sexta-feira, 20 de abril de 2012

MÁSCARAS E MASCARADOS IV - SAÚDE SOCIAL

POR MÁRIO INGLESI

Continuação de:




A máscara está presente nos mais variados momentos da vida humana, refletindo anseios, angústias, alegrias, tristezas, sucesso, vitória, não só de forma pessoal como grupal.
Eis que, num gol marcado, desde Garrincha a Pelé ou de Ronaldo à Neymar, transcende ao puro sentimento de alegria para uma máscara de felicidade sem igual, acompanhada de uma mescla de vitória em sua tessitura.  Tal ocorrência transborda para toda a torcida, transformando-a numa máscara gigantesca, abrangendo todos os torcedores.
Assim como também, de modo contrário, a máscara bordada


com os fios de sentimentos de tristeza, aflição, angústia, por ocasião de uma tragédia como os deslizamentos de terra e desmoronamentos de casas advindos por ocasião da imensa quantidade de chuva que se abate sobre regiões do país, ou, outras catástrofes, como incêndios devastadores em áreas urbanas ou não, trazem à tona as máscaras de sulcos profundos da impotência e desalento, inicialmente de caráter pessoal, mas logo estendendo-se a uma multidão de desvalidos ou, solidariamente de compadecidos de toda ordem e crença, que procuram ajudar.
Por outro lado, de forma também marcante, hás as máscaras singulares e enganosas da felicidade eterna, no casamento, por exemplo, do poderio majestoso, do sucesso infinito ou do status duradouro, bem como da beleza estética permanente, ou da eterna juventude, ou ainda da imortalidade, numa mescla de ilusões e conclusões falsas com ideais e expectativas irrealizáveis que só fazem frutificar novas máscaras inspiradoras, sem dúvida, de maiores cuidados e atenção, na maior parte das vezes.
Contrariamente, existem as máscaras que se alongam ou se perpetuam no tempo, por falta de providências para minorá-la ou retirá-la definitivamente: são as máscaras produzidas pela fome, tornando seus portadores, em todo mundo, figuras apáticas, de olhares profundos e melancólicos; de faces encovadas, ou, ainda, como no caso do ataque ao Word Trade Center, as máscaras do terror, cuja evolução vai da surpresa, do espanto, da iniquidade, da indignação à dor profunda, à raiva e ao ódio sem limites, que se transforma em preconceitos de toda ordem.
Com relação às máscaras dos famélicos, é de todo conveniente lembrar as palavras de José Saramago, proferidas por ocasião do Discurso de recebimento do Nobel na Academia Sueca:

“A mesma esquizofrênica humanidade, capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição de suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.” (Revista Língua, pág. 66, abril 2009)

Realmente chegar ao nosso semelhante é atitude bastante inusitada, principalmente quando ele se encontra no fundo do poço e, sua máscara afigura-se um misto de fome e miséria que o encobre por todos os poros, com andrajos, sujeira, mal cheiro, e miasma, quando a pele totalmente encardida pela exposição ao sol, às intempéries da natureza e pelo álcool que o faz suportar e esquecer por breve instante a situação em que se encontra, ou pelas drogas que passa a consumir no afã de abandonar o corpo e alçar outros patamares que não o do chão em que pisa com seus pés já calcinados.
Tal máscara nos faz, num sufoco, bradar, ainda que num grito parado no ar:
 “Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus…
Ó mar! por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…”
(Castro Alves) Poesia Completa, ed. Nova Aguilar, 1960

No rol das máscaras funestas e de uma pujança totalizante, é preciso arrolar em primeiríssimo lugar, a máscara do “Mártir do Calvário”, Jesus Cristo. Em sua via crucis à crucificação, cujos enigmas, a partir do Santo Sudário, até hoje são objeto de estudos científicos, no intuito de decifrá-los, em seus mais complexos significados.
Esse interesse talvez advenha do fato de a máscara ter em sua trama fios constitutivos por sentimentos díspares e atitudes que se intercruzam em uma mortalha mista de aspectos de horror sufocante e, ao mesmo tempo, de enternecimento público.
De fato, constitui-se ela de sentimentos múltiplos: humilhação, cansaço, flagelo, dores lancinantes, humildade, bondade, abnegação, benevolência, amor ao próximo, exposição involuntária, revolta (c/ os vendilhões no templo), abandono, solidão (Cristo); traição (Judas); injustiça, passividade, não comprometimento, - o “lavar as mãos” arrogância, (Pilatos); cumprimento do dever, de ordens incongruentes, frieza, (soldados); unanimidade, pensamento único, inconsciência, cumplicidade (povo); sofrimento, dor, tristeza profunda, lágrimas, muitas e dolorosas, (Maria, mãe de Jesus).
Tais sentimentos, só sublimados pela “ressurreição” de Cristo, ainda hoje são convites à reflexão e temas de filmes, teatro, romances, poesia, música, bem como também sentimentos constitutivos de muitos outros abnegados “mártires” que coexistem diariamente, em nosso dia a dia por força de posições políticas, liberdade de expressão, preconceitos, revoltas, batalhas ingentes e em guerras que se espalham por todo o planeta, por questões políticas, econômicas, ou de meros interesses financeiros.
Continua... 

4 comentários:

  1. Ricardo,
    Estou muito feliz, em poder participar do lançamento do seu livro.
    Logo mais estarei ai, para te desejar boa
    sorte, e te dar um abração, desejando muito
    sucesso, e que Deus ilumine cada vez mais seu
    caminho, com muito sucesso.
    Beijinhos da Tia Marilyn

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  2. Ricardo,
    Em teu nome está o Leme
    Que te conduzirá "por mares nunca dantes navegados".
    Grande és como todo homem,
    Sensível és como qualquer criança.
    Não sei se já plantaste uma árvore,
    Ou fizeste um filho.
    Não importa(!)
    Já destes ao mundo,
    Algo que ficará para todo o nosso tempo.
    Parabéns pela obra literária.
    ________________________
    Emmanuel Ramos de Castro

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  3. Emmanuel, agradeço suas bondosas palavras, que não me surpreendem!
    Não pelo que sou e ainda menos pelo que me dizem respeito, em absoluto!, mas pelo ser que as pronuncia. Em teu nome Deus é conosco (Emmanuel) e você é ramo (Ramos) d'Aquele que na castidade (Castro) do pensar pode ser e servir como veículo de auxílio aos que contigo encontrarem. Seja bem vindo a este espaço de partilha, e por gentileza, lembre-se de nos corrigir onde possamos nos equivocar...

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  4. Boa noite!
    Grande amigo Ricardo
    Bom, as máscaras na realidade são as defesas, que as pessoas usam para se proteger do meio circundante.
    Cada um de nós desempenhamos um papel, quanto mais perto chegarmos da plenitude; as máscaras vão continuar, com outros significados.

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