sexta-feira, 1 de março de 2013

PANACEIA – POR UM ASTRÔNOMO




Os Sete Eus - Gibran Khalil Gibran


Panaceia é o nome grego da deusa que contém em si o potencial de cura para todos os males. Cura e consciência, irmãs gêmeas que o poeta consulta e transforma em medicina para a alma e para o espírito, para o Ser.
Compreender o abismo que separa as religiões e suas instituições, dos luminares humanos que irradiaram em suas vidas conteúdos espirituais é fundamental para um caminhar saudável. Quem não percebe este abismo, corre o risco de colocando tudo em um mesmo saco, deixar de se nutrir da seiva da mensagem, por confundi-la com sua aparência, determinada pelos recipientes que se apropriaram de sua essência, como máscaras que usadas por um tempo longo, se colam deformando a face da verdade. Verdade que para Drummond era assim:

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
 

Abaixo um pequeno texto de Gibran Khalil Gibran – Fragmento de “Jesus O filho do homem” em que Malaquias da Babilônia, um astrônomo, fala dos Milagres de Jesus...

            Perguntas-me sobre os milagres de Jesus.
            Cada milhar de milhar de anos, o sol e a lua e a terra e todos os seus planetas irmãos postam-se numa linha reta, e conferenciam juntos por um instante.
            Depois, lentamente se dispersam e esperam que passe outro milhar de milhar de anos.
            Não há milagres além das estações; entretanto, nem vós nem eu conhecemos todas as estações. E que seria se uma estação se fizesse manifesta na forma de um homem?
            Em Jesus, os elementos de nossos corpos e de nossos sonhos ajuntaram-se de acordo com a lei. Tudo o que era perdido no tempo antes Dele, Nele encontrou seu tempo.
            Dizem que Ele deu vista aos cegos, e fez andar os paralíticos, e arrancou demônios dos loucos.
            Talvez a cegueira não passe de um pensamento escuro que pode ser dominado por um pensamento luminoso. Talvez um membro paralítico não signifique senão uma indolência que pode ser estimulada pela energia. E talvez os demônios, esses elementos inquietos de nossa vida, possam ser expulsos pelos anjos da paz e da serenidade.
            Dizem que Ele trouxe os mortos à vida. Se me puderdes dizer o que é a morte, então eu vos direi o que é a vida.
            Observei num campo uma bolota, uma coisa aparentemente parada e sem utilidade. E na primavera, vi aquela bolota criar raízes e crescer – princípio de um CARVALHO – na direção do sol.
            Certamente consideraríeis isso um milagre; entretanto, tal milagre se realiza um milhar de milhar de vezes na sonolência de cada outono e na paixão de cada primavera.
            Por que não se realizará ele no coração do homem? Não se encontrarão as estações na mão ou sobre os lábios de um Homem Ungido*?
            Se nosso Deus deu à terra a arte de abrigar a semente enquanto a semente está aparentemente morta, por que não daria ao coração do homem soprar a vida em outro coração, mesmo um coração aparentemente morto?
            Falei desses milagres que eu considero de pouca consequência em comparação com o milagre maior, que é o Próprio Homem, o Viajante, aquele que converteu minha escória em ouro, que me ensinou a amar os que me odeiam, e assim me trouxe consolo e povoou meu sono de sonhos suaves.
            Esse é o milagre em minha própria vida.
            Minha alma era cega, minha alma era coxa. Eu era possuído por espíritos inquietos, e estava morto.
            Mas agora vejo claramente, e caminho ereto. E estou em paz, e vivo para testemunhar e proclamar meu ser a cada hora do dia.
            E não sou um dos Seus seguidores. Sou apenas um velho astrônomo que visita os campos do espaço uma vez por estação, e que gosta de observar a lei e os milagres da lei.
            E estou no crepúsculo de meu tempo; mas quando quero procurar meu alvorecer, procuro a juventude de Jesus.
            E para sempre, a idade procurará a juventude. Em mim, agora, é o conhecimento que está à procura da visão.
           
* - Do grego - "Χρίστος", Chrístos = Ungido

6 comentários:

  1. Esta sua postagem relembra-me que a mitologia, a poesia, a literatura, quando sensíveis e profundas, podem nos transportar a outros níveis de consciência - entradas para o conhecimento da Vida e da Realidade.
    Abraço,
    Leonel

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  2. Muitos dos que vivem são vivos-mortos. Mas todos os que morrem são mortos-VIVOS. A luz não está na luz. A luz está ao lado da sombra. Aquele que almeja encontrar a luz sem ao menos dar-se conta da escuridão, padece na ilusão.
    "Sem resistência não há evolução." Rohden
    Bjs
    Maria Inez

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  3. Ah! E Feliz Ano Novo :o)
    Maria Inez

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  4. Kalil Gibran é pleno de sabedoria. Veja esse pequeno texto do seu livro "A Voz do Mestre":A vida é uma ilha num oceano de solidão, uma ilha cujas rochas são esperanças, cujas árvores são sonhos, cujas flores são abandono e cujas fontes estão secas". Um abraço, Zília
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