POR MÁRIO INGLESI - "A ALEGRE SORRATEIRA" V - CONTINUAÇÃO
Meet Joe Black - Encontro Marcado - A morte e o Amor...
É preciso ter em mente, ainda, que a morte
é tema recorrente que paira como uma sombra que se espraia e se agiganta sobre
os nossos sonhos, fracassos e mais ainda, sobre o envelhecimento, quando além
de perdermos entes queridos, perdemos as nossas referências culturais e não conseguimos
mais nos enxergar no espelho como nós mesmos, tal como acontece a Willy Loman
personagem principal de Death a Salesmaan (a Morte do Caixeiro Viajante), drama
do dramaturgo americano Arthur Miller.
E mais, a morte viceja deslumbrante e de
modo imortal, não apenas no cinema e nas artes cênicas, mas também nas artes
plásticas, desde há muito, em quase todas as suas modalidades e escolas, a
começar pelas deslumbrantes figuras de Cristo e sua crucificação, e os mais
diversos movimentos históricos, como revoltas, revoluções e guerras que assolaram
o nosso Planeta desde eras remotas, cuja afixação em telas fizeram a glória de
artistas plásticos, desde o classicismo e o barroco até dias bem próximos,
como, no Brasil, por exemplo, despontam em Portinari e Lasar Segall.
As
mortes que nos devem realmente preocupar são as sociais, aquelas advindas da
inépcia ou omissão, descaso das autoridades, ditas competentes, dos
preconceitos, das balas perdidas, da matança dos moradores de rua, da
higienização citadina, ora em voga, da fome, que ainda campeia em larga escala
por todo lado, das inundações, dos deslizamentos de terra e consequentes
soterramentos de famílias inteiras, das moléstias advindas da ausência de
saneamento básico, das mortes ocorridas nas cadeias e presídios, em brigas e
matança por um espaço onde se possa respirar. Todas essas, e outras mais
merecem, sim, nossa atenção, nossas horas em claro, nosso infortúnio, nossa
revolta, mas devem mais ainda, promover a nossa mais profunda reflexão, pois
elas nos podem atingir, a todos, involuntariamente.
Além da vida - Heareafter - A morte e a sorte...
Nessa mesma instância, cabem as mortes
oriundas das guerras – “a desmedida de todas as coisas”, (Daniel Pizza.
Aforismo sem Juízo) – ora localizadas – advindas por injunções de interesses da
indústria bélica e dos países que as fomentam por interesses escusos, como, por
exemplo, a salvaguarda do petróleo para o fomento de suas indústrias
congêneres.
Tais mortes que somam à destruição,
invalidez ou mutilação de um enorme contingente de pessoas a céu aberto, por
estarem em campos de batalha muitas vezes desconhecidos e muito distantes, não
criam em nós outros, maiores embates de sofrimentos, dores ou mal estares, ou
mesmo repulsas, pois não conseguimos nem de longe, suspeitar o quanto de horror
fomentam tais guerras e suas mortes anônimas. Só mesmo lendo os vários artigos
da escritora Susan Sontag que esteve in loco na Guerra da Bósnia, ou, vendo
alguns filmes que tratam da guerra do Afeganistão, como, por exemplo, “O
Caminho de Kandahar”, (2001) do cineasta Molsen Makhmalbc, ou da guerra do Iraque,
como “Filho da Babilônia” (2009), de Mohamed Al Daradji, para termos, mesmo que
ficcionalmente, ideia atual da mortandade que envolve, com suas guerras de
destruição material e humana incalculáveis, ainda em pleno século 21, o nosso
Planeta Terra. É preciso convir também que nessas guerras – só restam, por
último, a enormidade de entulhos e os abutres em cima da carniça - não há
vencidos nem vencedores, e muito menos heróis, ou vilões, mas apenas vítimas,
sejam quais forem os lados, como muito bem focou o cineasta Quentin Tarantino,
em seu filme “Bastardos Inglórios,” (2009).
Em se tratando dessas mortes obscuras e insanas, é
preciso conclamar em alto e bom som, com Maiakovski:
“Odeio
a morte e seu mortiço.
Adoro
aquilo que é vida.”
(de Vladimir
Maiakovski (1893-1930) “Jubileu”, trad. Haroldo de Campos, in Antologia da Poesia
Russa Moderna, ed. Civilização Brasileira, 1968).
Muito pertinentes as considerações do Mário sobre a morte por preconceitos, sejam eles quais forem.
ResponderExcluirImagine matar um morador de rua, um pobre desvalido.
Sem comentários!...
Abraços.
E viva a vida bem vivida.bjs
ResponderExcluirComo dizia a minha avó: "...para morrer, basta estar vivo!"
ResponderExcluirAchava isso engraçado talvez pela aparente simplicidade da proposição.
Porém hoje vejo que viver não é tão simples. Creio que porisso tememos a morte.
Talvez por não termos vivido com tanto entusiasmo...
Olá!
ExcluirSobre o porquê da morte, caso haja intreresse, veja como pensa Tolstói no livro: "Onde existe amor, Deus ai está" no capítulo "Trabalho, Morte e Enfermidade"
"—Somos muitos Severinos
ResponderExcluiriguais em tudo na vida.
Morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia,
(de fraqueza e de doença,
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
(...)
— Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina.
Mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar, como há pouco,
em nova vida explodida
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida
como a de há pouco, franzina,
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."
João Cabral de Melo Neto,
Morte e Vida Severina.
Gênio!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA morte realmente não existe, o que realmente dói é falta que a presença física vem a machucar o nosso coração, pois é necessário que a morte aconteça para que habitemos esferas superiores ou inferiores dependo da nossa conduta neste planeta escola que nos ensina por meio de provas e expiações.
ResponderExcluirO segredo é viva a vida com alegria para no futuro colhermos bons frutos, pois o verdadeiro tesouro esta em nosso coração.
Parabéns anjo da guarda!