terça-feira, 3 de dezembro de 2019

A PERGUNTA É A MÃE DA RESPOSTA

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        Perguntas e respostas são irmãs em diferentes estágios de maturidade. A pergunta é a resposta que ainda não nasceu. Como não nasceu, pode ser todas as respostas imagináveis e inimagináveis. Ainda que a pergunta seja mais antiga que a resposta, e, portanto, com mais saber em si, a pessoa média quer respostas.
        A pessoa média não aprecia pensar sobre a morte, mas não percebe que respostas se assemelham a perguntas mortas. Pobres aqueles que têm suas perguntas todas respondidas. As perguntas tecem o chão que sustentam os corajosos. Sim, pois a ação do coração é a melhor resposta e que sempre pode acontecer de outros modos, ainda que a pergunta se repita.
        Cada pulso do coração é a resposta necessária para que a vida prossiga. Se o coração não responde, a pergunta cala. No calabouço, é a pergunta que tem o poder de renovar, reanimar, ressuscitar. Perguntas vibram com a vida. Uma resposta representa a morte de todas as possibilidades.
        Quando penso quem sou, devo lembrar de incluir se sou mais pergunta ou resposta, mais nascimento ou morte em meus encontros e ainda se sou mais possibilidades ou certeza. E uma vez sabendo, me corrigir em cada respiração, essa pequena fatia de porvir que nos define.
        A pergunta está grávida! Conhece esse estado? Sabe o que nascerá?
      Então? Como alcançar esse estado de portar em si todas as perguntas? Como suportar a tensão dilacerante das respostas indigestas? Como viver a tentação da escolha de possibilidade que exclui as demais? Como na esperança do parto normal aceitar a necessidade da eventual cesariana?
Enfim, como libertar a mente dos vícios e compreender que todo preconceito reside na resposta certa e na certeza, que é ainda mais mortal e cada vez menos vital, quando absoluta. Como será portar todas as perguntas? Não lhe parece mais do que portar todas as respostas?
Existem coisas que sabemos e também coisas que sabemos que não sabemos. Mas existe uma terceira natureza de coisas, as mais interessantes. Falo das coisas que não sabemos que não sabemos. Ouso dizer que as perguntas estão mais próximas dessa última classe de coisas, do que as respostas. Perguntas são movimentos e respostas são paradas; sim é preciso parar eventualmente, mas sem perder de vista o fluxo e o fluir.
A pergunta é uma das, senão a maior conquista na vida da pessoa. Quando a pessoa atinge sua maturidade plena surge a pergunta. A pergunta é a melhor síntese que alguém pode alcançar em relação a um assunto. Todas as respostas moram nela. Quem seria esse ser capaz de suportar em si o movimento de todas as respostas. Quem poderia suportar em seu íntimo a liberdade de arbítrio de cada resposta e ainda assim sustentar a vida da pergunta?
A pergunta é curva e nela não é possível a visão definir o que está por vir. A resposta é reta, não se esconde, pode ser vista. Mas, e sempre há um mas, quando eu vejo, meu interior se dobra, se curva, tende a...
Na insuficiência da prosa, com a devida licença:
Ainda que curvas, uma dentro e outra fora, diferentes aspectos afloram. A curva dentro deforma o ser enquanto a outra reforma. Reformar é o efeito vivificante da morte. Deformar é seu lado que nos faz temer; que nos impossibilita permanecer quando o aspecto físico já não mais pode se sustentar.
Quando aprendo a caminhar nas curvas da vida e com o “pão de cada dia”, de surpresa, de coincidência, da mudança me alimento, cada vez menos terei que comer do “pão que o diabo amassou”.
O sobrenome da certeza é absoluta e seus irmãos gêmeos a prepotência e a soberba.
Não saber não é um estado vazio, senão de posse de todas as perguntas associado a outro estado, o de permeabilidade plena a todas as possibilidades. Essa permeabilidade é o princípio da sabedoria, assim como a certeza é o princípio da vida infernal. Claro que me refiro aqui ao inferno grego - entrada, tribunal e as três regiões comandadas por Hades.

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