quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

VOCÊ É INSUBSTITUÍVEL?


            Boa parte do que consideramos saúde decorre do sentido que atribuímos à nossa própria vida.  Nada contra uma vida sem sentido, decorrência natural da fé nos “genes egoístas”, se é que podemos atribuir caráter ao material genético. Mas se por um lado alguns se renderam à ideia do “humano máquina” – resultado das escolhas de seus genes – não somos poucos os que vivem percepção diversa.
        De fato, conforme se vive, com maior clareza se aprecia a distância do comportamento humano daquele das máquinas. Enfatizo só se notar isso entre os optantes pela opção “viver”, pois dentre os que optaram apenas por “existir” ainda é comum se observar o comportamento do tipo máquina. A propósito, acho já lhe perguntei antes, mas repergunto: você está vivendo ou apenas existindo?
O comportamento tipo máquina não possui fundamento próprio senão aquele para o qual a “máquina” foi programada. Isso é muito importante para elas, que se pensassem causariam problemas, mas no caso do humano a situação se inverte, sendo não pensar o gerador do problema. Ironia, justo esse não pensar subjaz ao adoecimento silencioso do ser. Silencioso, pois não há apenas saúde e doença, mas largo espectro de apresentações passando por duas situações geralmente subdiagnosticadas, sejam elas o estado de subsaúde e o de pré-doença. Mais comuns do que se possa imaginar, decorrem da capacidade natural de cada pessoa, eventualmente à revelia, se adaptar a situações e contextos de vida ainda que contrários a seus valores pessoais existenciais.
Esses valores pessoais deveriam funcionar como motivadores existenciais e são únicos a cada ser humano que, reforço, optou por funcionar no modo “viver”. São eles que determinam o sentido pessoal da vida de cada um de nós. Entretanto, conforme cotidianamente a pessoa se afasta dos mesmos, ganha espaço um estado progressivamente comum de esvaziamento interior. Este afastamento é potencializado por estímulos externos ao ser e por outro lado é contornado em situações de cultivo da realidade interior com maior ênfase. Curiosamente hoje a atenção está sendo direcionada cada vez mais para fora que para dentro. Nada contra isso em si, mas do ponto de vista médico tudo contra não se aperceber disso!
Ora, se o sentido da vida é tão imprescindível e Viktor Frankl já falou um pouco a este respeito, pelo menos cabe aos que “vivem” perguntarem-se: “Eu estou vivendo aquilo que para mim faz o maior sentido?” ou ainda: “Faz sentido ao profundo do meu ser a forma como venho vivendo?”.
Essas questões, feitas de maneira honesta e em recolhimento evocam a percepção interior de ser ou não insubstituível naquilo que se faz. Esta noção é fundamental para a compreensão da ideia de saúde. Somos tanto mais saudáveis quanto mais próximos desse sentido pessoal e optaremos melhor tanto quanto nos percebermos únicos dentro deste processo de escolha. A busca pessoal pelo sentido da vida é condição sine qua non para a saúde plena. O afastamento do princípio diretor individual eterno (ser) decorrente das benesses do culto temporal ao ter pode ser prenúncio de caminho pouco auspicioso.


 Temos acompanhado repetidas vezes as dificuldades dos humanos em conseguir não usurpar a coisa pública; diga-se de passagem, colegas nobres com seus genes egoístas advindos de “genética nobre” estão fazendo escola, mas escola de como não fazer. Bom exemplo hoje é artigo de luxo. Quem diria presenciaríamos em vida a eleição, conforme Gil em Guerra Santa, do bom ladrão?!
De qualquer modo, isso tudo parece se relacionar à questão da zona de conforto que muitos cidadãos buscam em sua vida: fazer um pé de meia, comprar uma terrinha, uma casinha na praia e tudo isso para quando eu me aposentar... Tudo indica que muitos pretendem “existir” até a aposentadoria e a partir daí começar a “viver”.
Do ponto de vista médico, entretanto observa-se fenômeno bisonte, seja o adoecimento que se dá, não raro, justo no momento derradeiro da conquista tão esperada. O humano que funcionou até então no modo predatório “ter” tenta passar a operar, aposentado, em modo para o qual não se preparou a vida toda, o modo “ser”. Observo no cotidiano que esta mudança comportamental, quando tardia, cobra alto preço de seus adeptos, sendo a doença em todas as suas nuances o principal sintoma. Assim, acredito ser questão de saúde pública a se considerar: educar as referências sociais para inspirar e instilar saúde nas instituições e nas pessoas que delas fazem parte. Coisa simples para o que boa vontade e amor no coração seriam medicações mais que suficientes.
Neste regime, o supremo tribunal do amor (STA) seria a instância máxima não a punir senão por questão de saúde pública arcar com os custos da internação (eventualmente perpétua) e reabilitação psiquiátrica dos contraventores e megalomaníacos que se perderam de si em favor da cobiça. Veja, por favor, que escrevo isso por acreditar e vir falando que “Saúde é Consciência”, de modo que na atualidade com tudo o que se sabe já se poderia estar em situação razoavelmente melhor...
Bem, tudo isso para chegar à questão título desta pequena reflexão: “Você é insubstituível?”. Para alguém ser insubstituível precisa ser único, ímpar, inigualável, genial, tudo isso sinônimos da palavra indivíduo. Para saber se você é insubstituível imagine que neste instante deixará de existir aqui na terra (Pause 30 segundos...). Se perceber que tudo em que estás envolvido continuará acontecendo com ou sem sua presença, isso sugere que você seja substituível, decorrência de operar no modo existir.
Caso tenha se incomodado, isso não é ótimo, mas é bom sinal e indica haver interesse e vida em você. Ser insubstituível requer ser único! De fato, cada um de nós é único e o que nos torna insubstituíveis é ser e viver este aspecto único que trazemos, sentimos, portamos interiormente e manifestamos. Para alguns de nós este algo único é luminoso e pode ser até mesmo visto ou percebido pelos outros e pelos seus cinco sentidos físicos; para outros este algo único é silencioso e sua luz de tessitura tal que transborda, sustenta e une tudo aquilo que está além dos cinco sentidos físicos. Aqui não há melhor ou pior, é na diferença que o único ganha espaço; a diferença é uma das linhas do tecido do amor, sem a qual ele não se pode manifestar, ao menos não aqui nesse texto...
Ser único não é garantia de vida fácil (zona de conforto), mas garantia de alegria e felicidade pelo simples fato de estar harmonizado ao seu principio diretor, seu sentido existencial. A propósito, felicidade é critério pessoal e não droga ou medicamento encontrado em farmácia ou livro de receitas. Em Jó é possível aprender sobre a dicotomia ter e ser, assim como os benefícios e a superioridade do segundo modo em relação ao primeiro. Ninguém é condenado ou obrigado a ser feliz assim como ninguém deveria acreditar que felicidade significa a mesma coisa para todos, como se tenta definir no dicionário.

"Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade” Mário Quintana

Finalmente, quando se ressalta o aspecto único de cada ser como responsável pelo seu caráter insubstituível, seja lembrada a analogia com o quebra-cabeça. Cada uma de suas peças é única e o todo só se compõe quando cada uma ocupa seu lugar exato. Cobiçar algo, desejar ser como alguém ou mesmo invejar são prerrogativas do modo “ter” que colocam em risco a individualidade, torna as peças do quebra-cabeça iguais e impossibilita sua completude. Houvesse duas ou mais peças iguais e o todo estaria comprometido. Da mesma forma, a pessoa que É se torna insubstituível por transbordar a partir de si e não por algo que lhe foi depositado, atribuído ou que a constitua a partir de fora.

2 comentários:

  1. Quantas peças extraviadas, né?
    Ainda não se percebeu que importante é o eu na sua totalidade e não na sua aparência, seja lá qual for.
    Só pode acabar em doença, e nem se precisa esperar pela aposentadoria!!!

    Beijo querido Ricardo.

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  2. o desejo de ser insubstituível todos nós temos só não sabemoscomo fazerpelo simples fato de que as pessoas consideram outros fatores mais importantes do que a própria simplicidade de ser feliz!

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