quinta-feira, 1 de maio de 2014

SOBRE ECLIPSES E ELIPSES


A internet, curiosamente, ocupa cada vez mais o espaço da escola antiga. Me refiro àquelas instituições que depositavam informações sobre os estudantes como se ensinassem algo, quando apenas os fazia memorizar. Memorizar é a palavra, pois decorar é outro processo. Memorizar é simplesmente articular a estrutura neural sináptica para criar conexões que quando revisitadas devolvem um conteúdo; já decorar é outra coisa, implica sentido e tem todo um sistema límbico por trás!
Decorar, no inglês “know by heart”, no francês “par coer” e assim por diante, diz respeito a interiorizar um conteúdo que implica em sentido e por isso é guardado no coração, saber de cor é saber de coração. A educação bancária, denunciada pelo sábio moderno Paulo Freire, hoje não é mais considerada educação senão domesticação ou doutrinação, não emancipa senão amanceba. A educação de vanguarda emancipa, faz pensar, torna consciente, gera saúde, visto gerar sentido existencial, visto alcançar o coração. Conforme Exupéry:

“Eis o meu segredo, só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”

Cuidemos então em buscar um coração naquilo que nos propomos conhecer, pois conhecimento é – co-nascimento – nascer para o novo junto. Tudo o que é vivo tem coração e por isso saber decor é saber sobre a vida, que pulsa! Quando a lembrança do conhecimento não é agradável, quando a lembrança do que foi aprendido causa mal estar, certamente seu armazenamento não ocorreu no coração, senão algures... Tudo aquilo que não é conhecimento de coração é conhecimento do tipo “eclipse”, é invisível aos olhos e, portanto carece de luz.
      Bem, seja qual for o idioma escrito, a própria rede hoje se encarrega da tradução de conteúdos para a maioria das línguas; o obstáculo dos idiomas é uma forma de eclipse cada vez menos comum. Veja você este navegador “google chrome”, por exemplo, que sempre ao entrar em página de outro idioma, nos oferece a opção instantânea: “deseja traduzir este conteúdo?”. Quanto mais poética a escrita menos fidedigna a tradução, por outro lado, quanto mais técnica e, portanto “mais morta” a proposta, melhor a tradução. Enfim, benesses de uma humanidade que a cada dia percebe que a colaboração e não a competição e muito menos a exclusividade senão a inclusividade é o caminho a ser tomado. A dificuldade do humano em alcançar um idioma falado que permita a compreensão poética universal é diretamente proporcional ao desenvolvimento de sua capacidade de amar. Este obstáculo entre línguas, que a música dissolve com harmonia, amor em forma de som, é também uma forma de eclipsar o que já se sabe. Escute enquanto lê...

Villa Lobos - Bachianas Brasileiras nº2 - Completa
I. Prelúdio - Canto do Capadócio
II. Ária - Canto da nossa Terra
III. Dança - Lembrança do Sertão
IV. Tocata - Trenzinho do Caipira

       Enfim, enquanto o eclipse é fenômeno celeste, a elipse é terrestre e pode ser geométrica (segunda instância do quadrivium) ou gramatical (primeira instância do trivium); no primeiro caso visível no segundo presumível, está lá, mas não se vê “com os olhos”, como fosse um eclipse gramatical.



Grosso modo, os eclipses celestes são fenômenos bem conhecidos e descritos pela ciência convencional. Trata-se do alinhamento de órbitas de sol e lua em relação à terra.


Pela ilustração é fácil notar que a área da terra em que um eclipse lunar pode ser observado é bem maior que aquela correspondente à de um eclipse solar. Os eclipses podem ser penumbrais, parciais ou totais. No caso da lua, isto depende dela estar em região de sombra (umbra) ou penumbra (figura abaixo); já no caso do sol dependerá da região de observação na terra estar em região de sombra (umbra) ou penumbra – na região de sombra (umbra) o eclipse é total, nas regiões de penumbra penumbrais e na transição destas os eclipses são parciais (vide figuras abaixo).



A lua orbita a terra com um eixo de inclinação que varia de aproximadamente cinco graus em relação à eclíptica. Os pontos da órbita lunar, que prolongados coincidem com a órbita aparente do sol (eclíptica) determinam um eixo conhecido como eixo dos nodos lunares. É a proximidade recíproca entre este eixo e os luminares sol e lua que ocasiona os eclipses. O nodo lunar norte ou ascendente (cabeça do dragão - rahu) marca a passagem da lua do hemisfério sul para o hemisfério norte celeste e o nodo lunar sul ou descendente (cauda do dragão - ketu) o movimento contrário.
          


Outra forma de representar a imagem celeste é projetá-la bidimensionalmente sobre um mapa, conhecido como mapa astral. Neste diagrama o eixo dos nodos lunares é representado simbolicamente conforme abaixo.


Os seguintes mapas ilustram os eclipses de 15 e 29 de abril de 2014; observe-se a proximidade do sol e lua com o eixo nodal, o que caracteriza graficamente em ambos os casos os eclipses respectivamente lunar e solar.


O número de eclipses que podem ocorrer durante o ano oscila entre 2 e 6; geralmente ocorrem 4, dois eclipses solares e dois lunares, sendo fácil notar que o tempo que decorre entre o eclipse lunar e solar é de 14 dias e entre eclipses de mesmo nome 6 meses, conforme pode ser intuído a partir das figuras acima. O aficionado pode encontrar informações adicionais nos sites da NASA e texto abaixo entre outros:






Existe o corpo humano assim como existe o corpo celeste. Na medicina o corpo humano é estudado em anatomia e fisiologia, forma e função. A astronomia é o correlato da anatomia humana aplicada ao céu, variações de “nomias”, uma astro e outra ana, uma fora e outra dentro; enquanto a astrologia tem como correlato a fisiologia, variações de “logias”, uma astro e outra fisio, uma fora e outra dentro. Astro e ostra são anagramas e denotam além de seu aspecto substantivo, aspecto adjetivo passivo de ser aplicado pejorativamente ou não a certas pessoas; assim, alguém pode ser um astro das multidões enquanto outrem uma ostra em suas compreensões. Experimente observar de forma eclíptica e amorosa...
Enquanto a anatomia pode ser acessada de forma direta, pois é estrutura, a fisiologia não, pois é funcional. A astrologia é correlata da fisiologia em medicina e malgrado a desinformação a respeito da mesma, merece atenção caridosa por parte do estudante humano.
O eclipse, enquanto mudança espacial na dinâmica da luz, diz respeito a um movimento de luz, que poderia estar lá e que momentaneamente deixa de estar. Simbolicamente, tudo o que antes seria iluminado por aquela luz deixa de sê-lo. Tudo o que deixa de receber a luz de uma fonte externa passa a depender de "luz interna". O efeito do eclipse do ponto de vista simbólico diz respeito justamente a esta dinâmica. Se o ponto ou o ser em questão sob efeito do eclipse não dispõem de "luz interior", passa por um período temporário de sombra ou penumbra. Este período de vida pode se manifestar como mais trabalhoso quanto às questões pessoais relacionadas às casas terrestres do mapa (CASAS ASTROLÓGICAS).
Vale lembrar que a lua apresenta fases e que durante a lua nova (novilúnio) não há luz lunar projetada sobre a terra, como se fosse um eclipse lunar. Os estudiosos ocultistas sugerem que não se atribua tal efeito à luz lunar como tal, mas a outro tipo de força, mais potente nestas épocas e que provém do sol e da lua simultaneamente, e que evidencia uma força vital, semelhante à emitida pelos corpos vivos, sugerindo finalmente que sol, terra e lua são corpos vivos, como nossos próprios corpos; trata-se de forças que pertencem ao que os ocultistas denominam de éter de vida.
Existe um conceito conhecido como recapitulação solar e lunar. Trata-se do período de 18 a 24 meses seguidos ao eclipse após os quais, no mesmo grau celeste da ocorrência do eclipse é observada a ocorrência de uma lua cheia. Assim, a baixa luminosidade, vivenciada no eclipse e seus aspectos, cumpre simbolicamente seu efeito findo este período. Durante este tempo de recapitulação sugere-se que a experiência dos meses pregressos seja reavaliada no sentido de se destilar um valor construtivo do ponto de vista anímico.
Encontram-se duas explicações quando se procura a respeito do significado da lua de sangue: uma se baseia na cor vermelha decorrente do aspecto da lua quando se encontra inteira no cone de sombra; outra diz respeito ao fato de ser um eclipse lunar que cai em dia de feriados judaicos.




           Sobre estes feriados:






       Que os reservatórios não colapsem, que as informações não sejam eclipsadas e que São Paulo não vire sertão. E se virar, a gente dança a "Lembrança do sertão", pega um "Trenzinho Caipira" e canta o "O canto da nossa terra" enquanto se eclipsa daqui pra Capadócia. Salve Villa Lobos!

5 comentários:

  1. Nunca imaginei que os mundos fossem tão próximos, absolutamente esclarecedor e intrigante. Ps.A trilha recomendada vem bem a calhar com o texto, para sua reflexão posterior

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    1. Caro Victor,

      A palavra mundo hoje é apenas conhecida pela maioria das pessoas como substantivo. Entretanto, ela é também adjetivo pouco sabido na atualidade. Como adjetivo uma pessoa pode ser munda, o que quer dizer pura. Daí a questão do imundo, este sim adjetivo que as pessoas reconhecem como sujo ou impuro.

      Creio ser esta a questão, a proximidade dos mundos, ou mesmo a proximidade dos puros.

      De fato, conforme escrito, lembro de um sermão proferido no alto da montanha:

      "Bem aventurados os puros (mundos) de coração, pois eles verão a Deus."

      Um abraço meu amigo

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  2. Ricardo,
    Obrigada pela partilha de pensamento e música.
    Ana

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  3. Olá Dr. Ricardo,
    É sempre muito bom receber seus textos e reflexões...
    Obrigada querido!
    Simoni

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  4. Ricardo, então bem aventurados os mundos , antes que os imundos prevaleçam de vez e para sempre.

    Grato. Grande abraço.

    Paulo

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