segunda-feira, 1 de julho de 2013

A IDADE MÍDIA E O PLANETA CONCRETO



A idade mídia, momento em que vivemos, chega silenciosamente, após a idade moda onde o marketing e a comparação interpessoal foram explorados ao máximo e muito tempo depois da idade média, período de grande desenvolvimento do universo das artes plásticas e musicais. Graças à possibilidade da análise de tendências que o mundo moderno permite, pode-se arriscar que a idade vindoura será a idade "muda".

Sem palavras para conseguir explicação de como a raça humana se "diferenciou" em algo tão próximo ao que foi apresentado em 1984 (Orwell), Admirável mundo novo (Huxley), trilogia Matrix (Wachowsky) e Cosmópolis (Cronenberg), só restará o silêncio e a mudez perplexa comuns aos pontos de irreversibilidade.

O humano é suposta ponta de lança da cadeia evolutiva, ao menos para os que cultuam o dissonante olhar Darwiniano, a despeito de suas limitações e incongruências, defendidas ad nauseum por seus Dawkins, Darwins, Hawkings e mídias afins, oitavas ressonantes. Alfred Russel Wallace, Johann Wolfgang von Goethe, Friedrich Schiller, Huberto Rohden, Erich Fromm, Rudolf Steiner, gratidão solene às marcas de seus passos! Erasmo Darwin, o que houve com seu netinho Charles na compreensão do que Wallace propunha? Ontem e especialmente hoje, os desvios materialistas assim como os extremamente espiritualistas, são as ilusões e liberdade a serem conquistadas pelo homem consciente.

O míope, longe de cego, apenas enxerga muito bem de perto, mas perde a capacidade de olhar ao longe, a menos que lentes corretivas sejam usadas. Por outro lado, "hipermétropes" como Sócrates, Jesus Cristo, Gandhi e porque não o próprio Kant, um míope puro, quando exclama nas páginas finais da sua hermética "Crítica da Razão Pura":

"Duas coisas enchem de maravilha meu ser, a lei moral no interior do homem e o céu estrelado acima de minha cabeça".


Não, as bactérias, os vírus e seus correlatos não são necessariamente os causadores das doenças. O corpo humano tem em sua constituição mais bactérias que células, e estas bactérias são fundamentais ao equilíbrio e à vida deste corpo. Adoecer é qualidade de um organismo desvitalizado, um psiquismo desequilibrado, uma vida sem um princípio diretor existencial estabelecido; uma vida vazia. O próprio adoecer nesse sentido é uma forma de cura, tentativa de alcançar outro estado de equilíbrio que tire a pessoa das condições de vida em que ela insiste perpetuar.

Fundamental estar atento ao trocadilho sutil: “existe doença que é cura e existe cura que é doença”. O médico escritor Guimarães Rosa vacinava com a caneta e já nos advertiu quanto a isso de outro modo, mas o mesmo:

Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”


Ou ainda, no enfoque do blog, falando na medicina da saúde:

Saudade é ser, depois de ter.” - Guimarães Rosa.


Circunstâncias e mais circunstâncias que se repetem, mas não por isso deve ser deixado de ver com atenção o degenerado estado em que o grosso da humanidade está caminhando, no sentido de sustentar o modelo atual. Josué de Castro, brasileiro renomado mundialmente, aponta com clareza e profundidade típicas aos hipermétropes, este estado de coisas. Inoportunamente, a ciência ainda não consegue explicar o porquê das palavras desta qualidade de ser só ganharem destaque quando não mais habitam entre nós.

Esses semeadores de verdades, milagre da vida neste mundo espaço-tempo, de onde será que tiram suas ideias? Alguns podem pensar, míopes: ora! de seus neurotransmissores!; outros, hipermétropes, estupefatos, como Rupert Sheldrake, suspeitar que as próprias leis que regem o mundo presente manifesto estejam em processo de evolução.

Leis da natureza em evolução? Qual é a surpresa se Kuhn mostra em "A estrutura da revoluções científicas" como um sistema de pensamento científico se sustenta? As teorias de compreensão do porquê as coisas serem como são, nada mais são que tentativas momentâneas de compreender o todo e que raramente sobrevivem o teste do tempo. Porque não vemos? Por que nossa vida é curta demais para a maioria de nós nos preocuparmos com questões de natureza ontológica enquanto há tanto para se divertir, sentir prazer e desfrutar.

Os mais velhos que poderiam auxiliar na abertura de nossa visão são vistos como desatualizados, e por vezes insistiram tanto em repetir o modelo de consumo que o próprio sentido da vida foi incorporado ao sentido de ter. Quanto ao ser, uma coincidência efêmera, produto do acaso, que uma vez expirado ganhou sentido naquilo que se possuiu e excepcionalmente naquilo que se É, para os míopes, naquilo que se foi.

7 comentários:

  1. Adorei...talvez porque tenha dito verdades poeticamente, talvez porque a poesia está na verdade...ou porque nasci hipermétrope...
    Obrigada por compartilhar suas idéias. M.P.

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    1. É M.P.

      A poesia é colírio para os olhos! E o melhor de tudo é que serve para todo mundo, míopes e hipermétropes...

      Obrigado pela sua bondade

      R.J.

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  2. Muito lindo! Toca profundamente a sensibilidade, que se pudéssemos leva-la sempre como companheira, seriamos todos sãos! Abraço para ti e obrigado.

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  3. Sempre muito perspicaz os teus textos. Tenho observado as pessoas doentes que conheço e prestando atençao aos detalhes, à maneira e o que ela fala, fica claro entao o porque de algumas doenças. Continue nos brindando com as tuas reflexoes. E em breve vamos bater um papo. Abraço, Shirley.

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    1. Oba!

      Assim que passar aqui pelo Brasil combinamos algo!

      Enquanto isso um bom verão com bastante calor aí!

      Abraço

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  4. Caro Ricardo,
    Mais um que apreciou este profundo e inspirador texto!
    Que a paz seja contigo!
    Daniel (do GEENL)

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    1. E contigo também Daniel - na linguagem esquecida: Deus é meu juiz.

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