quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

DESOSPITALIZAÇÃO FAZ SENTIDO PENSAR ALGO ASSIM?


      O filósofo e pedagogo Ivan Illich é um humano sabidão. Digo “é” pois a qualidade maior do ser e dos que são, é a eternidade. Eternidade lá e aqui, lá fácil entender, mas aqui enquanto privilégio dos que semearam a verdade trazida no coração desde lá longe no sem tempo até o momento do nascimento no tempo aqui no planeta azul. Sabidona é uma pessoa que consegue pensar soluções em meio a situações e ambientes inóspitos.
Por pensar inóspitos, Ivan nos convida à possibilidade de uma sociedade em que a educação poderia acontecer sem escolas e a saúde sem hospitais. Loucura? De forma alguma! Em obra extensa e de clareza admirável, o autor aponta caminhos para a construção da inusitada proposta.
https://vimeo.com/66948476 - Entrevista com Ivan Illich

Os ministérios da educação e saúde podem e devem zelar para que obras de pensadores sabidões e capazes de pensar o novo possam ser traduzidas com mais brevidade, especialmente em países como o Brasil em que os orçamentos destinados ao colegiado, grupo, ministério ou “patota da saúde” são mais rechonchudos comparativamente aos demais ministérios.

Hermes e Asclépio com três de suas filhas e alguém que implora

        Hermes é a divindade grega relacionada ao comércio e seu símbolo é o caduceu; Asclépio se correlaciona com a prática médica, sendo citado logo após Apolo no tradicional Juramento de Hipócrates. Na figura acima, aparece acompanhado de três de suas filhas: Higéia (higiene, limpeza e prevenção), Panacéia (a solução para todos os males, a síntese da saúde) e Meditrina (longevidade). Iaso (recuperação da doença), Agléia (Esplendor, Graça e Beleza) e Aceso (o processo da cura) também são suas filhas, apesar de não retratadas aqui.
      Toda exploração e aproximação simbólica visam auxiliar o humano na lembrança de conceitos e saberes predispostos à corrosão temporal e, portanto dos valores com os quais se relacionam; no presente caso vem à tona a relação entre a arte e os aspectos mercantis relacionados. Caro amigo, observe o olhar de Asclépio para Hermes assim como a posição de súplica do homem na representação acima e compreenderá a que me refiro.
A imagem grita o que palavras apenas balbuciam. Lembre-se ao saborear as belas propagandas oferecidas na atualidade; as maiores mentiras são, geralmente, contadas por personagens bem aparentados, em muitos casos contraexemplos práticos das mensagens propagadas. Já se disse que a mentira repetida muitas vezes se torna verdade; repitamos verdades apenas e que a inanição cumpra sua função com o resto.
Ivan Illich
Illich, no contundente texto Medical Nemesis, apresenta com lucidez ofuscante os tópicos que esclarecem a tensão saúde-doença, assim como a cri$e de confiança que a medicina moderna atrave$$a. Veja-se a situação recente dos hospitais da cidade maravilhosa neste início de 2016. Lembremos conforme se repete aqui ad nauseum que: cuidar da saúde é simples e barato, correr atrás da doença é complexo e dispendioso.
A discussão sobre iatrogênese proposta por Ivan aponta o leigo e não o médico como portador da chave para a solução dos problemas que ele designa como “epidemia iatrogênica”. Emancipação requer vontade e para tal o pensar não pode estar alienado ou anestesiado; a pessoa deve fazer algo para melhorar (ser agente) e não esperar que o terapeuta faça algo por ela (ser paciente). Nas palavras de Ivan em 2003 no Journal of Epidemiology & Community Health :
“A saúde designa um processo de adaptação. Não é resultado de instinto, mas de vida autônoma e reação à realidade experimentada. Ela designa a habilidade de adaptação a ambientes em mudança, de crescer e de envelhecer, de se curar quando lesado, de sofrer e da expectativa pacífica da morte. A Saúde envolve o futuro também e inclui portanto a angústia e os recursos internos para viver com ela.
A habilidade humana em lidar com sua fragilidade, individualidade e capacidade de se relacionar de forma autônoma é fundamental para sua saúde. Na medida em que a pessoa se torna dependente na lida com sua intimidade ela renuncia à sua autonomia e sua saúde declina. O milagre verdadeiro da medicina moderna é diabólico. Ele consiste em fazer não apenas indivíduos, mas populações inteiras sobreviverem em desumanamente baixos níveis de saúde pessoal. Apenas os operadores de sistemas de saúde não sabem que a saúde diminui na mesma medida em que se oferecem mais serviços de saúde, precisamente porque suas estratégias decorrem de sua cegueira à inalienabilidade da saúde.
O nível da saúde pública corresponde ao grau em que os meios e as responsabilidades na lida com a doença estejam distribuídos entre a população total. Esta habilidade em lidar pode ser aumentada, mas nunca trocada pela intervenção médica nas vidas das pessoas ou das características higiênicas do ambiente. Aquela sociedade que possa reduzir a intervenção profissional ao mínimo proverá as melhores condições para a saúde. Quanto maior o potencial para a adaptação autônoma em si, aos outros e ao ambiente, menos procedimentos para adaptação serão necessários ou tolerados.”
Abaixo, um pouco mais do trabalho desse humano que até pouco esteve entre nós:


Um comentário:

  1. Cara Professora Rosi,

    Se me permite, em que área a senhora professa atualmente?

    Por gentileza, tudo o que publico nesse espaço é público. Sinta-se à vontade para usar o material conforme os ditames de seu coração.

    Conte comigo em que eu possa lhe ser de alguma utilidade.

    Atenciosamente

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