domingo, 18 de março de 2012

CASA DO TODOS - Dançar move o fluxo da vida - parte II


Dançar move o fluxo da vida
Parte II
Mirella D´Angelo Viviani


      É possível dançar com pessoas em diferentes estados mentais, emocionais e sociais, pessoas vivendo momentos de conflito, medo, raiva, aprisionamento. Dançar acorda o essencial, que se torna visível. O silêncio do movimento escuta além do que realmente está expresso na dança. Dançar liberta a alma, o espírito. Acontece de forma singela uma apresentação da pessoa que dança- aspecto consciente- para a pessoa que é dançada-aspecto inconsciente.

      Bom é observar que a dualidade que vive na pessoa humana pode ser incluída quando o corpo se move. Assim conta Mario, homem de meia idade internado em hospital psiquiátrico:
      - Ah que bom! Consegui juntar o Mário com o Mário. Acabou a divisão.

      O trabalho com a dança move e envolve os espaços do corpo de forma integral:
      - Quem eu sou tem possibilidade de dançar... dança a imobilidade de meus estados físicos, mentais, afetivos.

      Dançar com tantos pedidos traz ao terapeuta facilitador do encontro estados, sensações que atuam em seu trabalho e vão além do explicável no caminho de cura dele e do outro.

      Assim registra o terapeuta:

      A Vida da dança é sem combinados e se move... É em Si presente no fluxo do nosso sangue. A forma, o corpo, movimenta-se sem razão definida pela razão, movida pelo impulso de integrar, no espaço e no tempo, a pessoa inteira conectada com as emoções da alma e a sustentação do espírito.

      Assim, o ritmo natural que pulsa a vida, resignifica todo e qualquer movimento como caminho saudável. A verdade desta dança está marcada por esse princípio que, sem esforço, manifesta-se como possibilidade criativa, revela a dor e o prazer.

      O homem dança!

      Não existem coreografias pré determinadas. A possibilidade única de encontrar com a dança, nesse estado vivo de expressão do Ser, da vida, é a não imitação de algo fora do corpo de quem dança. Quando estamos juntos para dançar, instaura-se um diálogo profundamente verdadeiro da pessoa com o Ser que é o pulso de seu coração. Esse encontro facilita a identificação da pessoa com o espaço de sua essência e o movimento surge como registro. Esse registro é dança genuína de cada um, do jeito que é verdade a presença do movimento em seu corpo.

      É possível assistir a um belo espetáculo que se manifesta a partir de diferentes estados internos:

      Caminhadas pretensiosas de desequilíbrios, alegrias em balanços eufóricos, choros enrolados como caramujos,ritmos  profundos inomináveis, corações que se escutam em seu ritmo no tablado de madeira,lenços que voam lambendo o corpo como contorno de afeto,sinos que vibram o tempo de escuta do início dos tempos, atenção do tambor que avisa que estamos juntos,canções que revelam nenhum sentido lógico. Melodias tecidas pela continência do ritmo que oferece gentil, um caminho de reconhecimento.

      Tantos e diferentes estados, tantas e diferentes pessoas que trazem tantos e diferentes desejos, medos, resignações, alegrias, ansiedades, pavores, separações, afetos. Assim, cada um com seu conteúdo interno pessoal, pode se mover no espaço. Mover o tempo de sua existência e dançar sua vida.

      Dançar tem sentido de cuidado e cura das dores do homem. Sombra e luz movem possibilidades para essa expressão. Assim, a dança é espaço terapêutico onde o movimento é caminho no passo de busca da consciência humana.


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