Razão porém que fizera

Em operário construído

O operário em construção”.



Dentro dessa barafunda de sentidos e significados de trabalhador e seu dia comemorativo, onde a manipulação se faz presente, de real, só resta mesmo, curtir o feriadão, mas mesmo assim sem condições físicas e financeiras adequadas para tanto, talvez só reste cantarolar, para si mesmo,



“Mas pra que?

Pra que tanto céu?

Pra que tanto mar? Pra que?

De que serve esta onda que quebra?

E o vento da tarde? De que serve a tarde?

Inútil paisagem”.

Tom Jobim: “Inútil Paisagem”



Ou, então, em havendo possibilidade e o deixarem, durma, tranquilamente, sem culpas ou pesadelos.  Mas – pensando bem - como dormir com um barulho desses? Carros de som zoando pelos locais dos eventos, o som altissonante das aparelhagens de som e toda parafernália de instrumentos próprios dos shows, como guitarras, baterias, cuícas pandeiros e muitos outros mais, e com os ruídos da chuva de fogos que naturalmente encerrará o “Dia”.  Realmente, dormir, com um barulho desses é pura utopia, plausível só no reino do Céu, ou quiçá, trancado num iglu, ou enredado nas montanhas geladas do Evereste, ou ainda boiando depois de percorrer as profundezas de um mar aberto.

Arreda! Arreda!  Senhor, Meu Deus: Afastai de nós tanta euforia!!!


Mário Inglesi

2 comentários:

  1. Elisabeth Ratzersdorf7 de maio de 2014 às 23:54

    Colei seu texto no grupo dos meus colegas de trabalho no FB. Para verem que essa é a realidade de toda nossa geração, em qualquer parte do mundo desenvolvido. O que não me tira a esperança de garantir junto aos patrões os pontos que julgamos serem vitais para nós. através de muita conversa e muitas reuniões.

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