Tudo o que diz respeito ao que é desconhecido e ao mistério diz respeito também à saúde do ser humano. Saúde e consciência são indissociáveis; a forma de viver e os hábitos de cada pessoa são ditados pelas suas crenças pessoais em relação ao significado da vida. Desse modo, pessoas para as quais a vida se esgota em si mesma provavelmente terão uma forma de viver diferente daquela de pessoas que consideram a possibilidade de realidades pré e pós existenciais em relação com a vida presente. Ora, se a vida encerra-se em si mesma para uns enquanto para outros não, como conciliar este fato na construção de uma sociedade saudável? É provável que essas diferentes crenças, que podemos arriscadamente denominar materialista x espiritualista, interferem muito na conduta social das pessoas.
Um rápido olhar para os nomes dos hospitais e instituições ligadas à área de saúde convida à reflexão nesse sentido... Curioso o fato de que os programas de acreditação hospitalar têm exigido das instituições a existência de equipes que possam oferecer orientação espiritual aos pacientes que desejarem. O próprio currículo médico de algumas instituições já inclui disciplinas que ensinam conteúdos relacionados à espiritualidade; e ainda a própria literatura médica se voltou nos últimos anos para o estudo sobre como a prática da espiritualidade interfere na saúde dos pacientes.
Fica cada vez mais evidente a inter-relação entre o viver saudável e as convicções pessoais sobre o significado da vida, especialmente quando se observa as recentes designações do que aparece sob o nome de doenças do mundo moderno. Um trabalho muito interessante vem sendo desenvolvido e apresentado sob o nome "projeto 6 bilhões de outros", chamando de forma especial a atenção a entrevista sobre: "qual é o sentido da vida?" no link abaixo:
Este tema é objeto de estudo da filosofia há muito tempo, com muita discussão e muitos mal entendidos. Veja por exemplo esta tradução de Leonardo Boff sobre um texto de Nietzsche:
A Oração ao Deus Desconhecido
Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para frente uma vez mais, elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo. A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em Cada momento, Tua voz me pudesse chamar. Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:
"Ao Deus desconhecido”.
Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão invade a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer,
quero servir só a Ti.
[Friedrich Nietzsche]
Uma tradução (Leonardo Boff) de oração escrita por Nietzsche.
As paranóias, fobias, medos, e ambições, necessitam desesperadamente de um "deus" para se sublimarem. De preferência, esteticamente impecável e irresistível. Viver a verdade, liberdade, justiça, em amor e paz incomodam o nosso ser.
Quando os véus caírem, quando os céus se abrirem, quando o santuário do coração humano for deslacrado, quando o que é oculto for revelado, quando o que é sussurrado for um brado audível, quando o que é aparente der lugar ao que é patente, quando a Luz iluminar todas as trevas e todas as ignorâncias, e quando todo joio for joio e todo trigo for trigo — então, os homens, todos eles, todos nós, entenderemos como temos blasfemado contra o santo dos santos do coração humano; e, também, como a religião e sua moral de juízos e certezas, foi satanás na história, e, além disso, foi a principal responsável por afastar milhões, bilhões de homens e mulheres, da genuína experiência de Deus.
O “deus” que para Nietzsche morreu foi o “deus” que já nasceu morto: o “deus” da religião.
Os sacrilégios, as blasfêmias, as irreverências, os confrontos, as acusações, por vezes o ódio ou o sarcasmo mais ferino que a lamina de uma navalha afiada o dia todo — e que são encontrados em Nietzsche, são todos próprios se deixarmos de lado Deus, e pensarmos apenas em “deus”, “igreja” e “cristianismo convencional”.
A oração de Nietzsche transcrita acima é uma confissão de amor ao que Ama, e é a declaração de uma alma que, mesmo enlouquecida de desejo de verdade, sabe quem É Aquele que É, e sabe quem Ele É — apesar de todos os véus de linguagem que “aparentemente” fizessem separação entre ele e Deus.
O “deus” que Nietzsche anunciou seu óbito, aprioristicamente, já está morto mesmo. A hipocrisia de conveniência, ou a nossa estupidez é que não vê. Quando os nossos olhos se descortinam, apenas constatamos o seu óbito.
Esse “Deus” das virtudes legalistas, da religião da moral, da justiça humana — é o grande promotor das guerras e das desarmonias vistas e vomitadas neste planeta moribundo, porém muito ocupado pelos “temas de mosquito” dos grupos formalistas e fundamentalistas existentes na terra. "Quanto mais ritualismo e cerimonialismo - menos verdade".
Neste mundo-sistema, e de fachada, ser é irrelevante e desprezível, o importante é parecer. Na atualidade, o importante é acontecer. Sendo assim, substitui-se o Ser, pelo fazer, e o existir pelo acontecer. Assim, as pessoas só se sentem existindo se estiverem acontecendo na sociedade, dentro dos padrões estabelecidos, nas formas de ser mais fúteis e vãs possíveis. E, se não estiverem engajadas em um ativismo frenético tido como importante, não se sentem sendo.
Esse “deus” é a morte do homem e da terra, e, não é Deus. Deus é pura loucura para a vaidade sapiencial, e totalmente escandaloso para a liturgia religiosa da moral fétida de fachada. Esse, como anunciou o Criador quando aqui esteve em um chassi humano, é o “deus desse mundo”, e tem sido assim desde os primórdios freqüentemente um diabo. Esse “deus” tem que morrer.
Só as vidas lúcidas pela graça de Deus em Cristo Jesus têm a capacidade de enxergar e ver o óbito desse "deus".
Por: ÁLVARO DE AMORIM GARCIA XIMENES
http://www.reflexoes.diarias.nom.br/COLABORADORES/ALVARO/ORACAODENIETZSCHE.pdf
E você, sobre que valores estabelece sua vida?
Finalmente, mas não menos importante, se faz fundamental compreender aqueles entre nós que professam outras perspectivas de práticas, especialmente os que não trabalham com a espiritualidade na clínica médica. Vale lembrar e perceber que no mundo existe espaço para todos os tipos de pessoas e pensares. Sobre isso, vale muito a pena assistir ao relato do médico jornalista Drauzio Varella em defesa do ateísmo e seus praticantes, no link abaixo:
Médico opina sobre o ateísmo
Importante lembrar que ateu é aquele que não acredita em Deus ou nos deuses e difere do agnóstico, que não sabe, mas não se posiciona quanto à existência ou não de realidades e conceitos que ultrapassam o método empírico de comprovação científica (Houaiss). Assim, tanto os que crêem em Deus como os ateus, se igualam na fé, ainda que em direções opostas; são considerados "realistas" na linguagem filosófica. Ambos afirmam algo sobre o que os agnósticos, na filosofia "fenomenalistas", se calam. Para os fenomenalistas, a ciência deve ser infalível na escolha da verdade (medições e quantificações) e deve se focar no fenômeno observável.
Para o bioeticista Edmund Pellegrino, professor emérito de Ética Médica do Kennedy Institute of Ethics e que já coordenou o Conselho de Bioética da presidência dos Estados Unidos da América, "o bem estar do paciente sempre deve suplantar os interesses do médico". Em entrevista na revista do CREMESP (Ser Médico) em setembro de 2011, foi perguntado ao professor:
Para o bioeticista Edmund Pellegrino, professor emérito de Ética Médica do Kennedy Institute of Ethics e que já coordenou o Conselho de Bioética da presidência dos Estados Unidos da América, "o bem estar do paciente sempre deve suplantar os interesses do médico". Em entrevista na revista do CREMESP (Ser Médico) em setembro de 2011, foi perguntado ao professor:
"Uma relação entre um médico ateu e seu paciente seria, necessariamente, incompleta, em comparação ao colega que tem algum tipo de fé religiosa?"
Ao que o professor respondeu assim:
"Sob o aspecto técnico, não tenho dúvidas de que o profissional ateu é capaz de tratar de um paciente tão bem quanto o que tem religião. Porém, o primeiro está propenso a ignorar ou a depreciar o componente espiritual envolvido no atendimento, ou a deixar de apreciar o seu significado e, assim, falhar em relação ao holismo (integralidade) presente no contexto da cura. Penso ser insuficiente cuidar do paciente apenas como um mecanismo biológico ou psicológico, pois é ignorada a singularidade do ser humano entre as criaturas da biosfera, e negada a possibilidade da vida espiritual na qual ele acredita."
As obras de Nietzche, particularmente « Ecce Homo » e « Assim falou Zaratoustra », deixam claro a preocupaçao do filosofo em transcender o cristianismo de base e poder se elevar espiritualmente. Mas por isso tinha que abrir mao de um pensamento restrito, poder indagar sem se preocupar de chocar à opiniao alheia. Incompreendido durante anos por causa da sua afirmaçao « Deus esta morto » e ao seu suposto antisemitismo, Nietzche tem voltado com força nesses ultimos anos, com a força da verdade. Shirley
ResponderExcluirêle fez todos os cursos de graduação, pós graduação sobre teologia, cristianismo,islamismo, budismo, e outros ismos, na procura da existência de Deus( mas êle já sentia dentro de si, uma voz da CONSCIÊNCIA QUE LHE CAUSAVA GRANDES INQUIETAÇÕES), e eis que de repente num Insight surge - LHE ,transiluminando todo seu ententimento a palavra " FIAT LUX" e a luz se fez!Por aqui tivemos um Seu representante de nome Jesus e logo em seguida O CRISTO, numa forma humana, a gosto dos que não crêem em nada do que não vêem ou não entendem! E de uma " clareza DIVINA" nos ensinou TUDO sobre o sentido da vida-"Amar a Deus sobre todas as coisas, e Amar o próximo como a nós mesmos"!Difícil não ? Mas ...não impossível!Quem conseguir ( será que só os anjos e santos conseguem?sem dúvida estará mais perto de transcender e conhecer a LUZ,!
ResponderExcluirLembrando apenas que muitas vezes encontramos uma fe maior em um ateu ou agnostico que busca a verdade,do que alguem que se acomoda numa instituicao pre estabelecida pela sociedade.
ResponderExcluirCris
Somos, todos os terráqueos, veículos de uma inteligência que fecunda de consciência todas as possibilidades de realidade no multiverso. Percebermos essa inteligência nos eleva da mediocridade que nos foi ensinada pelos nossos velhos valores e possibilita que nos religuemos ao Mistério para que um dia possamos viver de acordo o que somos: deuses caminhando sobre a terra.
ResponderExcluirR.M.S
Que artigo interessante como uma pessoa pode ser um ateu? O valor mais precioso na vida de um ser humano é a fé. Como o ser humano pode viver no mundo sem acreditar em Deus. isso não é possível.
ResponderExcluirParabéns!