Manoel de Barros
Uso a palavra para compor meus
silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos
mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por
isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um
formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus
silêncios."
A delicadeza do poema e de suas idéias singelas, mas profundas, fazem de Manoel de Barros um ser humano especial: nada passadista, nada retrógrado, e sim, profundamente humano em sua simplicidade de encantamento: um raro "APANHADOR DE DESPERDÍCIOS".
ResponderExcluirMário Inglesi
Sem palavras...........
ResponderExcluirSó uso a palavra para compor os meus silêncios."
ResponderExcluirO nosso Manoel de Barros é uma grande referência à simplicidade do mundo.
ResponderExcluirMostra-nos os nossos desperdícios, em contraposição a sua forma de juntá-los, de uma forma amorosa, valorizando os mais puros sentimentos dos quais o ser humano anda tão afastado, em buca de uma felicidade inalcançável, esquecendos-se de olhar ao seu redor e, cultivar a beleza que o cerca. Vamos olhar o céu, as plantas e as flores, os pássaros, as nuvens, as estrelas... Vamos ser menos "manés" e mais Manoel, mais Cora, Fernando, Drumond, Bandeira, Adélia, Jobim... e, tantos outros que dão às coisas simples que nos cercam, um valor bem ao alcance dos nossos olhos e corações.
Beijão, dr. Ricardo, por mais este presentão!
Bom dia! à todos
ResponderExcluirNossa! Dr. Ricardo, obrigada.
Acumulamos tantas coisas..., queremos tantas coisas..., ficamos tristes por tantas coisas..., desperdiçamos tantas coisas, que loucura...
Se cada um, ter o necessário, tudo seria diferente.
Contudo, ainda procuramos lá fora, valorizamos a ilusão.
Tudo é tão simples, e belo.
Estamos à caminho.
Obrigada por este lindo poema.
Muito especial e significatico.
ResponderExcluirTudo que é simples é sempre bem vindo.
Bjs, com carinho,
MClara
É bom lembrar o simples,que muitas vezes conforta...
ResponderExcluirBj pro cê grandão!
Oh! Ricardo,
ResponderExcluirObrigada pelo momento especial por você proporcionado aos seus leitores.
Aprecio muito a poesia de Manoel de Barros e espero um dia,com mais vivências nesta jornada, chegar ao que realmente importa na existência com
a singela profundidade deste poeta.
E como um poema leva a memória de outro, lembrei-me deste que até hoje conserva um sentido como se muito recente fosse:
CONVERSA NOTURNA
As palavras tem insônia
e perambulam pelas ruas.
Despem artifícios,ficam nuas,
visitam-se sem cerimonia.
Sem recado nominal,
dão-se mais a quem as queira
combinar de alguma maneira
formando, as vezes, coral.
Mas coragem é preciso.
Elas regem, por um momento,
em ressonância o sentimento
e trazem prece, pranto, riso.
Pérolas de saudade,
pílulas de sentido,
subordinadas ao vivido
as orações dão a verdade
Só então cedem. Dormitam
plácidas, puras, silentes...
plenas de noites e mentes
que um brilho no escuro fitam.
Dulce Moron ( 1987 )
Ricardo, uma boa semana para você e, ate lá, um abraço desta amiga.
Justamente no desperdício é que tem o necessário.
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