segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

SOBRE VIVER E MORRER COM SAÚDE VII

POR MÁRIO INGLESI - "A ALEGRE SORRATEIRA" VII - CONTINUAÇÃO DE:


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Pina Bausch - Sagração da Primavera - Stravinski

 
Assim, o melhor mesmo é dar Vivas! Muitos vivas e olés e brindes à Vida!  Afinal, devemos ter continuamente em vista que:
“A Natureza de uma coisa faz outra brotar. E, da morte, uma nova vida nascer”
Lucrécio (c.98-55 a. C.)

É, obviamente, esse sentido de encarar a morte é o ideal prevalecente inclusive para as crianças, a fim de evitar dores, transtornos psíquicos e traumas futuros, dando desde logo “morte à morte” e, deste modo elaborar convenientemente o luto e as culpas, uma vez que se presenciou o desaparecimento de uma parte intrínseca da vida.
Porém, se a tanto não puder, “carpe diem”, ou seja, “Colhe o dia”, Aproveite-o:
 “Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza.
E imprime em toda a flor sua pisada.
Ó, não guarde que a madura idade
Te converta essa for, essa beleza,
Em terra, em cima, em pó, em sombra, em nada”
(Gregório de Matos, in Carpe Diem, crônica de António Cícero, FSP, 06.02.2010, pág. E12).

Ou então, como Horácio, com suas Odes, orgulhe-se de ter feito com seus escritos:
“um monumento mais duradouro que o bronze
mais alto do que a régia construção das pirâmides
que nem a voraz chuva, nem a impetuosidade dos anos,
nem a fuga dos tempos poderão destruir
Nem tudo em mim morrerá […] jovem para sempre
crescerei no louvor dos vindouros
(Horácio, Ode 3.30, trad. Pedro Braga Falcão, in Carpe Diem, ibidem).

Com todas essas atitudes de um viver saudável, a vida será melhor vivida e grandiosa, por todos nós, fazendo inclusive com que, aqueles que abreviaram suas vidas, por motivos que não nos cabem ajuizar, não mereçam nossa repulsa ou ignomínia, mas apenas compreensão e compadecimento.    
Como remate, é sempre bom ter presente que a indústria da morte – que garante, para si, uma nota “preta” (será em louvor ao luto?) já não se apresenta tão poderosa hoje em dia, dada, principalmente, às mutações que vem ocorrendo na celebração mortuária, inclusive no âmbito religioso.
Para minar e talvez fazer desaparecer parte supérflua de todo o aparato mortuário, nada melhor que começar cantarolando aos vizinhos, aos conhecidos, amigos e parentes próximos ou distantes a letra da música de Nelson Cavaquinho, “Quando eu me chamar saudade”:

Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração
Alguns até hão de chorar
E querer me homenagear
Fazendo de ouro um violão
Mas depois que o tempo passar
Sei que ninguém vai se lembrar
Que eu fui embora
Por isso é que eu penso assim
Se alguém quiser fazer por mim
Que faça agora

Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais.
Nesse particular, é sempre bem-vindo esclarecer que mausoléus, capelas, bronzes, mármores (de Carrara) vasos de cristal, fotos emolduradas, lápides com inscrições de afetividade, (verdadeiros panegíricos) e epitáfios, em sua maioria pífios, isso tudo não passa de demonstração de grandeza muita, e, inocuidade profunda.  Afinal: “serás pó,” reza a Bíblia. Melhor empreitada, sem dúvida, é fazer uma auto-reflexão e reservar, e reverter tudo à vida, aos viventes e aos sobreviventes, para tornar a vida realmente não meramente um sonho, mas uma realidade. Com isso, certamente, descobriremos a nós mesmos e ao outro. E, porque não?  Pablo Picasso - o célebre pintor que revolucionou as artes plásticas alertou: “Tudo o que se pode imaginar é real”. Portanto, nada de acanhamento, nada de superfície, só mar adentro.

 
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