segunda-feira, 8 de julho de 2013

POEIRA DO TEMPO

Por: Elisete Dantas – Do livro “Matuta da Gema”


Já tive medo também
            no início
mas enfrentei a fera
e nunca os invadi
com uma gota sequer
            de tinta
além da que me oferece o tempo

Nunca
Nunquinha

Já fui muito incomodada
            instigada
            pressionada
por muitas pessoas, mais no trabalho
Mais ou menos, assim:
“Elisete, por que você fez isso? (Eu havia mudado o jeito de pentear. Repartira de lado e os cabelos brancos apareciam em mechas). “Pinte esse cabelo mulher. Ave Maria!”
Ou então...
“Elisete, por que você não usa hena? Não é tinta, é um xampu natural. Fica parecendo esse seu cabelo assim...”
Mais ainda;
- Você precisa pintar seu cabelo. Pinte esse cabelo.
- Mas eu não quero. Foi o que sempre disse.
É como se essas pessoas se sentissem denunciadas em suas idades escondidas nas tintas que usavam.
Sei que há cabelo pintados muito bonitos
                                    Nas outras pessoas
Em mim
não quis
Não quero

Quero exibir meus cabelos brancos
            marcados
pela poeira do tempo
Declaração por ele assinada
Onde consta que
Já estou matriculada em curso
            com duração
a perder de vista
na escola da Sabedoria
Quero exibir essa carteira de
eterna aprendiz
                        24/01/2010



4 comentários:

  1. Que lindo Elisete, que lindo!

    Eu passo por isso há muitos anos. Nunca tive medo. E, à medida que eles iam clareando, mais orgulho deles eu sentia. Eles não viraram algodão como eu gostaria, mas estão um cinza que me envaidecem. E hoje, com o passar dos anos, vem os elogios, nada necessários por sinal, mas de uma certa forma bem aceitos.
    Quando me questionaram e me questionam ainda hoje, eu apenas respondo:

    Isso é apenas uma consequência lógica do estado natural das coisas.

    E as pessoas riem!...

    Beijo

    Modesta


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  2. Ricardo,

    Diante do que se passa , se vc. souber de ondas emigratórias de idosos que se dirigem para qualquer parte do mundo, incluindo a República Oriental do Uruguay , me avise , uma vez que sou sério candidato a participar .
    ... " respeitem ao menos os meus cabelos brancos " , letra de dor de cotovelo e fase romântica da noite brasileira( Silvio Caldas) .
    Grande abraço.

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  3. Bom dia Ricardo. Muito bom o poema! Eu já tasquei tinta mesmo, mas tenho uma irmã que não quis e é bem assim mesmo. As pessoas tentam se impor, querem que ela faça o que eles querem! É lamentável!

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  4. Amei o poema.
    Minha mãezinha, tem seus lindos cabelos brancos, resultado de muita vivência e sabedoria. Mas sua filha mais nova adora passar uma shampoo colorante, não tenho tanta sabedoria ainda. Quem sabe um dia...

    Obrigada.

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