terça-feira, 15 de maio de 2012

ENERGIA - FONTE DA VIDA


Por: Maria Paula Teixeira de Castro – Bacharel e Licenciada em Física

Sol
Que conceito representa essa palavra tão versátil? Em quantas situações diferentes a palavra ENERGIA pode ser empregada. Ela é usada tanto para designar o que está em jogo na queima de um combustível, como para explicar um elogiável comportamento de alguém.

Sendo através do uso da Ciência, ou da prática da Filosofia, faz parte da constituição do ser humano indagar os porquês dos fatos que observa. E, nessa busca por uma resposta, uma urgência tão antiga quanto atual, a contribuição dos filósofos clássicos não é menos importante que a dos cientistas da atualidade.
Houve um tempo em que a Ciência era objeto de estudo dos filósofos. Platão em seu diálogo “Teeteto” faz a pergunta: “O que é ciência?” E conclui ser a ciência a “posse da verdade”. Em seguida, seu discípulo Aristóteles diz que a ciência começa com a percepção sensorial e termina com o conhecimento intelectual.
Por um longo período, CIÊNCIA e FILOSOFIA andam juntas, sendo a primeira, objeto da segunda. A mais nítida distinção entre conhecimento científico e conhecimento filosófico surgirá mais tarde, no Renascimento, com a constituição de uma ciência que reivindicará para si a exclusividade do quantitativo e do experimental.
Analisando a evolução dos conceitos, ao longo da história da ciência, verificamos como o ser humano evoluiu nesta busca. O conceito de universo, por exemplo, é muito diferente daquele pensado pelos antigos. Ou ainda o conceito de célula, que era vista como uma cela fechada e se transformou em elemento de integração dos tecidos e órgãos; ou do átomo, que passou de indivisível, para uma infinidade de sub-partículas. Essa evolução atesta o caminho percorrido pelo ser humano, na sua busca por respostas.
O conceito de ENERGIA, talvez mais do que todos os outros, sintetiza esta busca, por conter em si a ideia de constância em meio à mudança e de unidade face à multiplicidade; ao mesmo tempo CAUSA e EFEITO. E nos tempos atuais, parece que a humanidade toda se voltou para este conceito. Energia se tornou uma palavra de múltiplos usos, tanto no senso comum quanto no meio cientifico e seu estudo foi incluído em muitas disciplinas, tornando-se assim familiar a todos.
Em Biologia, por exemplo, energia é a peça fundamental para a sobrevivência dos seres vivos bem como ao equilíbrio de seu habitat. Em História, percebemos que a energia é determinante na evolução do modo de vida da sociedade, que numa visão da Tecnologia, se tornou sinônimo de desenvolvimento. A Geopolítica hoje analisa a divisão dos espaços geográficos e políticos segundo a disposição dos recursos energéticos. E a Ecologia por sua vez, alerta para que haja uma opção por formas limpas de energia, que não agridam a natureza. Na Física, todas as interações fundamentais da natureza são estudadas à luz do conceito de energia. Assim, cada disciplina, dentro da sua lógica específica, contribui com uma faceta deste conceito. Cada um tratando o tema, dentro de seu contexto e segundo a sua razão.
Em Mileto, na Grécia antiga, um discípulo de Tales, chamado Anaximandro, dizia que nosso mundo, nosso “edifício cósmico” é derivado de uma substância não perceptível chamada de apeíron, “o ilimitado” em grego. Essa substância teria existência antes do evento da separação dos contrários e representaria a unidade primitiva de todos os fenômenos da natureza. Um pouco depois em Éfeso, ainda na Grécia, Heráclito, instigado pela observação de que “tudo muda” (panta rhei em grego, vide: Crátilo e Simplício), ou de que tudo está em movimento, deu um salto filosófico dizendo que: “Deve haver algo invariante no universo, que não muda nunca.” Este algo, seria um elemento etéreo que une todas as coisas e pode se transformar nos objetos que vemos. Essa substância ele chamou de “fogo”.
Passados 2000 anos, já no fim da Idade Média e início do Renascimento, retomando os pensamentos Clássicos, filósofos como Leonardo da Vinci e Galileo Galilei observaram que nada está parado, tudo o que está a nossa volta está em movimento. Esse movimento pode estar manifesto ou estar em estado latente. Portanto tudo contém em si o que foi chamado por Leibniz de “vis-viva”, o movimento intrínseco. Ai começou o desenvolvimento da Mecânica enquanto ciência.
Passando pela Revolução Industrial, uma verdadeira explosão na utilização de máquinas ocorreu, graças à invenção da máquina a vapor. O objetivo era construir a máquina com rendimento absoluto, isto é, que transformasse toda a “vis-viva” do combustível, em “vis-viva” de movimento útil. Mas parece que algo sempre se perdia nessa transformação. Isso levou a formulação do princípio da conservação da “vis viva” por D’Alambert, no qual está o embrião da noção de energia mecânica cinética e potencial.
A evolução do método científico e dos aparelhos empregados em pesquisa possibilitou outro olhar sobre os fenômenos de transformação presentes na natureza. Um corpo luminoso como o Sol, por exemplo, ao mesmo tempo ilumina e aquece os corpos. Portanto luz e calor são manifestações diferentes de uma mesma coisa. E constatou-se, após 1900, que isso ocorre tanto na eletricidade e no magnetismo como no calor, na mecânica, na química e nos fenômenos gravitacionais e nucleares. E, para completar Einstein nos dá uma surpreendente interpretação para a fórmula e=mc² !!
Quando nessa busca incessante, a descoberta necessitou de uma palavra adequada, foi um texto de Aristóteles que a forneceu. Pelo que se conhece foi ele quem usou a palavra “energeia” pela primeira vez. Energéia em grego é formada pelo prefixo “en“ que significa “dentro”, e pela palavra “ergon“ que significa “trabalho”. Sendo assim, energia seria o “trabalho que vem de dentro” ou ainda a “força de manifestação”. Em seu texto “Ética a Nicômaco”, após longo arrazoado, Aristóteles conclui:

“O bem do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude”.

Essa atividade da alma ele grafou em “primeira mão”: psyches energeia”.
Assim vemos que a palavra, hoje muito empregada em inúmeras situações, foi trazida de um contexto mais amplo, o mais próximo daquele de “energia vital”. Como se sempre soubéssemos que tudo é ENERGIA.

Referências:
1- Aristóteles - “Ética a Nicômaco” – Coleção os Pensadores, Editora Abril, 1984.
2- R.B. Lindsay – “The Concept of Energy and its Early Historical Development” – Plenum Publishing Corporation, 1971.
3- M.P. Burattini, – “Energia – Uma abordagem Multidisciplinar” – Editora Livraria da Física, 2008.

5 comentários:

  1. Que coisa maravilhosa.Me senti sendo filho da ENERGIA,ou a própria Energia.É como dizia Heráclito"deve haver ALGO invariante no universo que não muda nunca(parecido com o Apeiron de Anaximandro), o fogo,que vem a ser o VIS-VIVA de Leibniz, e finalmente a ENERGIA , MUITO BEM EXPLICADA POR Einstein ,e esclarecida por Aristóteles quando nos ensina sobre ENERGÉIA ou a Força da manifestação.E finalmente a síntese -Energia Vital ou mais conhecido como "DEUS".É o FIAT LUX para que os homens compreendam a Alma e a Virtude.Adorei esses ensinamentos lúcidos ,que embora complexos foram abordados pela Bacharel Professora Maria Paula Teixeira de Castro, para mim Dona de conhecimentos de Doutora em física e filosofia.Que GRAÇA, para nós todos meu caro Dr. Ricardo.Abraços.

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  2. Maria Paula Teixeira de Castro15 de maio de 2012 às 22:48

    Creio que quanto mais conhecimentos adquirimos, mais pistas temos para alcançar o tão almejado tesouro. Qual seja: vislumbrar a Razão Subjacente que sabemos existir, mas que por algum motivo precisamos sempre comprovar. Assim mantendo o coração inquieto, tal qual Santo Agostinho, estamos sempre no caminho. E a esse movimento damos o nome de vida!

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  3. Realmente, a palavra energia está sempre presente.
    Mas precisa ser melhor compreendida. Se bem empregada, a evolução continua...
    Contudo, muitas vezes a energia é disperdiçada, ou utilizada para prejudicar; retornando ao seu princípio para ser purificada , pela energia Maior.
    Estamos caminhando, em busca do conhecimento, mas precisamos acreditar mais no sentir.

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  4. Maria Paula,

    Parabéns pelo artigo. Muito inspirador para todos nós que rastreamos os passos humanos nos caminhos da Ciência e do universo.

    Regina Elisa Sá Rocha Wahba

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