segunda-feira, 8 de maio de 2017

SIMETRIA VI – O PARADOXO, UM PARADIGMA?


Continuação de:

Jesus disse: Se a carne foi criada por causa do espírito, isto é uma maravilha, mas se o espírito foi criado por causa do corpo, isto é a maravilha das maravilhas. No entanto, maravilha-me como essa grande riqueza veio a estar nessa pobreza. (Apócrifo – Tomé: 29)


No artigo "A mente mente", encontramos um curioso caso de simetria, de um lado o convite à fonte e de outro um caminho ao umbigo, contingências da tensão na caminhada entre aquele que é buscador e aquele que busca a dor. A mente é o ponto de inflexão desta simetria. Mente que para o ocultista é filtro das qualidades superiores em manifestação e que o manifesta, enquanto que para o cientista é espelho que reflete o mundo dos sentidos e o explica.
O paradoxo, um disfarce da simetria, é uma situação além do alcance da razão. Grosso modo, a ciência moderna foge dos paradoxos como “o diabo da cruz”; aliás, eventualmente utiliza-os, de forma marota, como substrato para aumentar a consistência de suas premissas e metodologias. Veja aqui uma lista de paradoxos:

        A negação apriorística de possibilidades, modus operandi de alguns cientistas, é o caminho escolhido pelos cruzados da ciência moderna, a despeito da máxima: “Ausência de evidência não significa evidência de ausência”. Todo cientista pode e deve sempre refletir sobre seus pressupostos.
        Assim, um paradoxo, bem como a simetria, não trata necessariamente de um par de opostos, mas de um par semelhante, que longe de oposição, aponta o novo à luz de perspectiva inusitada; a partir de um de seus inúmeros pontos de vista. O oposto de “algo” é mais próximo de um “não algo” que sua reflexão (pensamento espelhado).
        Das simetrias que me fascinam, a questão do material e do espiritual está entre as que mais despertam “anticorpos” no cientista materialista, dada a impossibilidade atual de aproximação qualitativa e quantitativa da mesma. Vista pelo materialista como relação do tipo “existe – não existe”, torna a priori infundada qualquer tentativa de estudo. Entretanto, pode haver benefícios práticos ao bem viver em tentativas salutares e não apriorísticas de abordagem do desconhecido, do improvável, do impossível, do espiritual.
Claro que a ciência deve zelar pela construção racional da compreensão do mundo físico em suas manifestações; refiro-me aqui apenas à necessidade de algum ramo (Ex. Fenomenologia de Goethe), que se dedique ao campo de fronteira entre a compreensão do físico (possível de ser desmembrado) e o suprafísico, que antes de ser permeado, quiçá desmembrado, precisa ser concebido pela ciência. Conceber algo guarda longa distância de conceituar algo. Ser concebido implica possibilidade (potência), situação muito aquém de ser compreendido.
Na proposta de Heidegger, o compreender algo foi levado à sua máxima expressão. Segundo ele (Os conceitos fundamentais da Metafísica - Mundo, Finitude e Solidão), nunca conceberemos conceitos se não formos tomados pelo que eles compreendem. Este "ser tomado por", seu despertar e seu cultivo vigem como esforço fundamental do filosofar. Assim, compreender é sempre ao mesmo tempo um ser tomado por isso que se compreende. Isso pode ser aproximado analogicamente a um processo respiratório de outra qualidade natural, em que o “ar” é compreendido em mim na inspiração e como contraparte eu sou compreendido no “ar” quando expiro.
E se não entendeu, continue respirando, calmamente e será compreendido...

4 comentários:

  1. Já acabou? Um final abrupto. Ou um abrupto final.
    Gostinho de quero mais.
    Maria Paula

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    1. Acabou!

      O abrupto final gera um eco. Nesse eco, podemos auscultar aquilo que já sabemos sobre algo, nossas respostas...

      Tem uma história mitológica da Eco que é assim:

      Eco era uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, onde se dedicava a distrações campestres. Era favorita de Diana e acompanhava-a em suas caçadas. Tinha um defeito, porém: falava demais e, em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra. Certo dia, Juno saiu à procura do marido, de quem desconfiava, com razão, que estivesse se divertindo entre as ninfas. Eco, com sua conversa, conseguiu entreter a deusa, até as ninfas fugirem. Percebendo isto, Juno a condenou com estas palavras: — Só conservarás o uso dessa língua com que me iludiste para uma coisa de que gostas tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas não poderás falar em primeiro lugar.

      Paradoxal nosso querer mais ser visto como essa "ecoidade", não é mesmo? Ou seria mais adequado dizer paradigmático?

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  2. Adorei o último parágrafo. Grato!

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    1. Sem a piedade, irmã da compaixão, o conhecimento é saci.

      Narciso foi compreendido pelo lago, não soube compreendê-lo...

      Grato!

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