domingo, 17 de fevereiro de 2019

ASPECTOS DO PENSAR E DESACELERAR I


Por: José Geraldo M. Meireles - Psicólogo

Era Primavera: as flores exalavam em profusão perfumes, e os pássaros cantavam.
Nesse clima de festa, conta a lenda: um filho sacudido pelo entusiasmo e um pai tranquilo caminhavam por uma montanha. De repente, o menino cai, machuca-se e grita: ai! Para sua surpresa, escuta sua voz repetindo-se em algum lugar da montanha. Curioso, o menino pergunta: quem é você? Contrariado grita: seu covarde! E escuta a resposta: seu covarde!
O menino olha atentamente para o pai e indaga: o que é isso? O pai sorri e diz: meu filho, preste atenção. Grita em direção à montanha: eu admiro você! Você é campeão! A voz responde: você é campeão!
O menino espanta-se e não entende. O pai explica pacientemente. As pessoas chamam isso de eco, mas, na verdade, isso é da vida que lhe dá de volta tudo que fala, deseja de bem ou de mal aos outros. Devolverá toda blasfêmia, inveja, incompreensão, falta de honestidade que você desejou às pessoas que o cercam. Nossa vida é o reflexo de nossas ações. Se quer mais amor, compreensão, harmonia e felicidade crie mais amor, compreensão, harmonia e felicidade no coração. Agindo, assim, meu filho, a vida lhe dará felicidade, sucesso e amor das pessoas que o cercam.
Desde a infância, a autoimagem é formada por crenças, convicções e valores. Forma-se a base da personalidade. A autoimagem positiva aponta para comportamentos construtivos; a negativa, para comportamentos destrutivos.
O sucesso é, também, moldado pela autoimagem que se constrói: “sucesso e vitória estão a serviço da vida, e triunfo está ligado à arrogância e à morte, pois implica em destruir o outro ou pisá-lo”. Diante do sofrimento e da carência dos outros, o arrogante não se sensibiliza, o que é atributo da pessoa imatura e egoísta.
Tempo há, pesquisas científicas diversas comprovam que pensamentos positivos ou negativos podem apontar para respostas fisiológicas correspondentes.
Do imaginário à realidade, ante as contradições brutais de nossa época e a repressão advinda de elementos culturais, percebo que algumas pessoas se sentem ansiosas e tensas. Muitas vezes, a incerteza instala-se. Sob a égide do livre arbítrio, deparam-se com dilemas inevitáveis: “o que podem, o que querem e o que devem fazer”. Isso envolve o princípio do prazer – o desejo é inquietante e indomável – e o princípio da realidade.
Não acredito que os anseios da pessoa consciente e corajosa restrinjam-se a uma casual e modesta participação na realidade socioeconômica contemporânea.
A nova dimensão da realidade e as mudanças trazem turbulência e geram ansiedade acentuada. É chegado o momento de banir modelos rígidos de trabalho. O homem e suas motivações são dinâmicos. Mesmo no ambiente competitivo do trabalho, toda pessoa é um ser sensível e racional. Sua caminhada se faz através de todas as possibilidades que lhe são inerentes: o agir segue o ser – ensina o filósofo S. Tomás de Aquino.
A geração da década de 1960 – da qual fiz parte – injetava utopia na veia e pautava-se por ideologias solidárias: mudar o mundo, derrubar ditaduras, desigualdades sociais, redirecionar a ordem das coisas etc. Na atualidade, com raríssimas exceções predominam a mesmice e a mediocridade.
In Sêneca – filósofo – vida é profundidade e não extensão. As pedras existem, mas inertes, não vivem. “Se a vida está na ação, mais vive aquele que mais age”.
A igreja católica é sábia quando, em sua profunda psicologia da vida escrevia sobre os túmulos daqueles que morriam na mocidade, mas com as mãos repletas de virtude esta belíssima inscrição: este morreu na mocidade, mas foram longos os seus dias. Feliz é o homem que sabe que não sabe e vai à busca do saber – esclarece o psicólogo Dr. Agostinho Minicucci (1918-2006).
John Barrymore – ator inglês – alerta que a pessoa envelhece, quando os lamentos substituem os sonhos.
A massagem e o relaxamento são eficazes para estimular a secreção de endorfinas – analgésicos poderosos cujo fluxo proporciona bem-estar, mantendo o equilíbrio entre o tônus vital e a depressão.
Após o banho, revigora-se o ânimo. No banheiro, a pessoa despe-se dos resíduos do corpo (higiene pessoal) e da mente. Desfazem-se as máscaras sociais, e advém a sensação de alívio.
Cada nau tem a sensação de descobrimento, porque o mar não guarda vestígio das quilhas anteriores. O sábio e experiente navegador que a conduz sente a realização de sua própria vida em cada parcela de verdade por ele conhecida, ao contemplar a dinâmica das ondas. Movido pela vibração intensa, pode intuir que “sabedoria é a memória da experiência”.
Renovar-se, pois, significa entregar à morte tudo o que é ultrapassado, para que o novo possa expandir-se livremente. Desprender-se de coisas que, um dia, foram boas e de ideias que foram relevantes, mas, com o passar do tempo, ficaram ultrapassadas.

Referências

LEITE, S. M e MEIRELES, J.G. Ser...Gerente, Mg. Editores Associados – São Paulo, 1988.
REGINATO, G. Artigo: É hora de desacelerar. Jornal da Tarde – São Paulo, 2006.
JORNAL – Hospital Santa Cruz, São Paulo, 2002.
PELLEGRINO, H. A Burrice do Demônio, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1989.
BETTO, F. O que a vida me ensinou – Editora Saraiva – São Paulo, 2013.
CURY, A. Ansiedade – Editora Saraiva – São Paulo, 2014.
PESSANHA, A. L. S. Além do Divã – Casa do Psicólogo – São Paulo, 2004.
MENTE CÉREBRO – Revista – Os Tormentos da Ansiedade – Ano XVIII – nº 219, São Paulo.

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