POR:
BERNARDETTE VILHENA
Consultora pedagógica em empresas, percebo a
carência individual em aspectos ligados ao Desenvolvimento Pessoal. Queixas de insatisfação
pessoal, semblantes apagados, falas carregadas e falta de motivação. Me alegro
quando é possível participar dessas vivências e mostrar a Vida por outro
ângulo: o das possibilidades. Após me perguntar se eu poderia colaborar na
formação humana dos estudantes, um universo se abriu quando passei a ensinar Relações
Humanas para alunos de 17 a 23 anos.
Como educadora, constato a todo o momento, o quanto
as disciplinas relacionadas ao Desenvolvimento Humano são promotoras de saúde. Entender o sentido existencial, perceber a
singularidade em cada ser vivo, respeitar a diversidade, educar a inteligência,
mas também o sentimento, buscar a saúde emocional e olhar além do breve período
existencial aqui na terra, são apenas alguns dos desafios que esta formação
propõe. Isso pode ser feito adentrando-se no sagrado, complexo e instigante
universo interior do ser humano. Um olhar baseado na formação integral,
conforme Comenius no século XVI:
“Educar
para iluminar todos os homens com a
verdadeira sabedoria, para ordenarem suas vidas com verdadeiros governos e para
uni-los a Deus com a verdadeira religião, de modo que ninguém se equivoque em
sua missão neste mundo”.
A atitude respeitosa do educador é um
poderoso agente de transformação, criando um ambiente amistoso para que trocas
significativas ocorram. Como consequência, muitas vezes o professor acaba aprendendo
mais que ensinando!
O estímulo a mudanças de comportamento
é o fio condutor do trabalho, através de pesquisas acadêmicas e textos
científicos na área do desenvolvimento humano, sempre buscando observar,
compreender e harmonizar o ponto onde se encontram o sentimento e a atitude
frente ao mesmo. Exemplos cotidianos provocam a identificação instantânea percebida
nas reações e expressões corporais dos alunos.
A participação nas propostas é intensa,
nas palavras deles: “em contato com
pontos de vista diferentes, enxergando a vida em suas inúmeras possibilidades,
sentindo-se capazes de entrarem em contato com sua essência, transformando aos
poucos suas atitudes”.
A partir de “ferramentas” promotoras de
autoconhecimento, se coloca em prática o aprendido, na medida em que se
responsabilizam pelo que acontece em suas vidas. Aprendem sobre a necessidade de uma alimentação mental e emocional
saudável, quando questionados sobre como conduzem o seu cotidiano:
programas de TV, músicas, conteúdos na internet, relacionamentos desordenados,
pensamentos autodestrutivos, comportamento ético entre outros.
O caminho das mudanças de
comportamento é longo e cheio de percalços, conforme o poeta:
Autobiografia em cinco capítulos
1. Ando pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio...
Estou perdido... Sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.
2. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.
3. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Vejo que ele ali está.
Ainda assim caio... É um hábito.
Meus olhos se abrem.
Sei onde estou.
É minha culpa.
Saio imediatamente.
4. Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.
5. Ando por outra rua.
(Texto extraído de "O Livro Tibetano do
Viver e do Morrer" -“ Sogyal Rinpoche -“)
As conquistas em seu tempo, às vezes
despercebidamente, estão ali formando novos hábitos e dias mais tranquilos.
Em um segundo momento, os
conhecimentos em relação ao Eu são transferidos para a relação com o outro,
conforme Martin Bubber, sendo a base para esse trabalho. Apesar do egoísmo
atual, onde a relação com o outro é por vezes mercantilista e sequestra subjetividade,
nesse momento o respeito e um olhar mais atento ao outro é discutido. Quando se
entra em contato com a beleza e com as dificuldades de Ser, aumentam as chances
de sermos capazes de respeitar o outro ou nas palavras de Dora Incontri:
“A educação faz com que as pessoas se sintam
responsáveis pelo outro, responsáveis pela sociedade, responsáveis pelo
planeta.”
A prática das virtudes é o agente
motivador da autorreflexão que conduz ao encontro da coerência entre sentir e agir. Toda caminhada começa com o primeiro
passo, enfim:
“A coragem mais corajosa é a do homem olhar-se
a si mesmo. É preciso buscar, sim... o que se oculta por dentro de nós.” (Rousseau)
Abraço com a certeza de que o conhecimento
liberta!
Nenhum comentário:
Postar um comentário