POR MARIO INGLESI:
Dr. Ricardo
Meu caro doutor, seus textos parecem querer mexer apenas com vespeiros. E, desta feita, com um vespeiro de abelhas africanas. Imagine só: as diversas maneiras de formar e preservar a saúde cerebral, tendo em vista as necessárias exigências de movimentações humanas em proveito da plasticidade do cérebro, a fim de se ter uma vida existencial saudável para si e para os outros que o rodeiam.
É realmente assunto auspicioso, e, que requer sabedoria. Isso porque saúde é tema até de brindes, ao alçar-se copos ou taças em ocasiões especiais ou cerimoniais. E, até mesmo em espirros longos ou breves, há sempre alguém por perto para aclamar "SAÚDE". Portanto, saúde, hoje em dia é assunto corriqueiro, e, em se tratando do corpo então, transmudou-se de saúde para “estética” do corpo, para gáudio do comércio e da indústria e até de entretenimento. Haja vista a proliferação de academias, personal trainers, espaços diversos em prédios para sauna, ofurô, e aparelhagem diversa para ginástica, fisicultura, além de produtos diet e light, e centenas de campanhas em prol de um corpo esbelto e faceiro, com as tais “barrigas tanquinho”, muita musculatura, e silicones por todos os lados (Na frente ou atrás, ou ambos) botox, pinturas e mais pinturas, bem como inúmeros outros expedientes que escondam inimagináveis defeitos ou envelhecimento. Enfim, saúde tornou-se sinônimo de imagem. Para isso, enganosamente se olha, comumente, no espelho e se brada, como na história infantil:
“Espelho, Espelho Meu, Haverá Alguém mais Bela (ou Belo) do que Eu?
Diante disso, o cérebro e sua saúde ficaram completamente esquecidos, relegados ou apenas lembrados e reconhecidos como o mais importante órgão humano, com o advento de alguns traumas inesperados ou doenças as mais diversas e sombrias como a loucura, em suas diversas modalidades, a amnésia, o “Coma” o AVC e, principalmente, talvez a mais horrenda delas, o Alzheimer, cujo aparecimento não muito visível e, muitas vezes, de equivocado ou tardio diagnóstico, faz com que o paciente e os que o rodeiam carreguem um castigo em vida.
Assim, tanto o poder público como o privado e assemelhados não oferecem a mínima atenção à saúde do cérebro ou a práticas, as mais corriqueiras, a seu favor. Possivelmente a única insistentemente lembrada quando o cérebro oferece alguma pequena falha, é a corriqueira lembrança de sua ativação através das “Palavras Cruzadas”.
No entanto, o cérebro é o órgão que mais nos fascina, principalmente, pelos mistérios que o envolvem, mas também pelos atos e atitudes que propicia, causando-nos deslumbramentos, medos e repugnâncias.
Portanto, é por demais convidativo a leitura do texto sobre a neuroplasticidade - partes I e II – para atentarmos o quanto é importante e significativa a prática constante da ativação do cérebro, para que comumente ele tenha uma vida, senão plena, pelo menos vigorosa, com espaços para novos e importantes conhecimentos e informação, e não apenas empanturrado com o factual diário de notícias e coisas, na maioria das vezes, sem importância.
Torne-se, um ser vivo em sua plenitude, como bem propõe o texto: diversifique, diferencie, cerque-se de amigos, vivencie momentos especiais, de maneiras diferentes, experimente sempre e verá que o tempo lhe será prazeroso e o cérebro obviamente lhe agradecerá por isso, mostrando-se solerte e vivo como sempre o desejamos.
Como se vê, doutor, a sua caminhada segue a passos largos, abrindo constantemente estradas, vias e veredas cada vez mais auspiciosas para a vivência humana e sua saúde.
Com relação ao seu texto “Pílulas de Saúde para os Pais”, só me resta acrescentar-lhe, como mera ilustração, o “Poema Enjoadinho”, de Vinícius de Moraes.
Filhos… Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete…
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los
Mas se não o temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
Vinícius de Moraes – Poesia e Completa e Prosa - Ed. Nova Aguilar, 1985
Com o meu agradecido abraço, a expectativa de seus novos e profícuos ensinamentos.
Mário Inglesi 07/08/2011
Grande poetinha. Que saudade! Precisa dizer mais? Talvez só que, nós damos ao mundo nossos filhos, mas o mundo não agradece nem um pouco, e nos deixa com grandes angústias quanto aos seus lugares dentro deste mundão sem a mínima estrutura para acolher esse ser maravilhoso que é o ser humano. No fundo, os filhos são do mundo, porém, as responsabilidades são todas nossas. E quem não tem condições nos mais variados aspectos, acaba transformando esses seres em pobres coitados, sofredores ou "fazedores" de sofrimentos. E aí? Cadê o Estado, etc...? Grande abraço de uma mãe, como todas as mães. Lembra da Mãe do "Guri", do Chico?
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