terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

ROMA E NIETZSCHE




Alguns amigos meus apreciam esse pensador contemporâneo Nietzsche. Para conversar com eles li alguns livros que esse cavalheiro simpático de bigode escreveu. Depois do livro “O Anticristo”, onde o autor descreve a célebre “Lei contra o cristianismo”, bem nas últimas páginas, com os sete artigos famosos, prossegui aprendendo no “Ecce Homo” o porquê de ele escrever livros tão bons assim como o porquê de sua sabedoria e inteligência. Muito interessante sua forma de escrever e explicar!
Lendo, entretanto, o livro “Além do Bem e do Mal”, fui surpreendido pela coincidência sincroníssima de assistir ao filme Roma. Sim, pois a tensão que se mostra na compreensão da mulher em cada uma das obras é tão intensa que chama a atenção do leitor.
Em “Roma” a mulher é retratada como pilar de sustentação, pedra fundamental, pedra angular, enquanto o homem é ser de qualidade lastimável e que deixa a desejar pois: não assume seus compromissos, é tosco, foge quando o contexto se torna complexo e finalmente se situa inevitavelmente em um dos extremos que vai de uma mansidão servil a uma agressividade cega e sem fundamento. O filme retrata as qualidades femininas e surpreende ao expor as limitações de um masculino caricato. Curiosamente caricato, mas facilmente identificável nos noticiários e nas telenovelas da atualidade.
No capítulo “Nossas Virtudes” de “Além do bem e do mal” do filósofo niilista encontra-se uma compreensão da mulher curiosíssima e de qualidade diametralmente oposta. Senão vejamos no fragmento 234 onde se lê: “... Se a mulher fosse uma criatura pensante teria descoberto, cozinhando a milênios, os mais importantes fatos fisiológicos, e teria também aprendido arte da cura! Por más cozinheiras – por total ausência de razão na cozinha é que a evolução do homem foi mais longamente retardada, mais gravemente prejudicada: isso pouco mudou em nossos dias”. Uma visão particular do autor a respeito das mulheres; um convite a pensar.
É curiosa a forma como o autor compreende e descreve a mulher na referida obra, em especial no que se refere às “Sete máximas de mulher”, onde ele se solta e esbanja em intensidade e potência:
1-      Como voa para longe o tédio, quando um homem nos faz o assédio!
2-      A idade, ai! A ciência e a cultura tornam virtuosa até mesmo a menos pura.
3-      Vestido escuro e boca fechada: faz toda mulher parecer – dotada.
4-      A quem sou grata a vida inteira? A Deus – e a minha costureira!
5-      Jovem: caverna com flores. Velha: um dragão diz horrores.
6-      Nome distinto, olhos de fera, além disso homem: ah, quem me dera!
7-      Palavra curta, sentido amplo como um rio: para a jumenta, gelo escorregadio!
Finalmente, o pensador expressa sua apreciação ao trato às mulheres no oriente e nos convida a meditar a respeito. Assim no fragmento 238 lemos: “Mas um homem que tenha profundidade tanto no espírito como nos desejos, e também a profundidade da benevolência que é capaz de rigor e dureza, não pode pensar sobre a mulher senão de modo oriental – ele tem de conceber a mulher como posse, como propriedade, a manter sob sete chaves, como algo destinado a servir e que só então se realiza; ele tem que se apoiar na imensa razão asiática, na superioridade de instinto da Ásia, tal como antigamente fizeram os gregos, esses grandes herdeiros e discípulos da Ásia...”.
Compor uma síntese onde o feminino e o masculino sejam contemplados em sua importância e inteireza não é simples. Tal síntese, no entanto, é desejável no momento presente. A leitura de obras que se contrapõem auxilia na visita aos espaços recônditos, dos preconceitos e das limitações, mas principalmente é convite ao autoexame. Assim como o autoexame da mama tem utilidade na profilaxia do câncer de mama, o autoexame da alma e a compreensão sincera de nossos limites pode ser de grande utilidade na profilaxia do “câncer” na alma.
Na sua opinião, entre as polaridades masculino e feminino, qual está cumprindo melhor seu compromisso com a história humana?



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