segunda-feira, 9 de junho de 2014

ALIMENTAÇÃO CONSCIENTE IV



Continuação de: Alimentação Consciente I
                         Alimentação Consciente II
                         Alimentação Consciente III
 

      Todo humano deve em sua caminhada encontrar algumas questões ocultas que carecem ser olhadas de frente; três delas pedem atenção especial: a ciência oculta, o currículo oculto e a fome oculta. Considerarei brevemente a última, oportunamente as outras poderão ser contempladas, o que não impede que o leitor honesto vá percorrendo por si as escarpas dos referidos assuntos.
      O brasileiro Josué de Castro é o maior estudioso da fome mundial e utiliza com agudo discernimento o termo fome oculta para nos lembrar de questões do cotidiano que despretensiosa e curiosamente escapam ao olhar do cidadão mediano.
   
“O nosso objetivo é analisar o fenômeno da fome coletiva, da fome que atinge endêmica ou epidemicamente grandes massas humanas. Não só a fome total, a verdadeira inanição, que os povos da língua inglesa chamam de starvation, fenômeno em geral limitado às áreas de extrema miséria e as contingências, como o fenômeno muito mais frequente e mais grave, em suas consequências numéricas, da chamada fome oculta, na qual pela falta de determinados princípios nutritivos indispensáveis à vida, grupos inteiros de população se deixam morrer lentamente de fome, apesar de comerem todos os dias.” J.Castro


            Ao estudar geográfica e geopoliticamente a fome no mundo, Josué de Castro nos auxilia a tomar a alimentação em nossas próprias mãos. Fabricada pelo próprio homem, a fome oculta é calamidade moderna dos grupos humanos civilizados, sendo caracterizada pela monotonia alimentar. A restrição do número de substâncias alimentares favorece a deficiência de alguns princípios nutricionais essenciais que uma variedade alimentar maior seria capaz de corrigir. Com a alimentação variada, as deficiências de um dia são compensadas no dia seguinte, enquanto que, com a alimentação monotonamente igual, as deficiências se consolidam e se agravam através dos tempos.

            Dentre os fatores subjacentes à questão, ressaltam-se os processos técnicos de polimento do arroz, de refinação do açúcar, de fabricação de farinha do tipo branca, eliminando os invólucros das sementes alimentícias. Esta prática empobrece muito a alimentação e contribui para o aparecimento de fomes específicas em seus consumidores. CONSIDERE SEMPRE A INGESTA DE GRÃOS INTEGRAIS. Segundo Castro, o homem civilizado entorpeceu seu instinto de nutrição a tal ponto que já não tem discernimento do que seu organismo necessita para viver bem. Daí o aumento absurdo das taxas de obesidade, impotência, problemas de pele, insônia e perda de memória associados a um sistema digestivo mal cuidado, consequência do desconhecimento.
      Talvez a alimentação saudável pudesse ser mais bem explorada ainda nas escolas. O tópico alimentação carece no currículo escolar, sendo só en passant visto na biologia, quando muito. Mas, muito antes das salas de aula, que seria o local ideal para educar, penso na qualidade daquilo que está sendo oferecido nas cantinas escolares. Alimentos riquíssimos em gorduras nitrogenadas e açúcares que sabidamente tornam seus consumidores indolentes e com dificuldade para concentrarem-se em seus afazeres, pobres professores! Isso sem falar no efeito colateral da obesidade, sabidamente geradora dos mais variados estados crônicos de adoecimento. Pois é, não são apenas os peixes que morrem pela boca...

        Não fosse pouco, a desinformação é tanta que vários alimentos nocivos são ainda tidos como saudáveis! O leite, por exemplo, até meados da 2ª grande guerra ainda tinha uma constituição razoável. No entanto, com o desenvolvimento dos processos de logística, armazenamento, produção intensiva e de esterilização, a situação caminha para uma inversão total. As letras UHT (ultra high temperature – temperaturas super altas) descrevem técnica que não apenas esteriliza senão extermina o que pudesse sobrar de nutritivo no alimento. Assim, um leite que estragava em um dia, passa a não fazê-lo por meses sem que ninguém desconfie ou se pergunte como isso é possível!

De fato meu amigo isso não vale para você que cria sua vaca no quintal e a alimenta com capim, o que, aliás, é cada vez mais raro. O fato destes animais ruminantes não estarem mais comendo capim é o responsável pela mudança na relação ômega 3 – ômega 6, em favor deste último, sabidamente mais nocivo do ponto de vista vascular (veja mais no best-seller “Anticâncer” a este respeito). Brevemente, os ômega 3 e 6 competem pelo controle de nossa biologia: ômega 6 – facilita estocagem de gorduras, enrijece as células, facilita a coagulação e as respostas inflamatórias; ômega 3 – atua na constituição do sistema nervoso, torna as células mais flexíveis e acalma as reações de inflamação. Portanto nunca é pouco insistir na conscientização, assista e leia os dois surpreendentes links abaixo em um momento tranquilo, por favor:


 

Seja lembrado que a alimentação das galinhas também se transformou inteiramente nos últimos 50 anos, e os ovos – alimento “natural” por excelência – deixaram de conter os mesmos ácidos graxos, conforme Simopoulus (N Engl J Med. 1989 Nov 16;321(20):1412). A autora demonstra que os ovos produzidos pelas galinhas criadas com grão de milho, quase universal hoje, contém vinte vezes mais ômega-6 do que ômega-3. Isso tudo muda no caso de quem cria sua galinha no fundo do quintal à moda antiga, você cria?


      “O homem e os outros animais dependem sempre do mundo vegetal para sua existência. Apesar de sua ubiquidade – de sua capacidade de viver em todos os quadrantes da terra – o homem só existe onde encontra uma base de vida vegetal, porque, em última análise, o homem tem que ser sempre vegetariano, seja diretamente utilizando os alimentos vegetais, seja indiretamente, alimentando-se de animais que subsistem à custa do mundo vegetal”. J. Castro

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