domingo, 20 de maio de 2012

MÁSCARAS E MASCARADOS VII - SAÚDE SOCIAL

POR MÁRIO INGLESI

Última parte de:


Em sentido diametralmente oposto ao criacionismo e suas máscaras, apresenta-se com seus tentáculos devastadores e abrangentes, as máscaras do mal, da destruição, da morte, feitas sob medida para garantir a cobiça, os interesses ou salvaguarda da hegemonia política sobre outros povos, terras e jazidas petrolíferas.
Tais máscaras trazem em sua tessitura a indústria bélica, cuja proliferação é cada vez maior, em sua rede infinita de armas mortíferas, das mais variadas e sofisticadas espécies e, de um raio de abrangência muito grande, de efeitos incomensuráveis, com um poderio de morte avassalador e de destruição exacerbada de tudo, e de mutilação de não poucos.
Essa indústria beligerante traz em seu bojo também outras duas máscaras: a do lucro incomensurável e a do poderio de conquista a demonstrar.
Seus anseios são “a guerra” e o “terrorismo”, duas das máscaras temíveis que engendram a satisfação dos ideais que preconizam assustadoramente.
A primeira, “a guerra” leva milhares de jovens à militância beligerante, forjada e autoritária, através do alistamento militar obrigatório, deixando para trás os seus entes queridos. Isto, porém, evoluiu com a invenção dos “mísseis de longo alcance”, as bombas “H”, as bombas incendiárias, as bombas de Napalm, muitas destas, plenamente configuradas no filme “Apocalipse Now, sobre a guerra do Vietnã, do cineasta Francis Ford Copolla. A segunda, “o terrorismo” é de prática inidentificável. Os homens-bombas causam terror justamente por não serem identificados. Suas máscaras são de pessoas comuns, como as de homens, mulheres e até jovens adolescentes (meninos). Muitas vezes, se travestem ou investem sob a máscara de dirigentes de carros bombas. Uns e outros devastadores e temíveis em suas ações mortíferas e de destruição.
Sob essas máscaras aterradoras e aterrorizantes, o criacionismo, e a criatividade, que profetizam uma humanidade sempre melhor e mais proficiente em sua existência sobre o Planeta Terra, não se fizeram e não se fazem submergir, pelos sentimentos de medo, angústia, tensão, desalento, incerteza, e, mais que tudo, por ceticismo que abarca gerações.
As palavras de ordem, tornadas slogans em 1968, de Paz e Amor, hoje, verdadeiros eufemismos, tornaram-se vazias, sem sentido diante de tanta mortandade, destruição, pobreza e miséria, que ainda hoje campeiam em vastos territórios deste nosso Universo, formando máscaras inomináveis de desumanidade.
Ao nos debruçarmos sobre algumas das máscaras humanas e suas conexões existenciais, nos permitimos conhecer melhor o homem


em seu universo, pois ficamos conhecendo, em parte, suas alegrias, dores, amores, sofrimentos, violências e, principalmente, seu rosto, em suas relações com o mundo, consigo mesmo e com o outrem, como celebra a cantiga:

“Senhora dona Sancha
Vestida de ouro e prata
Levante este véu
Queremos ver seu rosto
(Cancioneiro popular) 

Feliz, o homem – ah, o homem, esse também Criador - sob o peso de todas as incontáveis máscaras de seu rito de passagem pela Terra, ainda que marcadas, muitas vezes, por males terrificantes que o cercam, ainda hoje, com todas as crises que o sufocam no seu dia a dia, continua, sem resignação, virando sempre nova página, o seu caminhar firme, compartilhado com o congraçamento da arte, da ciência e da religião em direção ao seu destino glorioso de liberdade, ousadia, e criação vanguardeira e democrática, numa espiral sempre crescente de bem-vindo, de renascimento, como no poema de Oswald de Andrade:

Relógio
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vem
Não em vão
As horas
Vão e vêm
Não em vão. 
(Poesias Reunidas, Ed, Círculo do Livro, 1976.)

 Eis, aí, dr. Ricardo, algumas reflexões ou elucubrações advindas da leitura do texto “O Louco” do pensador Khalil Gibran, cujo texto está muito aquém de tudo isso. Mas, o que fazer, ler é viajar sempre e cada vez mais por mares e territórios inimagináveis da vida humana. Se há extrapolações em divagações talvez exageradas e em números crescentes, há, no caso, também, o propósito preliminar de promover a conscientização do ser humano, em seus vários elementos e graduações em benefício do seu bem viver saudável, marca sempre assaz bem-vinda no seu Blog.
Com o abraço sempre efusivo de fraternidade, os agradecimentos de praxe, mas sempre merecidos, por todas as oportunidades oferecidas de reflexão.

Mário Inglesi

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS



Manoel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios."

terça-feira, 15 de maio de 2012

ENERGIA - FONTE DA VIDA


Por: Maria Paula Teixeira de Castro – Bacharel e Licenciada em Física

Sol
Que conceito representa essa palavra tão versátil? Em quantas situações diferentes a palavra ENERGIA pode ser empregada. Ela é usada tanto para designar o que está em jogo na queima de um combustível, como para explicar um elogiável comportamento de alguém.

Sendo através do uso da Ciência, ou da prática da Filosofia, faz parte da constituição do ser humano indagar os porquês dos fatos que observa. E, nessa busca por uma resposta, uma urgência tão antiga quanto atual, a contribuição dos filósofos clássicos não é menos importante que a dos cientistas da atualidade.
Houve um tempo em que a Ciência era objeto de estudo dos filósofos. Platão em seu diálogo “Teeteto” faz a pergunta: “O que é ciência?” E conclui ser a ciência a “posse da verdade”. Em seguida, seu discípulo Aristóteles diz que a ciência começa com a percepção sensorial e termina com o conhecimento intelectual.
Por um longo período, CIÊNCIA e FILOSOFIA andam juntas, sendo a primeira, objeto da segunda. A mais nítida distinção entre conhecimento científico e conhecimento filosófico surgirá mais tarde, no Renascimento, com a constituição de uma ciência que reivindicará para si a exclusividade do quantitativo e do experimental.
Analisando a evolução dos conceitos, ao longo da história da ciência, verificamos como o ser humano evoluiu nesta busca. O conceito de universo, por exemplo, é muito diferente daquele pensado pelos antigos. Ou ainda o conceito de célula, que era vista como uma cela fechada e se transformou em elemento de integração dos tecidos e órgãos; ou do átomo, que passou de indivisível, para uma infinidade de sub-partículas. Essa evolução atesta o caminho percorrido pelo ser humano, na sua busca por respostas.
O conceito de ENERGIA, talvez mais do que todos os outros, sintetiza esta busca, por conter em si a ideia de constância em meio à mudança e de unidade face à multiplicidade; ao mesmo tempo CAUSA e EFEITO. E nos tempos atuais, parece que a humanidade toda se voltou para este conceito. Energia se tornou uma palavra de múltiplos usos, tanto no senso comum quanto no meio cientifico e seu estudo foi incluído em muitas disciplinas, tornando-se assim familiar a todos.
Em Biologia, por exemplo, energia é a peça fundamental para a sobrevivência dos seres vivos bem como ao equilíbrio de seu habitat. Em História, percebemos que a energia é determinante na evolução do modo de vida da sociedade, que numa visão da Tecnologia, se tornou sinônimo de desenvolvimento. A Geopolítica hoje analisa a divisão dos espaços geográficos e políticos segundo a disposição dos recursos energéticos. E a Ecologia por sua vez, alerta para que haja uma opção por formas limpas de energia, que não agridam a natureza. Na Física, todas as interações fundamentais da natureza são estudadas à luz do conceito de energia. Assim, cada disciplina, dentro da sua lógica específica, contribui com uma faceta deste conceito. Cada um tratando o tema, dentro de seu contexto e segundo a sua razão.
Em Mileto, na Grécia antiga, um discípulo de Tales, chamado Anaximandro, dizia que nosso mundo, nosso “edifício cósmico” é derivado de uma substância não perceptível chamada de apeíron, “o ilimitado” em grego. Essa substância teria existência antes do evento da separação dos contrários e representaria a unidade primitiva de todos os fenômenos da natureza. Um pouco depois em Éfeso, ainda na Grécia, Heráclito, instigado pela observação de que “tudo muda” (panta rhei em grego, vide: Crátilo e Simplício), ou de que tudo está em movimento, deu um salto filosófico dizendo que: “Deve haver algo invariante no universo, que não muda nunca.” Este algo, seria um elemento etéreo que une todas as coisas e pode se transformar nos objetos que vemos. Essa substância ele chamou de “fogo”.
Passados 2000 anos, já no fim da Idade Média e início do Renascimento, retomando os pensamentos Clássicos, filósofos como Leonardo da Vinci e Galileo Galilei observaram que nada está parado, tudo o que está a nossa volta está em movimento. Esse movimento pode estar manifesto ou estar em estado latente. Portanto tudo contém em si o que foi chamado por Leibniz de “vis-viva”, o movimento intrínseco. Ai começou o desenvolvimento da Mecânica enquanto ciência.
Passando pela Revolução Industrial, uma verdadeira explosão na utilização de máquinas ocorreu, graças à invenção da máquina a vapor. O objetivo era construir a máquina com rendimento absoluto, isto é, que transformasse toda a “vis-viva” do combustível, em “vis-viva” de movimento útil. Mas parece que algo sempre se perdia nessa transformação. Isso levou a formulação do princípio da conservação da “vis viva” por D’Alambert, no qual está o embrião da noção de energia mecânica cinética e potencial.
A evolução do método científico e dos aparelhos empregados em pesquisa possibilitou outro olhar sobre os fenômenos de transformação presentes na natureza. Um corpo luminoso como o Sol, por exemplo, ao mesmo tempo ilumina e aquece os corpos. Portanto luz e calor são manifestações diferentes de uma mesma coisa. E constatou-se, após 1900, que isso ocorre tanto na eletricidade e no magnetismo como no calor, na mecânica, na química e nos fenômenos gravitacionais e nucleares. E, para completar Einstein nos dá uma surpreendente interpretação para a fórmula e=mc² !!
Quando nessa busca incessante, a descoberta necessitou de uma palavra adequada, foi um texto de Aristóteles que a forneceu. Pelo que se conhece foi ele quem usou a palavra “energeia” pela primeira vez. Energéia em grego é formada pelo prefixo “en“ que significa “dentro”, e pela palavra “ergon“ que significa “trabalho”. Sendo assim, energia seria o “trabalho que vem de dentro” ou ainda a “força de manifestação”. Em seu texto “Ética a Nicômaco”, após longo arrazoado, Aristóteles conclui:

“O bem do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude”.

Essa atividade da alma ele grafou em “primeira mão”: psyches energeia”.
Assim vemos que a palavra, hoje muito empregada em inúmeras situações, foi trazida de um contexto mais amplo, o mais próximo daquele de “energia vital”. Como se sempre soubéssemos que tudo é ENERGIA.

Referências:
1- Aristóteles - “Ética a Nicômaco” – Coleção os Pensadores, Editora Abril, 1984.
2- R.B. Lindsay – “The Concept of Energy and its Early Historical Development” – Plenum Publishing Corporation, 1971.
3- M.P. Burattini, – “Energia – Uma abordagem Multidisciplinar” – Editora Livraria da Física, 2008.

domingo, 13 de maio de 2012

DIA DAS MÃES

PELA PROFa. MODESTA 

                                                    MÃE


                                                                                      NANA
                                                                                    NENÊ NA
                                                                                 NA NENÊ NA
                                                                               NA NENÊ NANA
                                                                             NENÊ NANA NENÊ
                                                                           NANA NENÊ NANA N
                                                                        ENÊ NANA NENÊ  NANA
                                                                    NENÊ NANA NENÊ NANA NE    
                                                                 NÊ NANA NENÊ  NANA NENÊ  N
                                                              ANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ
                                                           NANA NENÊ  NANA  NENÊ  NANA NENÊ                       
                                                       NANA NENÊ NANA NENÊ  NANA NENÊ NAN
                                                     A NENÊ NANA NENÊ NANA  NENÊ NANA NENÊ
                                                   NANA NENÊ NANA NENÊ  NANA NENÊ NANA NEN
                                              Ê NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ N
                                          ANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NE
                                       NÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA N
                                    ENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA  NENÊ NANA  NE
                                  NÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ N
                                ANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NE
                               NÊ  NANA  NENÊ  NANA  NENÊ  NANA   NENÊ   NANA  NENÊ  NANA   NENÊ
                            NANA NENÊ NANA  NENÊ NANA  NENÊ NANA  NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ
                               NANA  NENÊ NANA  NENÊ  NANA  NENÊ  NANA NENÊ  NANA  NENÊ  NANA
                                  NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA  NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ
                                      NANA NENÊ NANA  NENÊ  NANA NENÊ  NANA NENÊ NANA  NENÊ  
                                           NANA NENÊ   NANA NENÊ  NANA  NENÊ NANA  NENÊ NANA  
                                               NENÊ  NANA NENÊ NANA  NENÊ NANA  NENÊ NANA NE
                                                  NÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NE
                                                      NÊ NANA NENÊ  NANA  NENÊ NANA  NENÊ NAN
                                                         A  NENÊ NANA  NENÊ NANA NENÊ NANA NE
                                                            NÊ NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ
                                                               NANA NENÊ NANA NENÊ NANA NENÊ
                                                                  NANA  NENÊ NANA NENÊ NANA N
                                                                      ENÊ  NANA NENÊ NANA NENÊ
                                                                         NANA NENÊ NANA  NENÊ
                                                                            NANA NENÊ NANA NE
                                                                               NÊ NANA NENÊ NA
                                                                                   NA NENÊ NANA
                                                                                      NENÊ NANA
                                                                                       NENÊ NAN
                                                                                         A NENÊ
                                                                                             nana
                                                                                               me



sábado, 12 de maio de 2012

MINHA PRIMEIRA VEZ - JOÃOZINHO




Circula na rede este ocorrido com Joãozinho o mineirinho da 

quinta série D que vai recitar a sua poesia de título: 

"A primeira vez foi assim..." :

O céu estava claro,
A lua quase dourada,
Ali no campo eu e ela,
E não se via mais nada.

A pele suave,
Ela de quatro,
As ancas expostas,
Os quadris largos,
E eu tocando de leve,
O macio de suas costas.

Não sabendo começar,
Olhei o corpo esguio.
E decidi pôr as mãos,
Sobre seus peitos macios.

Eu sentia medo.
Meu coração forte batia,
Enquanto ela bem lentamente,
As firmes pernas abria.

Vitória! Eu consegui!
Tudo então melhorou.
Pelo menos desta vez,
O líquido branco jorrou.

Finalmente tudo acabou,
E quase saio de maca.
Foi assim a primeira vez
Que eu tirei leite da vaca...

Shua shua shua



quarta-feira, 9 de maio de 2012

MÁSCARAS E MASCARADOS VI - SAÚDE SOCIAL

POR MÁRIO INGLESI

Continuação de:



Exceção a esse emaranhado de fios que comportam as máscaras com os mais indizíveis sentimentos e manifestações, se nos apresenta, configurada numa ausência total de qualquer tipo de exteriorização de sentimentos identificadores, a “face nua”, sem máscara. Em princípio, se nos afigura uma impossibilidade, pois é como se as pessoas abandonassem as identidades plurais que as configuram como fonte primeira do conhecimento do outro, em direções as mais diversas, ou seja, dos sentidos, dos sentimentos, da linguagem, como da própria apresentação da figura humana, primordialmente através da face, ou, a bem dizer, de sua máscara. Isto representaria apenas uma face pétrea, imóvel, sem quaisquer sentimentos, uma máscara sem vida, de mármore, ou de pedras múltiplas, ou de gesso, para apresentação homenagem, de um mito-símbolo: um herói, um poeta, um gênio, e até, quem sabe, um marco na vida da Nação.
Tal face embora reconhecida e apreciada por alguns ou por muitos, não oferece nenhum grau emocional imediato, É como uma fotografia antiga, uma máscara mortuária, onde os personagens são reconhecíveis mas não causam nenhum sentimento, a não ser quando apela-se para a memória sócio-cultural afetiva, ou histórica, pois, afora isto, mostra-se como uma face desconhecida, como um nome de rua, cujo personagem desconhecemos, já que não fizeram parte de nossa vivência, não passando assim, de mera figura, de um nome de rua, que nos acostumamos a conhecer, sem motivos outros que não o da identificação para nossa possível localização.  Isenta de sentimentos ou de comunicação imediata, tal face ou sua máscara, é o vazio que nenhum ser humano pode apreciar e suportar.
E se acrescentar que, o portador dessa máscara acumula certezas, inclusive sobre a perenidade infinita do mundo como se lhe apresenta, podendo dizer, com João Ubaldo, em Sargento Getúlio:

“Eu não gosto que
o mundo mude.
Me dá agonia”.

Ou, em tempos mais recentes, no mesmo tom, radicaliza Haroldo de Campos em seu poema “circum-lóquio”
7.
o neo liberal
sonha um admirável
mundo fixo
de argentários e multinacionais
terratenentes terrapotentes coronéis políticos
milenaristas (cooptados) do perpétuo
status quo:
um mundo privé
palácio de cristal
à prova de balas:
bunker blau
durando para sempre – festa estática
(ainda que sustente sobre fictas
Palafitas
e estas sobre uma lata
de lixo)

Exemplar típico dessa face bruta, com marcas exacerbadas de um egoísmo monstruoso, que fazem de seu portador um ser de coração pequeno e de uma insensibilidade intensa, é Paulo Honório, personagem de São Bernardo, de Graciliano Ramos, cujo egoísmo o faz perder-se num emaranhado desértico de sentimentos, para consigo mesmo e para com todos os outros que o rodeiam.
O mais interessante que ocorre com a face imobilizada e bruta é que ela se espraia também sobre as instituições importantes como a educação, a escola, a política, a ética, e o assistencialismo – hoje tão em voga. etc. etc.
Veja-se o caso da educação. Num mundo cheio de dúvidas, que vem a pedir de todos nós uma interatividade compartilhada, a educação, por exemplo, na escola, seja pública ou particular, se pauta ainda na fragmentação e segmentação das matérias escolares, na aprovação dos alunos para medir o que sabem. Ainda, a educação é feita de modo a isolar aprendizes da sociedade, formando espaços para alienação, insatisfação, sacrifício, passividade, hierarquia desmesurada, onde ver, ouvir e pensar de modo amplo, profundo e conectado com a complexidade do mundo em pleno século 21, não constituem modalidades de aprendizado cultural e social.
Nessa mesma pauta insere-se o assistencialismo, cuja máscara usada principalmente em relação à África, encobre celebridades ocidentais, em sua maioria, brancas, com “marcas tribais” pintadas no rosto, sobre o slogan “sou africano” escrito em letras garrafais. Com essa identidade fictícia suas fotos circulam pelo mundo, sob a mais fantasiosa solidariedade assistencialista, pois afasta medidas de reconhecimentos, de parcerias equitativas com outros membros da comunidade internacional - estas sim capazes de fazer com que a África alcance um crescimento inusitado, por conta própria, conforme se depreende do trecho do artigo de Uzodinma Iweala – escritor nigeriano, reproduzido pela Folha de São Paulo, - Mais!, de 09.09.2007.
Contrariamente a tais máscaras e seu imobilismo, felizmente o ser humano, ainda que de modo particular, não se ajusta à realidade como ela se apresenta. Talvez em razão de sua vulnerabilidade, em face da limitação de sua existência. Com isso, sua relação se torna conflituosa com a natureza da imagem, procurando sempre ir além das aparências e suas reproduções fotográficas. O real, ainda que reproduzido fotograficamente em sua fidelidade o sufoca, o oprime. Melhor vê-lo não mais em abstrações, ainda que na arte, mas em suas distorções mais inusitadas. Para tanto, toma do real ilustrado, para destruí-lo em sua aparência comum e construir outra figuração, outra imagem, uma imagem imaginada, uma imagem criativa do mundo, ainda que distorcida e irreal, que nos pega como numa armadilha. Não podemos deixar de olhar, de admirar, de refletir e nos assombrarmos ou nos horrorizarmos com suas discrepâncias. Afinal, é uma marca figurativa, uma máscara inolvidável, uma máscara eterna, como aquelas vistas ou usadas em rituais de povos primitivos.  Essa é a atitude que marca o estranhamento imagético-distorcido da pintura de Francis Bacon, pintor irlandês (1909-92).
Neste como em outros casos, a distorção ou nova formação ou formatação, trás à tona a máscara do inconformismo diante do real. Em outro patamar, há artistas plásticos que tomam elementos do real para dar novos sentidos gráficos, com a criação de objetos imagéticos. São outras novas máscaras criadas a partir da transformação de “letras” do alfabeto em artes visuais, os chamados Grafemas, isto é, a codificação do processo linguístico plasticamente, como é o caso do artista plástico alagoano Jurandyr Valença, de 43 anos.  
 Por isso tudo, a face, com suas máscaras, de maior ou menor significação é sempre o nosso principal meio concreto de construção, desconstrução, visualização, de empatia para uma identificação imediata ou não com o mundo e, particularmente, com o outro.  Com isso - acreditamos - elas são fundamentais para o aprofundamento e conhecimento compartilhados, de modo consciente e democrático de todas as nossas ações em busca de soluções para os problemas comuns, ou de gêneros os mais diversos, inclusive de saúde, que nos afligem ou possam vir a nos afligir, ainda que, em alguns casos excepcionais, uma identidade sobremaneira agigantada como a de um pai, por exemplo, possa sufocar a identidade do filho ou vice-versamente, como por vezes tende a ocorrer com pessoas literalmente famosas.
Mas, de todo modo, como assevera o poeta e compositor Arnaldo Antunes, em 2 ou + corpos no mesmo espaço, (ed. Perspectiva, 1997)
“O seu olhar melhora o meu”.
Mas, para que esse olhar aconteça é preciso também a educação dele e dos outros demais sentidos, em prol de uma aculturação que nos leve ao saber em sua profundidade, eivado logicamente de democracia e popularidade.
Entretanto, só um talento excepcional, como o de “ATOR /ATRIZ”, para nos fazer ver com minúcias e profundidade as faces e as máscaras da alma humana em sua plenitude, seja qual for o suporte que use: “Palco”, “Tela Grande/ Cinema” ou Pequena/TV ou ainda as praças, rua, a vila, a viela ou o que se apresentar, como, aliás, faz o teatro da “Vertigem” que já encenou seus textos em hospitais, igrejas e até no rio Tietê, não para surpreender o espectador, mas, para melhor aproximar e aprofundar o teor que lhe vai ser apresentado e alçar a alma humana a patamares mais próximos de nós. Ou também, como se apresentam, ao ar livre e/ou a céu aberto, os grupos “Parlapatões” “O Galpão” e outros, para atingir a popularidade, sempre almejada, de seus espetáculos.
Juntem-se a isso os saraus ou recitais de poesias realizados em locais inusitados como bares, botecos ou outras dependências quaisquer, com o fito de levar a público as máscaras de faces inimaginadas, abstraindo-se em contornos ou esforços inúmeros para driblar os empecilhos de “uma pedra no meio do caminho”, como diria Drummond.
Continua...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

SAÚDE E DOENÇA – DOIS LADOS DA MESMA MOEDA – PARTE II

...CONTINUANDO O ARTIGO: http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/04/saude-e-doenca-dois-lados-da-mesma.html

M.C. Escher

"A saúde é a alegria do corpo, e a alegria é a saúde da alma."

      Como eu dizia na primeira parte desta reflexão, abaixo segue a releitura escolhida, pelos participantes do encontro, como a melhor adaptação, à qual chamamos: “a arte da saúde”. Note a equivalência das frases em ambos os textos e atenção para que os mesmos não sejam lidos em termos de melhor ou pior, apenas diferentes. Observe como se sente ao final de cada texto... Nesse sentir está um pouco de você e dos pressupostos sobre os quais seus valores estão estabelecidos.
A ARTE DA SAÚDE
Se quiser saúde – “Fale de seus sentimentos”.
Emoções e sentimentos escondidos, reprimidos são convites à reflexão de que algo novo deve ser trazido à vida. O estômago recebe o alimento e a coluna ergue o homem em direção ao céu.
Com o tempo a compreensão dos sentimentos aumenta a tolerância para com o outro, assim como a qualidade do sono. Então vamos compartilhar o que somos de melhor até agora e nos perdoar naquilo que fomos de pior.
O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente terapia; falar é mostrar o que se leva no coração.
Se quiser saúde – “Tome decisão”.
A pessoa decidida aprende sobre o poder que reside no acreditar, na paz e na leveza. Decidir liberta e diminui preocupações e ansiedades. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, ceder vantagem e valores, e eventualmente ganhar outros.
As pessoas decididas são mais saudáveis dos nervos, estômago e pele.
Se quiser saúde – "Busque soluções".
Pessoas positivas enxergam soluções e diminuem os problemas. Preferem a alegria, lugares calmos e o otimismo. Melhor acender um fósforo a lamentar a escuridão, onde também há beleza em seu tempo.
Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe.
Se quiser saúde – "Cultive a essência mais que as aparências".
Se abrir à realidade sem fingimento ou pose, sem vergonha das limitações pessoais faz ficar mais leve. É como falar de saúde ou doença, parecidos, mas opostos.
Nada melhor para a saúde que viver sem fingimentos e valorizando a essência sobre a aparência. Pessoas com muito verniz geralmente tem pouca raiz. A Farmácia, o hospital e a dor são oportunidades extremas para os que se distraíram e não leram as placas no caminho.
Se quiser saúde – "Aceite-se".
A auto-estima é vitamina ou vita anima (vida para a alma), faz com que sejamos plenos. O núcleo da vida saudável é a auto-estima, que vitamina, diferente do orgulho, que contamina. Aceitar-se torna a pessoa gentil, cordial, cooperativa, criativa e construtiva.
Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.
Se quiser saúde – "Confie".
Quem confia, se comunica, se abre, se relaciona, cria liames profundos, sabe fazer amizades verdadeiras.
O relacionamento acontece na confiança. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus. Desconfiar é não ter fé (descon – fidere – fides – fé).
Se quiser saúde – "Viva sempre alegre".
O bom humor, a risada, o lazer e a alegria acompanham a saúde e a vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive.
"O bom humor nos salva das mãos do doutor". Alegria é saúde e terapia.


Nas palavras sábias do filósofo brasileiro Huberto Rohden, em seu livro “Profanos e Iniciados”, uma lembrança: “Castigare (castigar) vem de duas palavras latinas, castum (casto, puro) e agere (fazer, agir), de maneira que castigare (castum agere) quer dizer purificar, e a palavra castigar só deveria ser usada neste sentido disciplinar, o que, infelizmente, nem sempre acontece. Toda e qualquer punição que não tenha este caráter de verdadeira castigação ou purificação é imoral e incompatível com a ordem cósmica.
O relacionamento saudável se baseia na confiança, que trata de abertura e entrega. Sua vida se baseia em confiança e no não saber ou na segurança do conhecido?

A dúvida é privilégio do sábio, a certeza a marca dos ignorantes.

Experimente você também, proponha aos seus familiares e veja que curioso o resultado após cada um ter transmutado o texto. Esta prática, chamada prática de saúde, ainda pouco divulgada em nosso meio, pode ser benéfica aos seus adeptos.
Falta amor... A medicina técnica da doença está ambiciosa, enquanto a medicina da saúde busca uma forma amorosa de balancear a ambição. A educação que informa (prepara para o vestibular - horizontal) está doente e a educação da formação (que prepara para a vida plena - vertical) é forma amorosa de harmonizar o ser. Que o amor possa cada vez mais permear as práticas profissionais antes que se exacerbe o já conhecido “canibalismo” humano, baseado no medo, que caracteriza alguns regimes, economias e pensares...
      Enquanto pensarmos a saúde apenas enfocando a doença (cura e prevenção), negligenciando a preservação e a promoção, palavras mais condizentes com a saúde, seremos reféns do medo e tomaremos decisões baseadas no medo. Decidir com base no medo é quase o mesmo que ser coagido, ser passivo, ser paciente, enfim ser doente!
      Conforme Heinz Buddemeier convida em seu livro: “Mídia e Violência.”, lancemos um olhar sobre o aspecto do efeito da violência cênica e da falsa impressão criada de que nada daquilo nos diz respeito. Assistir cenas violentas gera aumento do medo ao final da exibição, efeito claramente comprovado junto a espectadores de TV. Está provado que os que assistem muito à televisão tendem a estender os parâmetros do mundo midiático à sua realidade cotidiana, consequentemente sentindo-se mais ameaçados do que os outros. Isso aumenta a necessidade de proteção e segurança, além de aumentar a prontidão para agir violentamente e a pensar que as outras pessoas vão agir com mais violência do que em verdade ocorre.
Vamos prestar um pouco mais de atenção ao que estamos fazendo com nosso tempo?
Vamos prestar um pouco mais de atenção a como estamos usando nossas palavras?
A sua vida é um exemplo de como se faz ou como não se deve fazer?