domingo, 29 de abril de 2012

MÁSCARAS E MASCARADOS V - SAÚDE SOCIAL

POR MÁRIO INGLESI




Contrariamente, é de se destacar, embora de menor importância, mas de estragos sociais sem número, as máscaras da manipulação ou maquiagem: a propaganda, a publicidade, a estatística, a economia e a política e, de plantio mais recente, a do meio ambiente e da sustentabilidade.  
Afora todas estas, e outras escondidas sob os mais diferentes disfarces, cataloga-se apenas para efeito de arrolamento, as máscaras usadas por profissionais de diversas áreas, com caráter apenas preventivo, não estando assim, ligadas a qualquer tipo de sentimento ou da busca por esconder a identificação através de seu uso obrigatório, fortuito ou ocasional.
Precisa-se, entretanto, salientar que a maior e mais profunda máscara humana, é a da arte, celebrada na literatura, na poesia, nas artes cênicas, cinematográficas, nas artes visuais, na fotografia e nas artes gráficas e muitas outras, e outras mais, com sua criatividade cada vez mais crescente e ilimitada.
É que nessa máscara o ser humano se multiplica em mil e outras várias faces e se vê, não mais num espelho que o engana em sua reprodução inexata, mas na sua inteireza histórico cultural mais abrangente e de profunda atemporalidade, sob aspectos os mais variados. É nela que ele se reflete para entender e compreender melhor a si e ao mundo que habita, em sua totalidade, em sua inteireza, sem interferência de quaisquer disfarces ou adereços que lhe ocultem ou transformem sua real face e identidade histórico-cultural.
Exemplo maior disso é a obra cinematográfica de Bergman ou a literária de Dostoievski. Tais obras entrelaçam máscaras de tal profundidade, que nos transporta a um mundo trágico e profundo, inimaginado, onde vicejam a máscara de doenças, com suas faces maceradas, olhos encovados, suores constantes; a máscara da sexualidade reprimida, com gritos e sussurros enfeixados num sufocante espasmo de grandeza exuberante. Confluem ainda com estas, as máscaras do medo, da solidão, da culpa, em espasmódicos esgares sufocantes que a todos enreda, em capítulos literariamente construídos ou filmados.    
Em contrapartida, há máscaras menos densas, porém inidôneas, maléficas impingidas por terceiros a outrem, no intuído de demarcar-lhe uma característica ou defeito ou então para lhe impingir um caráter preestabelecido preconceituosamente.
Tais máscaras são, na maioria das vezes, associadas a animais ou parte deles ou de aves, ou até a frutas.
Assim como: lá vai o nariz de “tucano”, olha lá o orelha de “elefante”, veja o “papagaio” falador, corra, olha aquele com seu passo de “elefantinho, ou ainda, olha aquele “manga chupada”, e aquele ”cabeça” de ovo, e aquela outra “uva” docinha, ou aquele nariz de “palhaço”, etc. e tal.
No afã de dotar a outrem (homem ou mulher) uma característica, demarcadamente ofensiva, dizem: aquela “vaca”, aquele “veado”, aquele ”macaco” aquela víbora, aquela “anta”, aquele “lesma”, aquele cabeça de “bagre”, aquele “asno” aquela “burra” e por aí vai o desenrolar sem fim de todo um imenso catálogo do reino animal.
Mas, é preciso convir que, nem todas as máscaras usadas, elaboradas, ou utilizadas pelo ser humano referem-se apenas à dor, ao sofrimento, às agruras ou mazelas infligidas pela vida, como se o viver fosse um vale de lágrimas.
Não! Ainda que pontuais, fortuitas e de breve duração, as máscaras compreendem também casos extremos de alegria, felicidade, e de bom viver. São exemplos disso, o nosso primeiro caminhar ao alvorecer de um novo dia, ou do seu anoitecer, a visão da natureza plena, com sua beleza que viceja em cada coisa, em cada recanto, com seus mistérios e suas sonoridades, a sexualidade em sua completude, o primeiro emprego, os namoros iniciais, as seduções, a paixão e, enfim, o amor, os primeiros estudos e sua continuidade, bem como, de modo cada vez mais abrangente, o desabrochar do mundo, sua complexidade, suas alternâncias, sua evolução constante e desassombrada, através das ciências e, com o auxílio da transcendência e da consciência, do estar no mundo, sempre compartilhando.
Nesse particular, a máscara extremada de felicidade compreende o supra-sumo do ato de comparar-se ao Criador, através do ato da criação. Criar outros seres em sua completude humana, isto é, com seus feitos, acertos ou defeitos, interativamente, numa epopéia de infinita grandeza. Só a Arte, leva a essa aventura de importância tamanha, que sobreleva também o homem à categoria de Criador, refazendo a equação em seu modo de apresentação, como: Criador-Criatura-Criador. Deste modo, aqui, em nosso Planeta Terra, acontece, doravante, sem subterfúgios, sem intermédios fugazes, a felicidade da “Eternidade”, através da criação humana. 
Com todo esse emaranhado de fios em tramas sempre díspares de sentimentos, nós, inculcamos em nossa face máscaras de uma diversidade e universalidade sem fim, com arremedos ainda de diversas civilizações como a indígena, a africana, a européia, e de todas as demais que aportaram em nossa terra, de regiões outras como a asiática, a sul-americana. Com isso, as máscaras foram tomando feições diferenciais com traços de várias tonalidades de cores e de sentimentos

 
outros, compreendendo-se entre eles o niilismo, a ironia, o prosaísmo, o sincretismo religioso, a dor de cotovelo, o baixo-astral, mas também o idealismo, a saudade, a musicalidade sempre implícita em tudo e em todos; a rítmica profunda e exultante procriada em instrumentais das mais variadas feituras e procedências; a profusão de sentimentos dúbios, convivendo em um só tempo e espaço, como a tristeza e a alegria, a credulidade quase infantil e, a incredulidade, a felicidade, buscada em caráter duradouro, e a infelicidade, a solidariedade, e o egoísmo, as utopias emergenciais, os sonhos supérfluos, o sentimento insano de ter sempre mais, ainda que a duras penas, de aparentar o que não é ou não pode ser, em contrapartida a despojamentos sem limites. A par disso, o ufanismo patriótico, a bizarrice, o brega, a riqueza da fluência sentimental e fantasiosa da linguagem popular, vazada por termos provindos ou originários dos mais variados lugares de origem, mas de concretude e significância ilimitadas e inimaginadas no país, a exemplo do que produziram Juó Bananieri e Adoniram Barbosa, em consonância com um linguajar apurado, como o de Machado de Assis e criativo e não menos trabalhado, de Guimarães Rosa, num movimento de “antropofagia” como predispôs Oswald de Andrade em seu célebre “manifesto”, que abarcava as mais diversas atividades artísticas sem exclusão de quaisquer influências ou imitações de obras produzidas externamente, em países, os mais diversos.
Continua...
 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

DOIS POEMAS - ARQUITETURA DA SAÚDE SOCIAL





EUGÊNIO BUCCI (Folha de SP - Ilustríssima 21/08/2011)

Justiça
 
O que a lei
não redime
é o crime
com defeito.

Se bem-feito

ou bonito,
o delito
talvez rime
com direito.

Se perfeito,

ora, o crime
é a lei.

 
Rampa

Do alto desta encosta em que cederam
a fibra dos meus olhos, o meu claro
silêncio vertebrado de palavras
sólidas e também a minha infância;

em que, sobre joelhos eucarísticos,

testemunhei o fluxo da mentira
enquanto o vinho azul me entorpecia
aos poucos com o medo de perdê-lo,

não me despeço. Parto. Vou embora.

Ao cesto de papel deixo a gravata
descolorida pelo sol de cal.

Porões ainda existem e governam,

mas hoje estendem notas de dinheiro
em vez de músculos no pau-de-arara.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

MÁSCARAS E MASCARADOS IV - SAÚDE SOCIAL

POR MÁRIO INGLESI

Continuação de:




A máscara está presente nos mais variados momentos da vida humana, refletindo anseios, angústias, alegrias, tristezas, sucesso, vitória, não só de forma pessoal como grupal.
Eis que, num gol marcado, desde Garrincha a Pelé ou de Ronaldo à Neymar, transcende ao puro sentimento de alegria para uma máscara de felicidade sem igual, acompanhada de uma mescla de vitória em sua tessitura.  Tal ocorrência transborda para toda a torcida, transformando-a numa máscara gigantesca, abrangendo todos os torcedores.
Assim como também, de modo contrário, a máscara bordada


com os fios de sentimentos de tristeza, aflição, angústia, por ocasião de uma tragédia como os deslizamentos de terra e desmoronamentos de casas advindos por ocasião da imensa quantidade de chuva que se abate sobre regiões do país, ou, outras catástrofes, como incêndios devastadores em áreas urbanas ou não, trazem à tona as máscaras de sulcos profundos da impotência e desalento, inicialmente de caráter pessoal, mas logo estendendo-se a uma multidão de desvalidos ou, solidariamente de compadecidos de toda ordem e crença, que procuram ajudar.
Por outro lado, de forma também marcante, hás as máscaras singulares e enganosas da felicidade eterna, no casamento, por exemplo, do poderio majestoso, do sucesso infinito ou do status duradouro, bem como da beleza estética permanente, ou da eterna juventude, ou ainda da imortalidade, numa mescla de ilusões e conclusões falsas com ideais e expectativas irrealizáveis que só fazem frutificar novas máscaras inspiradoras, sem dúvida, de maiores cuidados e atenção, na maior parte das vezes.
Contrariamente, existem as máscaras que se alongam ou se perpetuam no tempo, por falta de providências para minorá-la ou retirá-la definitivamente: são as máscaras produzidas pela fome, tornando seus portadores, em todo mundo, figuras apáticas, de olhares profundos e melancólicos; de faces encovadas, ou, ainda, como no caso do ataque ao Word Trade Center, as máscaras do terror, cuja evolução vai da surpresa, do espanto, da iniquidade, da indignação à dor profunda, à raiva e ao ódio sem limites, que se transforma em preconceitos de toda ordem.
Com relação às máscaras dos famélicos, é de todo conveniente lembrar as palavras de José Saramago, proferidas por ocasião do Discurso de recebimento do Nobel na Academia Sueca:

“A mesma esquizofrênica humanidade, capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição de suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.” (Revista Língua, pág. 66, abril 2009)

Realmente chegar ao nosso semelhante é atitude bastante inusitada, principalmente quando ele se encontra no fundo do poço e, sua máscara afigura-se um misto de fome e miséria que o encobre por todos os poros, com andrajos, sujeira, mal cheiro, e miasma, quando a pele totalmente encardida pela exposição ao sol, às intempéries da natureza e pelo álcool que o faz suportar e esquecer por breve instante a situação em que se encontra, ou pelas drogas que passa a consumir no afã de abandonar o corpo e alçar outros patamares que não o do chão em que pisa com seus pés já calcinados.
Tal máscara nos faz, num sufoco, bradar, ainda que num grito parado no ar:
 “Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus…
Ó mar! por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…”
(Castro Alves) Poesia Completa, ed. Nova Aguilar, 1960

No rol das máscaras funestas e de uma pujança totalizante, é preciso arrolar em primeiríssimo lugar, a máscara do “Mártir do Calvário”, Jesus Cristo. Em sua via crucis à crucificação, cujos enigmas, a partir do Santo Sudário, até hoje são objeto de estudos científicos, no intuito de decifrá-los, em seus mais complexos significados.
Esse interesse talvez advenha do fato de a máscara ter em sua trama fios constitutivos por sentimentos díspares e atitudes que se intercruzam em uma mortalha mista de aspectos de horror sufocante e, ao mesmo tempo, de enternecimento público.
De fato, constitui-se ela de sentimentos múltiplos: humilhação, cansaço, flagelo, dores lancinantes, humildade, bondade, abnegação, benevolência, amor ao próximo, exposição involuntária, revolta (c/ os vendilhões no templo), abandono, solidão (Cristo); traição (Judas); injustiça, passividade, não comprometimento, - o “lavar as mãos” arrogância, (Pilatos); cumprimento do dever, de ordens incongruentes, frieza, (soldados); unanimidade, pensamento único, inconsciência, cumplicidade (povo); sofrimento, dor, tristeza profunda, lágrimas, muitas e dolorosas, (Maria, mãe de Jesus).
Tais sentimentos, só sublimados pela “ressurreição” de Cristo, ainda hoje são convites à reflexão e temas de filmes, teatro, romances, poesia, música, bem como também sentimentos constitutivos de muitos outros abnegados “mártires” que coexistem diariamente, em nosso dia a dia por força de posições políticas, liberdade de expressão, preconceitos, revoltas, batalhas ingentes e em guerras que se espalham por todo o planeta, por questões políticas, econômicas, ou de meros interesses financeiros.
Continua... 

terça-feira, 10 de abril de 2012

ASPECTOS DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR


Por: José Geraldo M. Meireles – Psicólogo da Saúde


No contexto convulsionado em que estamos inseridos, discute-se a abordagem pedagógica tradicional e construtivista. Ao compará-las, apontam-se vantagens e desvantagens.
A tradicional destaca-se, recentemente na mídia. Rigor, competição, disciplina estão sendo muito valorizados. Contudo, vem gerando crianças e adolescentes frustrados, doentes, infelizes. Tudo isso aponta para o ponto fraco da escola forte.
Sei que a temática é complexa. Importa resgatar, fundamentalmente, valores, limites e respeitar a singularidade dos alunos. In S. Tomás de Aquino – filósofo – o agir segue o ser.
O conteúdo é um instrumento. Na didática da aprendizagem, a meta é a formação de habilidades, para que o educando, além do vestibular, possa enfrentar os problemas da existência.
Permito-me sintetizar a “Fábula do Currículo” de Ribas Fause (Em: A arte e a Técnica de prestar melhores exames). Para mim, é sintomática.


Alguns bichos, preocupados com a complexidade da vida moderna, resolveram copiar os homens e organizaram uma escola que melhor pudesse prepará-los para enfrentar os problemas da existência. Ou seja, lidar adequadamente com a vida.
Acompanhando ideias educacionais, em voga, optaram por um currículo escolar teórico-prático que consistia, em essência, das disciplinas: Corrida, Escalada, Natação e Voo.
Para facilitar a execução do plano, atendendo, também, a um maior número de alunos, ficou resolvido que o aluno matriculado estudaria todas as disciplinas do curso.
O Cisne, nadador exímio, mostrou-se logo melhor que o professor. Obteve notas razoáveis em voo, mas revelou-se aluno fraco em corrida. Coitado... Quase sempre tinha que ficar na escola, depois do horário, para treinar corrida. Foi necessário reduzir as horas que dedicava à natação, atividade que lhe agradava muito. Ficou com as patas esfoladas. Seu humor modificou-se e vivia triste e emburrado. Ao chegar a época dos exames, estava tão cansado que, até mesmo, em natação, conseguiu nota regular. Contudo, o sistema era de média aritmética das notas, nas diferentes disciplinas, conseguiu passar raspando.
O Coelho sempre foi o melhor em corrida e treinava diariamente. Ficava atrapalhado e muito nervoso nas aulas de natação. Dava até a impressão de que, quanto mais se aplicava, menos evoluía. Vivia falando dos pesadelos que tinha por causa do exame de natação.
O Gato superou os colegas em escalada, mas indispôs-se com o professor, porque preferia adotar processos de subida inventados por ele mesmo e muito eficazes; porém, nem sempre, coincidiam com as orientações dadas. Tornou-se aluno-problema. O mestre insistia em que alçasse voo do solo, e o gato sustentava que só conseguia voar do topo das árvores até o chão.
Um Pato tranquilo, assíduo, zeloso, pouco amável, que nadava bem, atravessava o gramado, gingando e imitando corrida, alcançou a média mais alta da turma. O diretor convidou-o para ser o orador da turma na cerimônia de formatura.
Era visível, no final do curso, que os alunos não mais se preocupavam com o aproveitamento escolar ou efetiva aprendizagem. O importante era garantir média para aprovação e obter certificado.
A festa de formatura foi triste. O grupo alegre e motivado dos primeiros dias não parecia o mesmo. Muitos desistiram, no meio do curso; outros foram reprovados; quase todos estavam apáticos; e, ainda, alguns revelavam desânimo e pessimismo em relação ao futuro.
Conforme Paulo Freire, a escola é o espaço da alegria, do prazer. A meu ver, a escola, às vezes, transforma-se no cemitério da espontaneidade.
Jean Piaget – psicólogo Suiço – criou o método psicogenético. E o construtivismo, no Brasil, inspira-se em sua metodologia.
Na organização do pensamento operatório, há três etapas:
SÍNCRESE – ANÁLISE – SÍNTESE.
Temos um conhecimento superficial, incompleto em relação a um assunto, conteúdo, fato, pessoas etc. A SÍNCRESE é a primeira etapa; palavra latina que significa crassa, espessa, grosso, sem discriminação. Caracteriza o comportamento da criança que está descobrindo o mundo.
Quando alguém começa a dirigir um carro, a visão do veículo é incompleta, crassa (grossa) em relação ao todo e às partes: câmbio, volante, acelerador, embreagem etc.
Com efeito, as pessoas grossas não são capazes de compreender os outros; as finas e educadas entram em sintonia com os outros. A boa relação intrapsíquica (subjetiva) enriquece as relações interpessoais.
O que se verifica na aprendizagem do carro, acontece na avaliação inicial que fazemos de uma pessoa: (puxa... é antipática e arrogante), ou pelo que nos dizem dela. Conhecendo-a melhor, podemos reformular nossa percepção. Tornamo-nos mais flexíveis e constatamos qualidades que não tínhamos notado.
Pela ANÁLISE, segunda etapa do processo operatório, o carro não desperta ansiedade acentuada, e o trânsito não nos ameaça tanto. O dirigir torna-se um prazer...
Quando alguém faz análise, em Psicoterapia, passa a conhecer-se melhor e fica mais humano e livre. Após a análise, levanta-se novo conceito a respeito de uma pessoa, fato, conteúdo etc.
Piaget diz que a aprendizagem se realiza, quando a pessoa chega à síntese através da análise e síncrese.
Quando o aluno simplesmente lê um texto, não o interioriza. Só há, efetivamente, aprendizagem, se houver ação (análise) para reformulação de conceitos, opiniões e comportamentos. Os olhos da percepção e compreensão passam a enxergar com outras cores.
Segundo a proposta construtivista, o professor, inicialmente leva o aluno a ter visão ampla, mas ainda incompleta sobre o conteúdo, assunto etc (SÍNCRESE). A seguir, realiza-se o esmiuçamento das informações: trabalho individual ou em equipe (ANÁLISE). O termo LYS = solução; ANA = através de. Através da ação, estudo e reflexão, a pessoa encontra solução. Finalmente, o aluno elabora resumo que poderá ser discutido em equipe. Interiorizando o conhecimento, é capaz de aplicá-lo em situações diversas (SÍNTESE – palavra latina que consiste em chegar aos efeitos pelas causas).
Por esse prisma, aprende em conjunto e sempre através da realidade dele e da equipe. O trabalho de equipe ressalta ao adolescente a validade do intercâmbio cultural. Quando a equipe é bem estruturada e acompanhada, os alunos aprendem a lidar com suas emoções e com as emoções dos colegas. Para a atividade intelectual, isso é relevante: a inteligência não funciona sem emoção.
Em 1972, tive o privilégio de ingressar na Escola Estadual Vocacional “Oswaldo Aranha” – no Brooklin – em São Paulo. A diretriz era construtivista, e todos trabalhávamos em conjunto, visando à autonomia do aluno. No ensino médio, havia Psicologia, Filosofia e Sociologia. Fui professor de Psicologia durante 26 anos. A experiência foi inédita e muito gratificante. A Psicologia era incluída na primeira série, a Filosofia, na segunda série e a Sociologia, na terceira série.
Na 1ª série, os alunos eram “pré-adolescentes” ou adolescentes e ensimesmados; estavam buscando autoafirmação; eram instáveis e inseguros; alguns até indignados com a vida. Portanto, não deviam ser, pejorativamente, vistos na condição de “aborrecentes”; eram pessoas, em crise, à busca de identidade. Assim sendo, a Psicologia fornecia embasamentos para adaptação à nova realidade, após saírem do ensino fundamental.
Na 2ª série, já se conheciam melhor; eram praticamente, os mesmos; já estavam mais ambientados com a dinâmica escolar e, sobretudo, mais maduros. Cabia, pois, a reflexão filosófica.
Na 3ª série, muitos já trabalhavam e eram eleitores; alguns já participavam de sindicatos e associações. Eis o espaço para a Sociologia.
Na escola pública, essas disciplinas eram a base da maturação e da cidadania. Gradualmente, foram desconsideradas.
A LDB e outros documentos oficiais determinam a inclusão da Filosofia e da Sociologia na grade curricular. Esse fato é recente. Mas a Psicologia não foi contemplada, ou seja, perdeu espaço. Isso é lamentável... Creio que os teóricos, às vezes, ignoram a dinâmica do desenvolvimento.
Na atualidade, clinico e ouço críticas em relação à política da progressão continuada, na escola pública. Os alunos não se sentem mais estimulados a estudar e sabem que passam, mesmo sem saber. Não há desafios, e perdem-se referências. Percebo que a autoridade dá “forma” (educa). O autoritarismo “deforma” e destrói a criatividade. No sólido saber, ganha destaque a autoridade do professor – líder.
Especialistas diversos destacam que os alunos estão chegando às escolas públicas e particulares com níveis de informação e conectividade superiores ao do professor. Professor sabe menos de computador que o aluno – (Cidade, 10/08/11, pág. 9 – Jornal da Tarde – O jovem da geração “C” – naturalmente computadorizado).
Se mantiver postura ultrapassada e conservadora, o docente irá perdendo a autoridade. Não bastam giz, apagador e lousa. Buscar novas metodologias e atualizar-se sempre – eis o desafio apesar da miserável remuneração.
Profissional da psicologia, tendo trabalhado na escola particular e pública, não faço juízo de valor em relação à proposta tradicional ou construtivista. A relação professor-aluno constrói-se, além do conteúdo, quando contribui efetivamente para que o aluno possa interpretar melhor o mundo.
Um dia, a educação no Brasil, será prioridade.
Psicólogo – sou otimista!