sexta-feira, 9 de agosto de 2013

DIA DOS PAIS


Por: Mário Inglesi



Os pais já tiveram os mais variados estratos de importância social.

Eis que, em tempo não muito distante, ele figurou como Pai-Patrão, isto é, além de mantenedor da casa e da família, cabia a ele dirigir e ordenar o destino e o lugar da mulher e dos filhos, não havendo quem pudesse contradizer ou infringir suas regras. Ele era, então, o “todo poderoso”: o patrão, o comandante em chefe, o guia, o exemplo a ser seguido. Tinha lugar proeminente e determinado não só dentro de casa, à mesa, - sempre à cabeceira-, mas também fora dela. Usava e abusava, em sua conduta amorosa, tendo amantes para as quais montava casa, ou, frequentando bordéis, ou “pubs” onde pudesse ficar e agir livremente. Nesse particular encaminhava os filhos homens, arranjando-lhes até quem os iniciasse na vida sexual. Nesse particular leia-se o romance, “Amar Verbo Intransitivo”, de Mário de Andrade, ou veja o belo filme baseado nessa mesma obra.

Com o passar do tempo e a modificação dos usos e costumes, esse pai foi sendo substituído por outro, menos autoritário e possessivo em relação ao lar, à mulher e aos filhos, chegando então à configuração de “pai-herói”: mais compreensivo, mais chegado aos filhos e sem muita interferência, a não ser sua glorificação pelos que o rodeiam, em razão de seus esforços incomuns na manutenção do lar e na criação esmerada dos filhos, que o viam como exemplo a ser seguido pela vida afora.

As mazelas, as quizilas, e o poder, foram aos poucos afrouxando, dando lugar à humanização do pai, cujo carinho e atenção, agora se faziam presentes.

A roda viva em seu giro permanente e frenético não parou por aí, e mais uma vez, o “pai” teve sua imagem alterada e sua posição abalada pelas forças econômicas do capitalismo e suas exigências.

O “pai” toma uma outra configuração: Deixou ele de ser o provedor e mantenedor do lar, já que compartilhou, doravante, seus afazeres e atributos com sua companheira, que passou também a contribuir com seu esforço econômico fora do lar, perfazendo jornadas duplas e quiçá triplas.

Com isso, os papéis de pai e mãe sofreram radical transformação, uma vez que perderam a sua definição primeira e se confundiram no dia a dia, inclusive perante os filhos.

Deste modo, todo o arcabouço que os rodeava ruiu e os filhos – principalmente eles - sentiram o peso dessa mudança, não tendo mais a quem recorrer ou guiar pela vida afora, em sua educação e em suas horas aflitivas de adolescentes, se viram jungidos a adultos, de repente, donos de seus narizes e destinos.

Aquele pai presente em todas as horas e em todos os momentos de angústia e insatisfação desapareceu, ou mudou-se, perfazendo outras novas famílias, novos lares com meios irmãos e irmãs, o que também ocorreu com o lado da mulher e seus novos parceiros, ampliando assim o núcleo familiar.

E, o novo pai, não podendo mais ausentar-se na compartilha do lar e suas exigências, vai, para a cozinha, refugia-se o quanto pode em angústias e choradeiras, nunca vistas anteriormente, mas humanizando-se como nunca dantes visto.

Seus excessos e exageros para com os filhos, na tentativa de preencher suas ausências de maior participação com todo tipo de materialização, talvez advenha dos resquícios de sua formação, onde vigora tenazmente o dito “é dando que se recebe”, como mera incongruência.

De todo modo, é a vida, em suas loucuras de transformação e exigência.  Afinal, nada é gratuito, nada acontece só porque queremos ou desejamos.

Mas pai é pai, ainda que, no rol da vida, venha sendo considerado apenas um formatador de filhos, - mera inveja - e como tal, com obrigações legais a serem cumpridas de maneira plena e irreversível, continua sendo “o pai” pela vida toda, ainda que com idiossincrasias, desarticulações de atitudes, geração de dissabores, dissenções, acertos e obsessiva busca em começar e recomeçar.

A todos eles, pais, portanto, sejam eles como forem ou se apresentem um “Feliz dia dos Pais”.

Mário Inglesi

Um comentário:

  1. Belíssimo texto, Mário Inglesi. Pontuou com precisão o lugar e o papel do pai ao longo da história, sem se esquecer do balanço final: os filhos. Sem receita, ser pai ou ser mãe parece tarefa cada vez mais homérica e incompreensível diante de um dos mais simples e belos dados da natureza: o de gerar um filho.

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