quinta-feira, 4 de setembro de 2014

SEXUALIDADE E SAÚDE III – ESCOLHAS E ESCOLAS

Continuação de:

Causa-me espécie observar o tratamento dos meios de informação quanto ao desenvolvimento da sexualidade. Questão aberta e complexa é sobrevoada na literatura desde a escolástica celibatária a seu extremo na libertinagem de marquês de Sade. Curiosa associação esta da função criadora ao prazer; enfim, fazer o que?
Recentemente na Folha de SP, Rosely Sayão, partilhou experiência pessoal insólita em matéria intitulada: “A convivência com a internet”, onde situação de sexo oral ocorrida em escola particular foi disponibilizada na rede. Vale ler e refletir sobre nossas escolhas e por que não sobre nossas escolas e currículos? Aliás, currículos ou burrículos?
      Nessa primeira semana de setembro os relógios paulistanos de propaganda disseminados nas vias públicas estão propagando o assunto da sexualidade a todo vapor: em primeiro lugar, aquela moça jovem, seminua com cara de medo, que comentei em - Sexualidade e Saúde II - retornou em trajes de pantera cor de rosa; em segundo e vindo de baixo, quando o letreiro roda, sobe uma garrafa de bebida à base de cevada (aliás, do modo como é feito, a moça parece quase estar sentada sobre a mesma); completando a trindade fatídica o letreiro rotativo informa, em propaganda de preservativo, que o dia que antecede a independência do Brasil é o dia do sexo, sugerindo o trocadilho do 6/9  (6 de setembro) com o número 69 - não entendi bem, mas parece haver algo subliminar senão sublime aí.
      Neste último caso, a sugestão do letreiro, em português erudito é: "VamoSe Misturar". Tudo isso é muito interessante mas não tão curioso quanto a campanha para a oficialização do dia do sexo um dia antes do dia 7 de setembro! Mas, no fundo, se for para o bem de todos e a felicidade geral da nação, dizer o que ao povo? Fico ou não fico eis a questão!
      Por isso tudo, não surpreende o relato de Sayão, afinal crianças gravadas exercitando o ritual do sexo oral estão apenas reforçando o modelo que está sendo oferecido a elas. Acredite, crianças aprendem imitando os mais velhos - até nos maços de rolinhos de tabaco já se escreve algo parecido. No outro país, onde o Reino é Unido, relógios publicitários e propagandas com crianças são punidas com rigor, acredita-se podem servir de estímulo a pessoas com instintos pedófilos entre outros, veja como em:
  
No célebre tratado sobre “A Pedra do Reino”, que entendo leitura escolar obrigatória, no “quilômetro” 199, o sábio corifeu brasileiro, Ariano Suassuna, nos presenteia entre inúmeras outras, com esta pérola, reflexão breve, nem por isso superficial!
Em A Renegada, a única coisa que me interessa é que se mostra, ali, o homossexualismo e certas formas de amor pervertido entre Emília Campos e seu marido, o velho e impotente Desembargador Palma! Isso me interessa, por dois motivos. Primeiro, mostra as chagas causadas pelo ócio dos ricos e pelo mofo das alcovas burguesas! Depois, porque os desviados sexuais são, no fundo, revoltados contra a sociedade! Eu, como bom revolucionário e adversário da Ordem, tenho horror é à figura do “bom cidadão”, do homem de boa consciência, do “homem normal”! A perversão sexual é uma forma de revolta! É verdade que um tanto inconsequente, como também é inconsequente a revolta do Cangaceiro! Mas, de qualquer maneira, tanto o Cangaceiro como o homossexual são, no fundo, dois agentes da Revolução!
– Agentes da Revolução, no fundo? – protestei. – O homossexual pode ser, o Cangaceiro não!
– Lá vêm as saídas de Almanaque! Quaderna, não estamos em Véspera de Reis não! Estou discutindo uma tese séria, que vai ficar registrada em nossas atas!
– Essa é boa! – defendi-me. – Diz que o homossexual é um revoltado no fundo, e quer se zangar porque eu acho graça! Você está falando sério Clemente?
– Claro que estou! Quando o homossexual se recusa a aceitar os padrões morais da classe privilegiada, está, a seu modo, protestando, como o guerrilheiro, contra a ordem estabelecida!
– Tá, Clemente, com esta eu não contava! – disse eu, espantado. – Nunca pensei que dar o rabo fosse uma forma de guerrilha! Mas se você fosse fazer um romance, era assim que você faria? Era seguindo Os Cangaceiros, de Carlos Dias Fernandes, e mostrando a revolta desses guerrilheiros, juntamente com uma porção de homossexuais revoltados no fundo?
O Filósofo encarou-me gravemente:
– Olhe, Quaderna, eu não perderia meu tempo escrevendo romances, de jeito nenhum! Sou um Filósofo, um Sociólogo, e tenho meu tempo ocupado em obra muito mais séria! Mas como você é um impenitente charadista e leitor de Almanaques, um ávido devorador de enredos grosseiros, vou lhe dizer como faria um romance, caso esse gênero literário e frívolo me interessasse!


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