quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

AINDA SOBRE SAÚDE E POLÍTICA


Caro Dr. Ricardo

O texto envolvendo a saúde da política e dos políticos mostra-se realmente pertinente em suas reflexões e bastante oportuno em sua abordagem. Como bem  salientou o periódico espanhol El Pais causa estranheza que no Brasil não haja indignados.
Se houver, entretanto, o foco mais adequado e melhor sobre o porquê disso,  verificar-se-à que tal ausência tem sua razão de ser, mormente em se tratando do nosso País.
Por ocasião da guerra fria, (USA x URSS)  o  extremismo ideológico separou  em dois blocos: o capitalista (pró USA)  e o socialista (pró URSS) o comportamento dos povos. Isso levou-os  também a dividir-se em “direita”, com  uma concepção de Estado autoritária e criticamente denominada conservadora, e “esquerda” também de concepção de Estado, também autoritária, mas com vistas à igualdade social dos  povos.
Essa dicotomia levou às ruas a quase totalidade da população, no embate por um dos dois lados, na aclamação e defesa das “utopias sociais” que, então, cada lado apresentava.
No Brasil, e, em demais países da América Latina, essas utopias, reconheça-se – deveras simplistas – acabou diferentemente da Europa – dando origem, a golpes de estado e, concomitantemente à implantação de regimes ditatoriais dos mais ferrenhos, pondo por terra, de maneira ampla e com todo o extremismo brutal e cruel - O Estado de Direito - e as liberdades de manifestação e de pensamento.
                     “.............
                     (*) Ninguém ouve cantar canções
                     Ninguém passa mais brincando feliz
                     E nos corações
                     Saudades e cinzas foi o que restou.
                     Pelas ruas o que se vê
                     É uma gente que nem se vê
                     Que nem se sorri, se beija e se abraça
                     E sai caminhando
                     Dançando e  cantando cantigas de amor
                    
                     E no entanto é preciso cantar
                     Mais que nunca é preciso cantar
                     É preciso cantar e alegrar a cidade…

                     A tristeza que a gente tem
                     Qualquer dia vai se acabar
                     Todos vão sorrir, voltou a esperança
                     É o povo que dança
                     Contente da vida, feliz a cantar.”
  
Com o decorrer do tempo, o fim da guerra fria, com o esfacelamento da URSS e, em 1989, com a Queda do Muro de Berlim, as utopias sociais então em voga, no Brasil, perderam sentido. E, portanto, a luta restringiu-se tão somente à volta do Estado de Direito e suas instituições.
                     Afinal:
                     na garganta.
                     Apenas um nó,
                     A anistia.
                     No pacote:
                     Torturados e torturadores.

                     Na boca,
                     Um grito parado no ar.
                     Na memória
                     Um baú de ossos

De lá  para cá, tudo se resumiu, apenas em retirar os entulhos, pois os males e mazelas, de modo geral, permaneceram e ainda permanecem neste século 21, com um agravante: as utopias passarem a ser apenas “individuais”, representadas por  reivindicações no mundo do TER, como: bem estar, luxo e riqueza, status, etc. etc, sem precisar ir às ruas em passeatas reivindicatórias.
Essa reviravolta atingiu fortemente a saúde, (estresses, depressão, angústias, infartos, AVCs) bem como a política, que passou a ser coisa atinente apenas a políticos e  ao seu agir.
A participação popular resumiu-se a reivindicações de classe por melhores salários e ao voto, que, por ser obrigatório, dispensa melhor qualificação do candidato, em sua escolha partidária e populacional.
Mesmo assim, em alguns casos, como o da classe dos professores, a luta reivindicatória manifesta-se de duração inoperante, pois, a classe é vista e considerada improdutiva, por não produzir bens materiais e, portanto diferente da classe operária. 
Além disso, o candidato à politica em qualquer cargo hoje é talhado por marqueteiros e seu blá,blá,blá, e de seus partidos, no horário político (credo em cruz, que massada!) restringe-se a meras questões imediatas, pois tanto ele como seu partido não oferecem qualquer plano ou meta de governo. Assim, quando eleito não há muito o que cobrar dele (ou deles), pois tudo corre ao sabor do vento, do acaso, para qualquer posicionamento em favor do eleitorado.
Diante de toda essa situação, não vigora o “não soluce, solucione”, e sim, “laissez faire laissez passer”, le monde va de lui meme.
Mudar esse imenso processo de despolitização, de descrença, de abstenção, exige um esforço hercúleo, sem muitos resultados práticos imediatos. Mas, vale a pena iniciar e insistir, como faz a sempre bem vinda coluna “Saúde é Consciência.”
Portanto, caro doutor, vale os  aplausos, assim como os méritos pela iniciativa. Afinal, é justo reiterar:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.”
(Fernando Pessoa)

(**)E cantarolar:
Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor  para dar de que a gente nem sabe…

Abraços afetuosos do seu leitor e amigo

Mário Inglesi 22/08/2011

(*) e (**) Marcha da Quarta Feira de Cinzas.
(De Vinícius de Moraes, com música de Carlos Lyra)

4 comentários:

  1. Um resumo histórico bem legal esse do Mário. E ainda, acompanhado por um Vinícius-Carlinhos Lira pertinente, mostrando bem os estragos que esses desmandos histórico-arbitrários causaram, acabando literalmente, com o carnaval de TODOS, sem exceção. Mesmo o daqueles que se acharam favorecidos financeiramente pelos milagres oferecidos, pois, os danos neuro-psíquicos(?) foram imensuráveis em todos os sentidos, e isso dr. Ricardo, você conhece bem melhor do que eu, não é mesmo?
    Abraço

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  2. Europa e Ásia ,países maduros?aprenderam as lições de vida,com sacrifícios e com todo o desenvolvimento material?USA estão trilhando o ideal caminho do "PARA ONDE VAMOS?"só sob o aspecto material?esquecendo-se do espiritual
    comseu capitalismo selvagem?Ou o único caminho certo seria como pregava Marx "o econômico é a mola propulsora do mundo"?.Transfiram tudo isso para nosso País ainda subdesenvolvido ou em desenvolivimento, e concluimos:quantos desencontros e quanta bobagem, principalmente quando os exemplos vem do primeiro mundo!Imaginem nós dentro desse contexto?O resultado é esse quadro distorcido, nebuloso,perdidos no espaço,com essa corrupção voraz e perniciosa no governo, e também com a colaboração de toda a sociedade civil,tanto ricos como pobres, uns roubando mais que os outros,matando, seqüestrando ,estuprando e o que é pior que parece tudo acontecer sob o manto de uma política e de uma justiça despreparada e incapaz,quiçaz corrompida ou corrupta.Para onde vamos?Com o tempo os homens aprenderão a ter consciência, e com atitudes positivas farão com que a vida valha a pena de ser vivida.Será?Um forte abraço a todos.

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  3. Ainda em nosso País, as pessoas acham normal os absurdos acontecerem; não estranham as situações não corretas, nem mesmos quando se deparam com corpos mortos na beira de uma praia, simplesmente passam por cima, ao lado não estranham nada, achando que é normal uma realidade tão doentia como também é a nossa.
    Que pena, chegamos ao estágio que o capital humano está valendo menos que uma moeda.
    Mas, ainda restam os sonhadores, os que estranham, os que se importam, e lutam para ver uma sociedade , um país onde a chama pequenina do amor vai resplandecer.

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  4. È triste ver que o ação dos político é tão egoista onde passam por cima das pessoas até mata se for necessário.
    Hoje o crime é tratado como uma coisa normal,a doença dos políticos está na consciência e no coração.
    Parabéns!

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