POR MÁRIO INGLESI - "A ALEGRE SORRATEIRA" IV - CONTINUAÇÃO
O sétimo selo (1957) - Ingmar Bergman - Imperdível
Mas, preocupar-se com a morte própria ou
alheia e individual, manifesta-se dobrar-se a ela e entregar-se, como, aliás,
fazem muitos, inutilmente, esquecidos de que, na vida, nunca se passará pelo
mesmo caminho.
É preciso, antes de mais nada, olhar ao
redor, verificar quantos olhos, de matizes diversos estão aí para serem
observados e vistos em sua profundidade; quantos rostos de fisionomias díspares
e intrigantes estão em nossa frente para serem admirados; quantos braços estão
abertos para receberem o entrelaçar de abraços; quantos desejos estão despertos
para serem satisfeitos em bocas e seios; quantos rituais belos como o amanhecer
ou alvorecer, o anoitecer, estão para serem apreciados juntamente com os gorjeios
dos pássaros, os ruídos dos ventos, o farfalhar das folhas nas matas e o rugir
dos animais, o marulhar das ondas, enfim, que a natureza e a humanidade estão a
nos oferecer. Então para que ensimesmarmo-nos com a morte, se tudo em volta
viceja em favor da vida, da continuidade dela. É preciso, isto sim, aprender
com a morte, repensá-la continuamente com o caminhar dos jovens e suas vidas em
floração. Esse é o mote que se nos
apresenta, tal como a personagem do cineasta polonês, Krystof Kieslovski,
(1941-1996) no filme “A Liberdade é Azul”, pois, se a morte – segundo dizem – é
destino, diga com Paulo Leminski (1944-1987):
“não discuto com o destino
o que pintar eu assino”
(in Poesia Jovem Anos 70, Ed. Abril
Educação, 1982).
A morte como o futuro é coisa
imprevisível, de inocuidade total de se preocupar. É um non sense, como mostra
o poeta Cacaso (1944-1989).
- Como foi?
- Com revólver, arrebentou
a
cabeça. E nem sangue bastou
pra desatar seus cabelos.
O desespero cortou-se
pela raiz.
- Impossível, como foi?
- Assim.
- Mas como?
Dizia que estava desanimado,
que as coisas não faziam sentido.
Ultimamente
já nem saía de casa.
(Cacaso, - “O Futuro Chegou”, in Poesia
Jovem Anos 70. Ed. Abril Educação, 1982).
Agora, se você é fissurado em morte, o
melhor mesmo é vê-la através da literatura ou do cinema e outras artes, ou
compungir-se com a morte de Jesus Cristo. Aí sim, são mortes advindas da
criatividade e, portanto, dignas de compreensão, admiração, de choro, de
piedade, de reflexão, de sonhos e devaneios, como são as mortes das heroínas
Marguerite Gautier (A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas), Emma Bovary (A
Madame Bovary, de Flaubert) ou Ana Karenina (Anna Karenina, de Leon Tolstói) e outras
heroínas e heróis como Romeu e Julieta (Shakespeare) ou Ceci e Peri (O Guarani,
de José de Alencar), Hamlet e Ofélia (também de Shakespeare), Dom Quixote (de
Cervantes), bem como outras mais de heróis e heroínas gregos. Todos eles ainda vicejam
mundo afora: são mortes, belas, sensíveis, encantadoras e, vejam só: imortais!
Na mesma pedra se encontram,
ResponderExcluirConforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
Mario Quintana.
Grande Quintana né? Sábio até na morte.
ExcluirBj.