Graça Mota Figueiredo
Médica Psiquiatra Especialista em Cuidados Paliativos (mottacruz@terra.com.br)
Eu convivi muito pouco com a minha avó
paterna; tinha 5 anos quando ela morreu...
E ela
morreu suavemente, tão suavemente quanto sempre viveu...
Morreu
silenciosamente, sem fazer barulho, assim como fez a vida toda...
Eu era a
única filha do seu filho mais velho, a quem ela idolatrava; transferiu prá mim,
talvez, o amor que sobrava, depois de amar muito o filho. Não me fiz de rogada:
amava-a com paixão!
Ela me
protegia escandalosamente: me tirava da cama onde meus pais, ótimos educadores,
tinham me colocado na hora certa de criança dormir.
Brincava
comigo do que eu quisesse, até ouvir os passos deles voltando do cinema ou da
visita a amigos; aí, numa cumplicidade deliciosa, cobria os meus olhos
brilhando e o meu cabelo suado e despenteado, no melhor estilo de
alcoviteira...
Eu a
adorava!
Como meu
avô já morrera há muito, ela passava temporadas com cada um dos filhos. A sua
chegada em casa se parecia com o Natal, pouco importando que não fosse
dezembro.
Ela sempre
se fazia anunciar, como uma grande dama, ou apenas porque sabia que assim,
temperado pela espera, o meu prazer ficava maior.
Uma noite,
entretanto, ela chegou sem aviso...
Sentou-se
na beira da minha cama, me acordou suavemente, fez sinal de silêncio com o dedo
nos lábios, e eu entendi que aquele momento era só nosso.
Conversamos
a noite toda; não guardei a nossa conversa, mas me lembro até hoje do calor da
sua mão na minha testa, do sorriso doce e amoroso presente a noite toda no seu
rosto enrugado.
Em algum
momento ela me disse que ficasse bem quietinha até a manhã do dia seguinte,
porque precisava ir embora.
Crianças
são só sentimento e muito pouca lógica; deve ter sido por isto que não achei
estranha a sua presença sem aviso e nem me assombrei com a partida dela em
plena madrugada...
Dormi de
novo, envolta na expectativa das nossas brincadeiras dos próximos dias.
Pela manhã
meus pais me acordam, e eu soube que o momento era sério...
A expressão
dos seus rostos não me deixava dúvida, e eu achei melhor não falar de alegria
naquela hora; deixaria para falar da vovó mais tarde. Mas não tive chance: eles me contaram suave e delicadamente, que ela morrera
naquela madrugada.
Só muitos
anos mais tarde eu contei a eles que a vovó estivera comigo enquanto morria.
Este foi o
nosso segredo por muito tempo...
Absolutamente maravilhoso porque aconteceu exatamente a mesma experiencia comigo e meu avö que tambem me visitou no momento de sua morte!Parabens pelo relato emocionante!
ResponderExcluirAna Cristina Guimaraes-medica
Que experiência linda.
ResponderExcluirTenho lindas lembranças de minha Avó paterna, em modesta parte ela me amava muito; as vezes sonho com ela, e com meu pai também.
Não sei, o amor de Avó de Avô são mágicos onde a fantasia se faz presente e tudo parece uma eternidade sem fim.
Obrigada Dra. Graça por ter compartilhado essa experiência tão maravilhosa.
E isso aí Ricardao .Meus filhos tem um super contato com os avos e sentem realmente isso.Espero um dia ter muitos netos para curtir!!! Abraços Fábio Peluzo
ResponderExcluirÉ ...
ResponderExcluirsempre precisamos de calor e de laços verdadeiros. obrigada pelo presente. beijo
Mila
Que relato lindíssimo,e como é bom para a alma curtir essa demonstração do verdadeiro AMOR.Amar é isso , ou seja sòmente doação e mais nada.Obrigado queridos doutores Ricardo e Graça.
ResponderExcluirIntensamente... preciso,
ResponderExcluirPrecisamente... intenso,
Amorosamente... significativo!!!
Um beijo
Marisa Caldeira
È meu anjo da guarda!
ResponderExcluirQue linda história, um momento suave e sem tristeza um momento de amor demonstrado.
Beijos.
Michele Medeiros