POR MÁRIO INGLESI
Contrariamente, é de se destacar, embora de menor
importância, mas de estragos sociais sem número, as máscaras da manipulação ou
maquiagem: a propaganda, a publicidade, a estatística, a economia e a política
e, de plantio mais recente, a do meio ambiente e da sustentabilidade.
Afora todas estas, e outras escondidas sob os mais
diferentes disfarces, cataloga-se apenas para efeito de arrolamento, as
máscaras usadas por profissionais de diversas áreas, com caráter apenas
preventivo, não estando assim, ligadas a qualquer tipo de sentimento ou da
busca por esconder a identificação através de seu uso obrigatório, fortuito ou
ocasional.
Precisa-se, entretanto, salientar que a maior e mais
profunda máscara humana, é a da arte, celebrada na literatura, na poesia, nas
artes cênicas, cinematográficas, nas artes visuais, na fotografia e nas artes
gráficas e muitas outras, e outras mais, com sua criatividade cada vez mais
crescente e ilimitada.
É que nessa máscara o ser humano se multiplica em mil
e outras várias faces e se vê, não mais num espelho que o engana em sua
reprodução inexata, mas na sua inteireza histórico cultural mais abrangente e
de profunda atemporalidade, sob aspectos os mais variados. É nela que ele se
reflete para entender e compreender melhor a si e ao mundo que habita, em sua
totalidade, em sua inteireza, sem interferência de quaisquer disfarces ou
adereços que lhe ocultem ou transformem sua real face e identidade
histórico-cultural.
Exemplo maior disso é a obra cinematográfica de Bergman
ou a literária de Dostoievski. Tais obras entrelaçam máscaras de tal
profundidade, que nos transporta a um mundo trágico e profundo, inimaginado,
onde vicejam a máscara de doenças, com suas faces maceradas, olhos encovados,
suores constantes; a máscara da sexualidade reprimida, com gritos e sussurros
enfeixados num sufocante espasmo de grandeza exuberante. Confluem ainda com
estas, as máscaras do medo, da solidão, da culpa, em espasmódicos esgares
sufocantes que a todos enreda, em capítulos literariamente construídos ou
filmados.
Em contrapartida, há máscaras menos densas, porém
inidôneas, maléficas impingidas por terceiros a outrem, no intuído de demarcar-lhe
uma característica ou defeito ou então para lhe impingir um caráter
preestabelecido preconceituosamente.
Tais máscaras são, na maioria das vezes, associadas a
animais ou parte deles ou de aves, ou até a frutas.
Assim como: lá vai o nariz de “tucano”, olha lá o
orelha de “elefante”, veja o “papagaio” falador, corra, olha aquele com seu
passo de “elefantinho, ou ainda, olha aquele “manga chupada”, e aquele ”cabeça”
de ovo, e aquela outra “uva” docinha, ou aquele nariz de “palhaço”, etc. e tal.
No afã de dotar a outrem (homem ou mulher) uma
característica, demarcadamente ofensiva, dizem: aquela “vaca”, aquele “veado”, aquele
”macaco” aquela víbora, aquela “anta”, aquele “lesma”, aquele cabeça de
“bagre”, aquele “asno” aquela “burra” e por aí vai o desenrolar sem fim de todo
um imenso catálogo do reino animal.
Mas, é preciso convir que, nem todas as máscaras
usadas, elaboradas, ou utilizadas pelo ser humano referem-se apenas à dor, ao
sofrimento, às agruras ou mazelas infligidas pela vida, como se o viver fosse
um vale de lágrimas.
Não! Ainda que pontuais, fortuitas e de breve duração,
as máscaras compreendem também casos extremos de alegria, felicidade, e de bom
viver. São exemplos disso, o nosso primeiro caminhar ao alvorecer de um novo
dia, ou do seu anoitecer, a visão da natureza plena, com sua beleza que viceja
em cada coisa, em cada recanto, com seus mistérios e suas sonoridades, a
sexualidade em sua completude, o primeiro emprego, os namoros iniciais, as
seduções, a paixão e, enfim, o amor, os primeiros estudos e sua continuidade,
bem como, de modo cada vez mais abrangente, o desabrochar do mundo, sua
complexidade, suas alternâncias, sua evolução constante e desassombrada,
através das ciências e, com o auxílio da transcendência e da consciência, do
estar no mundo, sempre compartilhando.
Nesse particular, a máscara extremada de felicidade
compreende o supra-sumo do ato de comparar-se ao Criador, através do ato da
criação. Criar outros seres em sua completude humana, isto é, com seus feitos,
acertos ou defeitos, interativamente, numa epopéia de infinita grandeza. Só a
Arte, leva a essa aventura de importância tamanha, que sobreleva também o homem
à categoria de Criador, refazendo a equação em seu modo de apresentação, como: Criador-Criatura-Criador.
Deste modo, aqui, em nosso Planeta Terra, acontece, doravante, sem
subterfúgios, sem intermédios fugazes, a felicidade da “Eternidade”, através da
criação humana.
Com todo esse emaranhado de fios em tramas sempre
díspares de sentimentos, nós, inculcamos em nossa face máscaras de uma
diversidade e universalidade sem fim, com arremedos ainda de diversas
civilizações como a indígena, a africana, a européia, e de todas as demais que
aportaram em nossa terra, de regiões outras como a asiática, a sul-americana.
Com isso, as máscaras foram tomando feições diferenciais com traços de várias
tonalidades de cores e de sentimentos
outros,
compreendendo-se entre eles o niilismo, a ironia, o prosaísmo, o sincretismo
religioso, a dor de cotovelo, o baixo-astral, mas também o idealismo, a
saudade, a musicalidade sempre implícita em tudo e em todos; a rítmica profunda
e exultante procriada em instrumentais das mais variadas feituras e
procedências; a profusão de sentimentos dúbios, convivendo em um só tempo e
espaço, como a tristeza e a alegria, a credulidade quase infantil e, a
incredulidade, a felicidade, buscada em caráter duradouro, e a infelicidade, a
solidariedade, e o egoísmo, as utopias emergenciais, os sonhos supérfluos, o
sentimento insano de ter sempre mais, ainda que a duras penas, de aparentar o
que não é ou não pode ser, em contrapartida a despojamentos sem limites. A par
disso, o ufanismo patriótico, a bizarrice, o brega, a riqueza da fluência
sentimental e fantasiosa da linguagem popular, vazada por termos provindos ou
originários dos mais variados lugares de origem, mas de concretude e
significância ilimitadas e inimaginadas no país, a exemplo do que produziram Juó
Bananieri e Adoniram Barbosa, em consonância com um linguajar apurado, como o
de Machado de Assis e criativo e não menos trabalhado, de Guimarães Rosa, num
movimento de “antropofagia” como predispôs Oswald de Andrade em seu célebre
“manifesto”, que abarcava as mais diversas atividades artísticas sem exclusão
de quaisquer influências ou imitações de obras produzidas externamente, em
países, os mais diversos.
Continua...
V de Vendetta Rica!
ResponderExcluirTenho um pequeno vídeo falando dessa situação, depois eu te mostro...
Bjo no coração
Ale
È triste ter que reconhecer que vivemos em um mundo onde é difícil identicar as pessoas como elas realmente, ou seja elas usam máscaras para ficarem em uma situação confortável.
ResponderExcluirPorém mais cedo ou mais tarde essas máscaras vão cair, vai ser o ponto onde as pessoas irão ter a chance de se corrigirem ou estacionar de vez no erro.
bjs...
Anjo da guarda!