POR: FERNANDO PINTO
(MÉDICO NEUROCIRURGIÃO) - fernando.neuro@terra.com.br
Fragmento do livro: "VOCÊ SABE COMO SEU
CÉREBRO CRIA PENSAMENTOS?"
...
A experiência, a vontade e os
estudos podem, assim, materializar seus pensamentos. Olhe à sua volta, tudo o
que lhe rodeia foi fruto do pensamento de alguém ou de algum grupo, que se
materializou e pode ser comercializado, trocado por dinheiro, e é assim que as
coisas têm acontecido.
Acredito que os pensamentos podem
ser classificados. Por isso, montei a proposta a seguir e tenho identificado,
com mais rapidez, atenção e interesse, certos padrões de pensamento. Vou
explicar o porquê.
Um pensamento que transita em sua
mente pode ser classificado de acordo com cinco critérios:
·
a qualidade
(se é bom ou ruim);
·
a origem (se
é seu ou dos outros);
·
a
frequência (se é passageiro ou persistente);
·
seu teor (se
é construtivo ou transformador); (a destruição não existe, pois na natureza
nada se cria e nada se destrói. Tudo se transforma, certo?);
·
sua
essência (se é trivial, circunstancial, romântico, meta ou existencial-criativo).
Os quatro primeiros critérios
são óbvios de se entender. E a classificação mais clara é binária (sim ou
não), como funciona o princípio mais básico da computação: os bits.
Entretanto, o quinto critério é especial, e a classificação binária não
basta! A essência do pensamento, o quinto critério, é o que determina seu
estado de espírito, seu humor, sua vontade; é o que o põe ou o que o tira do
foco da sua vida, do seu ponto de equilíbrio. É o que o faz andar, ou o que o
faz ficar estagnado mentalmente por toda uma vida; por mais que você prospere
profissionalmente, tenha prazer, tenha bons relacionamentos familiares e até
mesmo sinta-se satisfeito com sua vida. Sobre o pensamento enquanto essência, eu o
dividi em cinco categorias:
1. Trivial é aquele pensamento
simples, pouco elaborado. Parece que estamos em um estágio primitivo de
captação das impressões do meio à nossa volta. Geralmente, é esquecido ou
sufocado por outros pensamentos persistentes, pelo nosso pano de fundo mental
ou pelos pensamentos circunstanciais. Os grandes “insights”, “sacadas” e
“inspirações” são precedidos por esses pensamentos triviais. É o cismar. O
ficar parado olhando vagamente para o “nada”. Esses pensamentos geralmente
surgem no desenvolvimento mental infantil e nos adultos é mais possível
percebê-los no ócio. Por isso, o ócio é tão importante. Veja que o ócio
não é lazer, não é folga nem irresponsabilidade. É um momento só seu para
fazer nada e sem ninguém. É um tempo livre, mas não dura o dia inteiro: são
momentos que devem ser cultivados. O que mais se aproxima disso é aquele
momento só seu no banheiro. É o pedaço de terra virgem na lavoura no qual
você nunca vai plantar nada, mas tem de existir.
2. Circunstancial é aquele
pensamento que surge pela necessidade. É um pensamento por uma causa externa
concreta e presente. Por exemplo, ficar pensando no que deve ser comprado
quando você vai ao mercado, ou quando você é criança e é “forçado” a
estudar, ou quando você tem um problema e tem de pensar como vai resolvê-lo.
É oriundo de uma circunstância presente que o força a parar e pensar.
3. Romântico é o pensamento que
temos em relação ao outro. O outro pode ser representado pelo parceiro, pelos
amigos, pelos inimigos, pelos familiares, animais de estimação e até mesmo
objetos. Quando falamos em amor platônico, referimo-nos àquele amor no plano
mental, fantasioso, ideal. Geralmente, no início de todo e qualquer
relacionamento de qualquer tipo, vivemos um período desse amor platônico;
seria o período de paixão ardente. É quando, na verdade, ainda não
conhecemos o outro. É o pensamento acerca dos relacionamentos. Um tipo de
pensamento que permite a construção da amizade, a coesão da família e da
sociedade.
4. Meta é aquele pensamento
estratégico, de plano de carreira, de vida, de viagem. É o pensamento que
usamos para trabalhar, para executar com primor nossas atividades. Tem alto
teor intelectual. Muitas pessoas lotam suas mentes com muitos desses
pensamentos e vão longe na vida, atingem altos postos, reconhecimento,
condição financeira plausível. Tornam-se, por isso, obstinados,
trabalhadores compulsivos (“workaholic”), verdadeiros campeões e basta. São
máquinas que planejam e executam, ganham suas medalhas e, se tiverem sorte,
entram em crise psicológica algum dia e percebem a oportunidade de pensar e
melhorar antes de perderem a saúde física.
5. Existencial-criativo é o
pensamento mais sublime, de alta intelectualidade e individual. Relaciona-se
com a manipulação dos demais tipos de pensamento e com a mistura da sua
percepção com o que já foi percebido e documentado por outras pessoas, por
quem lhe criou na infância e até por você mesmo. Relaciona-se com a
inovação, com a arte, com a criação, com o entendimento do seu propósito
pessoal de vida. Não me refiro à sua profissão, seu trabalho, seus problemas
ou sofrimentos, mas sim ao que o faz acordar todos os dias e viver, no que
você acredita que vai acontecer depois da grande última aventura física
neste mundo: a morte. A decisão de um casal, ao conceber um filho, também é
permeada por esse tipo de pensamento. Um filho é a criação mais biológica
que alguém pode experimentar.
O pensamento existencial-criativo
pode surgir na forma de “iluminação”, “insight”, “sacada”, “descoberta”. Ele
traz consigo a satisfação da descoberta de um mistério, um segredo, e
transforma toda sua realidade anterior.
Exercício mental
1. Quais os tipos de pensamentos
que você tem tido no dia de hoje?
2. O que são pensamentos de meta
e sua importância para a motivação pessoal de cada uma destas personalidades:
Hitler, Gandhi, Jesus, Buda, milionários, esportistas, um mendigo?
3. Pensamentos geram realidade. Quais
foram os pensamentos decisivos que o conduziram até o profissional que você
é hoje?
4. Doutrine e respeite seus
pensamentos circunstanciais. Listas de compras, de presentes, afazeres etc.
são produzidas nos lobos frontais, e a escrita auxilia a memória. Habitue-se
a usar agenda e isso o auxiliará na execução de tarefas. Pode prevenir
certas demências e acredita-se que até mesmo o Alzheimer.
5. Identifique seus pensamentos
de metas (o que você quer fazer na sua vida? O que você quer ser?). Vale a
pena escrevê-los, isso ajuda. Entretanto, precisamos ser flexíveis porque,
assim como as pessoas mudam e morrem, as metas sofrem mudanças por
interferências externas e internas. Portanto, sugiro organizar suas metas para
um ano, para cinco anos, para dez anos e para uma vida inteira. Pense: quantos
anos acredita que viverá e o que estará fazendo no seu último dia de vida?
6. Valorize e registre seus
pensamentos existenciais-criativos (sua documentação, sobretudo em sua forma
artística, como na forma de livro, quadro, novas receitas culinárias,
arquitetura, moda, trabalhos científicos, “insights”, esses ficarão para a
humanidade!).
7. Use a fórmula matemática a
seguir para classificar qualquer pensamento seu que chame sua atenção. Os
extremos de pontuação (100 ou -100) requerem uma atitude concreta!
Classificação dos pensamentos:
A – qualidade: (1) bom, (-1) ruim
B – origem: (10) dos outros, (20) sua mesmo
C – frequência: (10) passageiro, (20)
persistente
D – teor: (10) transformador, (20)
construtivo
E – essência: (10) trivial, (20)
circunstancial, (30) romântico, (30) meta, (40) existencial-criativo.
Fórmula: A x (B+C+D+E)
Atitudes em pontuações extremas:
100 – deve ser documentado e concretizado.
Você precisa fazê-lo por meio de arte ou ciência.
-90 e -100 – devem ser discutidos com um
profissional da área da saúde mental.
Grandes ensinamentos de um grande mestre doutor.Embora nossa última aventura nesta vida física , só acaba com a morte quando seguida da ressurreição(tipo NIRVANA ou PARAISO), o que foi proposto pelo Dr.Fernando é digno de ser seguido e experimentado ,conforme foi por ele maravilhosamente muito bem explicado.Abs.
ResponderExcluirEu vou tentar...........
Oi anjo da guarda!
ResponderExcluirEsse artigo nos ensina como educar nossos pensamentos.
Beijos...
Parabéns!
Grato pelo texto, Fernando.
ResponderExcluirAbraço
Rodrigo Yacubian
Gostei...mais consciencia em relação aos pensamentos que produzimos.Grata.
ResponderExcluirAcredito que esse artigo não pode definir a priori o que é um pensamento, mas explica os tipos de pensamentos e ideias que temos no dia a dia.
ResponderExcluirExplica o que é o pensamento de forma parcial.
Gostaria de saber mais...
De fato amigo/a anônimo/a, entendo, a priori, seu ponto de vista...
ExcluirNesse sentido, para uma aproximação com maior propriedade, se me permite a ousadia de uma sugestão, seria interessante dar inicialmente uma olhada em algumas obras que talvez possam ser um pouco insalubres em um primeiro olhar. Entretanto, o exercício no pensar que elas promovem, certamente lhe serão de algum auxílio na direção de como disse, "gostaria de saber mais".
As obras que lhe sugiro são:
Crítica da razão pura - Kant
A filosofia da liberdade - Steiner
Algumas pessoas entendem os pensamentos como "secreções cerebrais", produto da neurotransmissão; outras, como material oriundo da mente que é captado pelo cérebro, neste caso antena e não mais gerador... Fica a sugestão de pensar como é isso para você.
Por gentileza, seja bem vindo a este espaço.
Até breve
Olá Ricardo!
ResponderExcluirObrigada, é sempre bom aprender mais.
Sempre falo para meus alunos: tomem cuidado com aquilo que pensam...
Os pensamentos não virtuosos/não benéficos poluem mais que as coisas materiais.
Pensamentos virtuosos com a prática é bom para todos.
Somos seres pensantes, mas hoje vivemos numa era que muitos não querem pensar, outros esquecem que são pensantes.
Mas sempre é bom contribuir.
Abraço.
Olá Ricardo!
ResponderExcluirCerta vez um grego disse: "O pensamento é o passeio da alma". O pensamento é essa curiosa atividade na qual saímos de nós mesmos sem sairmos de nosso interior. E também um filósofo escreveu que pensar é a maneira pela qual sair de si e entrar em si são a mesma coisa. Como um vôo sem sair do lugar.
O pensamento exprime nossa existência como seres racionais e capazes de conhecimento abstrato e intelectual.
Penso que os nossos pensamentos, revela quem somos. Pois não conseguimos enganar o tempo tudo.
No meu trabalho com pessoas, as vezes me surpreendo...
Gostei deste tema.
Obrigada, novamente.