segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

FINAL FELIZ E OUTROS FINAIS



No cinema, teatro e na vida as coisas podem ir bem ou não. Tem histórias que acabam bem e outras que não. Tem pessoas que são de bem e outras que não; não chegam a ser más, apenas não de bem. Não de bem com a vida.
Os amigos que gostam de filmes e peças com final feliz tendem à desconfiança, apreciam o controle e geralmente conhecem o medo. Julgam saber o que é certo ou errado com muita clareza. Chegam a ser quase preconceituosos. Não gostam do feio, evitam. De fato, o feio não faz parte da vida deles; como poderia? Vivem de aparências e de comparações. Afinal, se eu não me comparo com algo, como saber quem sou? Quem não tem dentro encontra suas referências fora. Vive no espelho, como a bruxa da branca de neve.
Alguém disse que o hábito faz o monge. Também o hábito da necessidade do final feliz ou conclusivo é determinante do perfil da pessoa. Após a descrição da anatomia neurológica dos neurônios em espelho, pessoalmente noto que isso é muito verdadeiro. Nos relacionamos empaticamente com aquilo com que nos alimentamos; nos tornamos nossos “alimentos”. O prisioneiro do final feliz precisa que alguém lhe mostre o sentido, explique o porquê das coisas. A pessoa final feliz está mais refém do mundo das informações que convencem em decorrência do sentido aparente. O economista Nassim Nicholas Taleb no clássico “A Lógica do Cisne Negro” esclarece com simplicidade o poder das notícias que explicam, que associam uma causa a um dado efeito, que induzem, enfim que tentam mostrar que tudo está sob controle porque tudo se explica e se justifica; inclusive o mercado financeiro. Claro o sentido é sempre desejável, desde que proposto, raramente quando imposto e se possível que seja composto entre as partes envolvidas.
O absurdo deve sempre ser considerado e computado enquanto possibilidade; tudo é possível, nos cabendo apenas considerar probabilidades. O pensador Guimarães Rosa tem histórias que mostram isso. Teria o jagunço Riobaldo considerado a possibilidade de Diadorim ser quem era?   
Os amigos que gostam de filmes com outros tipos de finais são diferentes. Diferentes de todos os outros. São únicos. Chegam a ser chatos de tão únicos. Se percebem tão bem a partir de dentro, pois têm vida interior, que parecem não se importar com o mundo exterior. Mas se importam sim; querem fazer diferença. Sabem que as coisas nem sempre acabam como gostariam e que o imprevisto e o inusitado são faces da felicidade nem sempre bem-vindos.
Gosto de todo tipo de final, mas também quando não termina. Quando não há final, então o caminho e a caminhada podem ser o próprio fim.

7 comentários:

  1. Lindo texto, Ricardo
    Beijos

    Obs: Você devia escrever mais

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  2. Caro amigo Ricardo, de fato, o maior desafio que enfrentamos é nossa própria perspectiva quanto ao mundo exterior. Porém, quando entendemos, que a vida tem seus próprios ciclos e que muitas vezes não seguirão as conclusões que gostaríamos, mesmo após termos empregado certa energia, então o que resta na verdade é mudarmos nosso mundo interno e aceitarmos a transitoriedade da vida e apreciarmos os milagres que ocorrem ao nosso redor o tempo todo, mesmo diante da doença e da morte. Como disse o Dalai Lama no filme 7 anos no Tibet:" Se um problema tem solução, pra que se preocupar; se não tem solução, pra que se preocupar?".

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  3. Ricardo, que belo texto... bom para refletir como tudo que é bom kkkkk brincadeira a parte, gostos dos ciclos e também gosto dos imprevistos, das surpresas, dos novos caminhos, de sair sem rumo, sem lenço e sem documentos, aberta para o aqui e o agora! Obrigada pelas palavras... beijinhos

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  4. Ótimo Ricardo. Um abraço grande e um 2019 de buscas e encontros.

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  5. Não gostei de ter sido surpreendida por um qse final triste! Preferia de fato não ter sido surpreendida, sequer ter passado pelo que vi e presenciei, porém a vida me surpreendeu com sua beleza e me tornou alguém que eu jamais imaginava ser capaz e aquilo que parecia um grande final triste, tornou-se num grande recomeço! Difícil, é verdade, mas feliz a cada descoberta, a cada conquista.

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