sábado, 1 de dezembro de 2012

SOBRE VIVER E MORRER COM SAÚDE VI

POR MÁRIO INGLESI - "A ALEGRE SORRATEIRA" VI - CONTINUAÇÃO DE:


http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/09/a-alegre-sorrateira-i-viver-com-saude.html
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http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/10/sobre-viver-e-morrer-com-saude-iv.html
http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2012/11/sobre-viver-e-morrer-com-saude-v.html


O sétimo selo - diálogo de Antonius Block com a Morte

 

Entretanto, se porventura, a morte, sob qualquer circunstância é causadora de medo, náuseas, ou mal estar, se não se deseja nem ouvir falar dela, pois simbolizam, tal como as figuras literárias dos “vampiros” (Drácula, Nosferatu, Frankenstein et caterva), o desejo, a morte, a imortalidade, não é preciso esconder-se, ou fechar os olhos, ou virar a cabeça para o outro lado, procure lembrar-se de que tais atitudes são inoperantes, cujo teor revelam apenas reverência e resignação – valores religiosos, cujas atitudes explícitas apontam para o poema-prosa de Mário Quintana:

O Bicho
Quando quer fugir dos outros,
Faz um buraco na terra.
O Homem
Para fugir de si
Fez um buraco no céu.
(“As Covas”, de Mário Quintana in “A Vaca e o Hipogrifo,” ed. Círculo do Livro, 1972).

Se isto, não o acomodar, procure assistir à série, de TV paga, “A Sete Palmos” ou algum filme do José Mojica Marins (o Zé do Caixão), onde brinca com a simbologia céu e inferno, ou ainda, veja o seu programa semanal na TV paga (Canal Brasil) e deixe os seus medos e seus desconfortos com a morte, de lado.  Ou então, derrame sua tristeza, lendo, serenamente, porém, com o coração bem aberto, e receptivo à dor, os sonetos:

Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste

(in Sonetos de Camões, Edição Saraiva, 1955).

ou ainda:

Querida ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro
(“À Carolina” Poesias Completas, - Machado de Assis, Ed.W.M. Jacson, 1953).

É preciso lembrar-se que a intermitência do correr da morte, durante a nossa vida, é fato do qual não dá para se fugir ou se esconder, ela é companheira contumaz. Em assim sendo, o melhor é encará-la, compreendê-la e, uma vez aceita, saber lidar com ela, seja no âmbito familiar, dos amigos, ou na profissão, em que ela é useira e vezeira, como, na medicina, na enfermagem, e outras afins. Que o diga, aliás, o Dr. Dráuzio Varella, médico oncologista, que retratou, de maneira bastante delicada, sem perder a fleugma sentimental da dor, mas com comedimento e vasta carga humana, os casos de morte que perfazem o conteúdo de seu livro “Por Um Fio”, no qual faz desfilar afetos e mistérios que só a morte próxima proporciona por ocasião da agonia e, quiçá, da glória, de seus escolhidos.


Biutiful - A vida por um fio

Em assim fazendo, poderá erigi-la, sem medo, sem constrangimento, ou maiores sofrimentos, como nossa mais fiel companheira e parceira em nossa vida terrena, pois é manifestamente incompreensível apenas o desejo a que muitos são levados por morrer.
 Eis aí – valha-me Deus! Que aflição!  A floração que o tema da morte, - ah! Sempre a morte! A nos atingir dentro e fora de nós mesmos - felizmente, me faz surtir, como as “chaves de casa” para abrir as portas e escancarar as janelas sempre e cada vez mais, em favor da vida, e sua preservação, queiramos ou não, com o objetivo concreto, satisfatório e primordial de não ver a morte minimamente alvissareira e vitoriosa, ainda que, de todo modo: “Viver não é passear por um jardim” (in Boris Pasternak (1890-1960) é preciso com John Donne declarar:

Oh! Morte, que alguns dizem assombrosa
E forte, não te orgulhes, não é assim;
Mesmo aquele que visastes o fim,
Não morre, não te vejo vitoriosa.
Vens em sono e repouso disfarçada,
Prazeres para os quais tu surpreendes;
E o bom ao conhecer o que pretendes
Descansa o corpo, a alma libertada.

Serves aos reis, ao azar e às agonias,
A ti, doença e guerra se acasalam;
Também os ópios e magias nos embalam,
Como o sono. De que te vanglorias?
Um breve sono que a vida eterna traz,
Golpeia a morte e Morte morrerás.
(John Donne (1572-1631) in “Holy Sonnets” (Sonetos Sagrados, 1615), cujo poema acima foi traduzido por José Almino, publicado na FSP –Mais!, pág. 32, em 05 março 2000).


7 comentários:

  1. Quem será o/a grande vencedor/a?Sòmente haverá certeza de tudo ou de nada conforme a FÉ?Morte eterna ou vida eterna?Quanta dúvida e incerteza pairam sobre os pobres mortais!?Será preciso morrer para viver?ou nascer de novo para saber ?Com certeza , ...veremos.ou com incerteza ,...não veremos!?...

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    1. Amigo/a anônimo/a!

      Penso que a tensão dos opostos aparece na idéia de nascer e morrer. A vida, por outro lado, não tem oposto; é plena e assimila em si nascimento e morte, como um movimento fluídico sem possibilidade de ser abarcada e quiçá compreendida! Entretanto, como nos habituamos a ter conhecimento, ter experiências, ter sentimentos, nos desacostumamos ao fluir, ao soltar, ao contemplar, característicos do viver e do ser...

      No Universo, como Rohden ensina, existe o Uno ("lar" do infinito pleno) e existe o verso ("lar" dos finitos parciais); o universo é tudo isso e traz a vida em seu movimento. A vida é o próprio movimento e não o brevíssimo glamour do vencedor ou a certeza temporária dos, como você diz, pobres mortais...

      De qualquer modo, como você convida: Ver ou não ver, eis a questão...

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  2. Prefiro jogar xadrez com a vida!Se vencer ...vivo.Se perder.o que acontecerá?Quem sabe que me responda.Como vencer?Como perder?Gratíssimo.

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    1. Caro Anônimo/a!

      Preferências habitam o mundo quantitativo dos fatos; a Vida, por outro lado habita o mundo qualitativo dos Valores; conforme Rohden nos ensina no livro: Filosofia da Arte (A metafísica da Verdade revelada na Estética da Beleza).

      Os adversários, com quem jogamos, são experiências factuais, e servem apenas de cenário para o grande mistério e valor, disfarçados no movimento da vida... Vencer ou perder são experiências factuais, o Valor, parece estar, em Viver e saborear o "jogo"

      Meu pai me ensinou um joguinho: "quem perde ganha", que hoje me ajuda a entender, um pouco, sobre o que o Rohden falava...

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  3. Na verdade nós jogamos com elas - vida e morte - o tempo todo. e elas ali só na espreita!...Claro que quando jogamos com a vida podemos sair ganhando e, ver a outra mais distante. mas também jogamos com a maligna o tempo todo... Tudo que fazemos é querer nos distanciar dela, por isso lutamos tanto pela vida. É um verdadeiro ringue mesmo, como nos mostra o Bergman com seu Sétimo Selo ou, como Saramago nas Intermitências da Morte. Portanto tudo que fazemos pela vida é contra a morte, mas, ela está como essas risonhas caveirinhas, só se divertindo e contando: cada segundo a mais um segundo a menos. E assim vai...

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    1. Bonito isso da arte não?

      O sétimo selo; intermitências; caveirinhas risonhas; "biutiful"...

      Tudo sempre nos ajudando, pela lente da beleza, a olhar para a vida em atitude de reverência e gratidão.

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  4. "A morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver. A branda fala da Morte não nos aterroriza por nos falar da Morte. Ela nos aterroriza por falar da Vida.

    Na verdade a Morte nunca fala sobre si mesma. Ela sempre nos fala sobre aquilo que estamos fazendo com a própria Vida, as perdas, os sonhos que não sonhamos, os riscos que não tomamos (por medo), os suicídios lentos que perpetramos.

    Embora a gente não saiba, a Morte fala com a voz do poeta. Porque é nele que as duas, a Vida e a Morte, encontram-se reconciliadas, conversam uma com a outra, e desta conversa surge a beleza…

    Ela nos convida a contemplar a nossa própria verdade. E o que ela nos diz é simplesmente isso: “Veja a vida. Não há tempo a perder. É preciso viver agora! Não se pode deixar o amor pra depois…!”
    (Rubem Alves)

    Memento Mori: lembrar que morreremos (para lembrar que vivemos!)

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