GRAÇA MOTA FIGUEIREDO
Médica Psiquiatra Especialista em Cuidados Paliativos (mottacruz@terra.com.br)
As matérias que eu leciono na Faculdade de
Medicina nem sempre parecem fáceis para os meus alunos. Eu falo com eles sobre morte, e morte não é um assunto fácil para
ninguém. No entanto, e cada vez mais, vejo os meus jovens futuros médicos se
superando, superando os paradigmas nos quais foi cunhado este medo da morte, e
eles são capazes de produzir em aula textos como este:
“O filme ‘Antes de
Partir’ traz mais do que apenas uma mensagem aos seus espectadores; ele nos questiona sobre porque a maioria de nós resolve viver somente quando nota a chegada da
morte...
Por que precisamos
de uma ‘sentença’ de morte, de uma ‘data de vencimento’ para começarmos a
viver? Nenhum de nós sabe exatamente o dia em que vai morrer. Nem pacientes com
doenças graves têm esse conhecimento e isto parece que nos faz acreditar que a
morte está tão distante de nós, que não precisamos sequer pensar nela.
Não é preciso pensar muito para perceber que essa
negação da morte vem desde a infância. Quando crianças ouvimos regras do tipo:
‘O que você vai ser quando crescer?’, ou ‘Só quando estiver com determinada
idade é que você poderá usar maquiagem, se barbear ou qualquer outra ação
típica de adultos’. É fácil ver crianças tentando imitar os adultos, pois para
elas, começarão a viver apenas quando se tornarem adultas.
Na adolescência, vivemos a pressão familiar de um
pré-adulto. Temos que escolher uma profissão que, além de parecer que lhe fará
feliz, lhe proporcione reconhecimento, dinheiro e sucesso no futuro!
Mais uma vez a palavra futuro.
E ela irá nos perseguir na faculdade, no trabalho,
na vida pessoal, na família, em todos os setores das nossas vidas. E é por
causa dela que muitas vezes deixamos de lado nosso presente, nos privando dele
em função do futuro.
Na velhice, quando finalmente chega “o futuro”,
quando enfim parece que seremos livres para viver a vida que quisemos, somos
“traídos” pela doença...
Carter Chambers (Morgan Freeman), no filme,
sintetiza bem essa situação. A maioria de nós abdica dos nossos sonhos,
principalmente em função da felicidade dos nossos filhos e isso, quando a morte
se aproxima, se evidencia como um logro.
No caso do personagem de Freeman, ele abdicou do
sonho de cursar História para sustentar a esposa e os filhos.
Em situações de morte, os valores se invertem. O
que estava em primeiro plano (trabalho, dinheiro, sucesso) passa a ser
insignificante e as vontades acumuladas durante toda a vida se exacerbam.
E é nesse ponto que pensamos: “Será que eu, que
você, que qualquer um de nós, gostaria de saber o dia exato em que vai morrer?
Uma pesquisa realizada nos EUA e divulgada no filme, diz que somente 4% dos
entrevistados gostaria de saber o dia exato da sua morte; numa “varredura”
rápida na sala de aula, 33,3% dos alunos gostaria de saber o dia da morte.
Nessa mesma aula, a professora nos lembrou um velho
ditado oriental que diz que deveríamos acordar todos os dias e perguntar a um
passarinho imaginário, pousado no nosso ombro: ‘Em que dia vou morrer?’ E ele
responderia, todos os dias: ‘Hoje!’. Depois disso você sai para o seu dia, e
duvido que ele vá ser banal...
Pense nisso.”
Não dá
orgulho?
As pessoas só precisariam usar uma simples operação matemática.
ResponderExcluirvida é igual a+1=-1. Esquisito né? Mas é isso, cada dia vivido é menos um dia de vida. Porém, isso não determina o tempo que será vivido. Também não justifica essa preocupação com o tempo de validade. Já vi crianças, jovens e velhos morrerem, cada um por uma causa.
O que o ser humano precisa se preocupar é com a qualidade de vida que ele leva, e, acima de tudo, com o SER que ele pode ser e não, com o que ele pode TER, sejam bens ou status.
Quanto à senhora morte, essa sem dúvida virá, pensemos ou não nela. E aproveitar a vida depois de...isso ou aquilo é simples perda de tempo, pois como diz o texto o depois pode ser inviável. Por outro lado, não é preciso querer fazer as coisa porque a vida é finita. Tudo é finito! O viver só necessita de consciência sobre as coisas e, entre essas coisas, também está a morte.
Belo texto Graça! Parabéns!
Abraço
Adorei!
ResponderExcluirA vida nos prega surpresas, agora a morte é um fato porém é inaceitál. Não interessa saber o dia em que iremos partir o que realmente importa é temos que viver um dia após o outro.
parabéns.
Anjo!