CONTINUAÇÃO DE:
Por Josué de
Castro – A geopolítica da fome vol. 1 – 8ª ed. Pág. 127.
Quando procuramos agrupar,
dentro de um critério geográfico, os países de altos coeficientes de
natalidade, superiores a trinta, verificamos que são todos países tropicais de condições
geográficas e econômicas impróprias, tanto à produção como ao consumo de proteínas
de origem animal. A alimentação, de predominância vegetal, desses países,
constitui um dos fatores decisivos, influindo no segredo de sua prolificidade.
Se compararmos os coeficientes de natalidade e os consumos de proteínas de
origem animal, no mundo inteiro, verificaremos que existe franca correlação entre
os dois fatores, baixando a fertilidade à proporção que sobre a taxa de consumo
destas proteínas.
Apresentamos, a seguir, um
quadro de países dos mais diferentes coeficientes de natalidade, desde os mais
elevados aos mais baixos, e no qual se evidencia, de maneira significativa, a
citada correlação:
PAÍSES
|
COEFICIENTES
DE NATALIDADE
|
CONSUMO
DIÁRIO DE PROTEÍNAS ANIMAIS (g)
|
FORMOSA
MALAIA
ÍNDIA
JAPÃO
IUGOSLÁVIA
GRÉCIA
ITÁLIA
BULGÁRIA
ALEMANHA
IRLANDA
DINAMARCA
AUSTRÁLIA
E.U.A
SUÉCIA
|
45,6
39,7
33,0
27,0
25,9
23,5
23,4
22,2
20,0
19,1
18,3
18,0
17,9
15,0
|
4,7
7,5
8,7
9,7
11,2
15,2
15,2
16,8
37,3
46,7
56,1
59,9
61,4
62,6
|
Estes dados foram retirados das
estatísticas de 1950, apresentados no estudo de Lynn Smith (Population Analysis
– 1948) sobre problemas de população e de uma publicação da FAO sobre o consumo
de proteínas no mundo.
Estes aspectos do problema
alimentar referentes à influência da dieta sobre a reprodução constitui o ponto
mais debatido de nosso trabalho. Desde que apareceu a primeira edição desse
livro em 1951, várias críticas foram formuladas, principalmente tendo-se em
vista que a ciência clássica da nutrição sempre considerou o fato de que uma
dieta rica em proteínas constitui uma condição indispensável à boa capacidade
reprodutiva. Considerando a alta importância desse assunto, pela repercussão e aplicação
social que poderá ter esta teoria no campo prático da política demográfica,
tomamos a deliberação de prosseguir em nossos trabalhos experimentais sob cujos
resultados pretendemos publicar um trabalho especialmente dedicado ao problema
da alimentação e reprodução. Aproveitamos, no entanto, a oportunidade do
aparecimento desta nova edição para apresentar, de forma sintética, alguns
fatos novos oriundos da investigação de outros estudiosos da matéria e da observação
de fatos sociais que confirmam os nossos pontos de vista.
(Estes fatos e observações constam nas páginas 129-131 da presente obra
referenciada no início do texto).
Com estas observações e estas
cifras, desejamos concluir por afirmar que, em última análise, a multiplicação exagerada
da espécie, por sua excessiva fertilidade, constitui também uma forma de fome
específica, uma das mais estranhas marcas do fenômeno da fome universal.
Este aspecto do problema tem, a
nosso ver, importância primordial, desde que fornece base biológica para apoio
de nossa teoria – a teoria da fome específica como causa de superpopulação; da
fome provocando o lançamento intempestivo, no metabolismo demográfico do mundo,
de produtos humanos fabricados em excesso e de qualidade inferior.
Como o mecanismo através do qual
se exerce esta ação desequilibrante e degradante da fome crônica sobre a evolução
demográfica dos grupos humanos envolve aspectos econômicos e sociais, ao lado
dos aspectos biológicos, deixamos para desenvolver o assunto na ocasião oportuna,
ao estudarmos o problema da fome no Extremo Oriente, área onde a superpopulação
relativa se apresenta, nitidamente, como uma das mais estranhas e graves manifestações
de fome específica.
Oi, querido amigo.
ResponderExcluirMuito bom, você, trazer este assunto à tona, e, principalmente, lembrar-nos que existiu um cara chamado Josué de Castro, cuja preocupação deveria ser lembrada sempre pelos meios de comunicação vigentes e por todos que se preocupam com o bem viver para todos indiscriminadamente.
Aliás, isso parece não ter muita importância nos dias de hoje, cuja modernidade consiste na aceitação dos lucros desejáveis por poucos, acima de tudo.
Beijo
Modesta
Olá Professora Modesta!
ExcluirDe fato, deveríamos ser um pouco mais cuidadosos com nossos pensadores não é mesmo. Vivemos um tempo em que o não pensar parece estar na vanguarda.
Aliás, será que esses cavalheiros ímprobos que por aí desfilam no planalto do salto alto, tal qual mulas sem cabeça, não se envergonham pelos seus filhos e família? Fico a imaginar que tipo de educação teriam recebido a ponto de abafar tão bem todo suspiro moral, menor que fosse.
Se o Dr. Guimarães Rosa estivesse entre nós diria: "O que não é Deus, é estado do demônio"
Beijo