IKIRU - Réquiem para Pina Bausch / Tadashi Endo
É também preciso convir que a “morte” não
é mero “estranho no ninho” ela faz parte integrante da vida: “Tudo que nasce,
um dia morre”. Assim, apenas preocupar-se com a morte fora de nós mesmos, não é
o bastante, é irrisório. É preciso cuidar e muito dos conteúdos irrelevantes e
nocivos que entram pela nossa boca ou pelo nosso cérebro, que também se
manifestam como “crônica de uma morte anunciada”.
Assim, um consumo alimentar desenfreado e inadequado,
em razão de excessos de aditivos, gorduras, e nutrientes inadequados, depaupera
o organismo, cria epidemia de obesidade, e conduz, como o ingerir
refrigerantes, em excesso, a doenças mórbidas que levam paulatinamente a
“morrer sem querer morrer”. O mesmo
acontece com o cérebro. Se o enchermos ou preenchermos, inadvertidamente, com
excessos de informações inúteis, não deixando espaços primordiais às noções
imprescindíveis ao desenvolvimento e desempenho mental, também se esboçam,
ainda que sorrateiramente, doenças que o levam à ruína e à morte,
paulatinamente,
Ainda que com certo exagero de manifestação
da autora, tenha-se, sempre em conta, o pensamento da escritora Susan Sontag (1933-2004)
(in FSP – Mais!, de 22/10/2006):
“Gosto de me sentir burra; é assim que há mais
coisas no mundo além de mim.”
Com isso, obviamente, o indivíduo terá
consciência de si mesmo numa viagem ao interior do EU, com reflexões
importantes à altura de uma existência digna, mesmo diante da morte e suas
implicações materiais e imateriais, num preparo satisfatório a sua compreensão e
seu enfrentamento.
Assim, embora saiba de seus estragos, é
preciso convir:
A vida é um hospital
Onde quase tudo falta
Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta
(Fernando Pessoa, in “Quadras ao Gosto
Popular”, Obra Poética, ed. Aguilar, 1972).
Ou
ainda,
“A morte de tão depressa
Nem repara no que faz.
A cavalo de galope
A cavalo de galope
me deixou sobrante e oco”
(Carlos Drummond de Andrade, in A morte a
cavalo, Poesias Completas, (ed. Aguilar),
Portanto, nós humanos, devemos batalhar
para não engendrarmos, por inoperância, descaso ou simplesmente afoiteza, um
viver supérfluo, apenas vegetativo ou improdutivo: “A Morte Absoluta”.
“Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: “Quem foi?…”
Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome”
(Manuel
Bandeira: “A Morte Absoluta” in Poesia e Prosa - Ed.Aguilar).
No viver para a morte, o ser humano apesar
da sua consciência sobre a sua finitude e dos avanços da ciência para prognosticar
o final, o ser humano, nas horas vagas, no silêncio de seus momentos, só, no íntimo
de seu ser, padece sofregamente ao saber – só ele – por antecipação, que um dia
haverá a volta para casa, - perecerá - voltará ao pó de onde veio. Não haverá
mais o ego dominante, do querer ou não querer. A esse padecimento congrega-se o
trabalho diário, intenso, insano em favor do cumprimento das obrigações que lhe
impingem a vida social e o poder público, para afinal, render-se, muitas vezes,
à velhice, e suas doenças inimagináveis e fatais. Que sina, hein!
Diz o Mário:
ResponderExcluir"É preciso cuidar e muito dos conteúdos irrelevantes e nocivos que entram pela nossa boca ou pelo nosso cérebro, que também se manifestam como “crônica de uma morte anunciada”."
Cpmplementa o dr. Ricardo:
-IKIRU - Réquiem para Pina Bausch / Tadashi Endo
-Ikiru (Viver) - Akira Kurosawa 1952
-OS IRMÃOS TANATOS E HIPNOS (O MORTE E O SONO)
Conteúdos não faltam e aqui temos estes dois ótimos exemplos. É só ficarmos atentos aos que nos são impostos, e, filtrá-los.
Abraços e parabéns aos dois.
Vamos refletir esta frase de Hans kelsen, filósofo grego,e concluirmos qual seria o seu sentido e alcance:
ResponderExcluir"Se aquilo que eu penso que o outro deve fazer fosse uma modalidade de dever-ser, então aquilo que eu penso que o outro faz também seria uma modalidade de ser".
O que seria o mundo do "ser" e do "dever ser".
Abraços
Roberto