Por: Mário Inglesi
Dr. Ricardo
O livro “cuidando de quem
cuida” vem ao encontro da saúde e bem estar dos cuidadores e de todos aqueles
que pretendem seguir uma vida salutar sem tropeços de doenças graves ou não,
que os impeçam de vivenciar toda a fruição de uma vida próspera e longeva,
ainda que se dando ao trabalho profissional de cuidar de outros, em hospitais e
casas de saúde, ou mesmo em casas de pacientes, a pedido de familiares.
Com isso, seus autores
nos premiam com diversos conselhos, dicas e elementos, acompanhados, inclusive
de poemas para nos fazer entender que a vida, com todos os seus percalços, tem
sua beleza, jungida de satisfação e felicidade.
Mas, para melhor conhecermos
e entendermos condignamente a relação entre cuidador e seu paciente, com suas
variantes de dor e sofrimento, foi de todo proveitoso para fundas e fecundas
reflexões, enxertar logo no início do volume em apreço, casos, sejam eles
ficcionais ou não, de compartilhamento ilustrativo, entre o cuidador e
pacientes em fase terminal,
Tais casos, descritos de
maneira objetiva e totalmente realista, nos amedrontam, logo de início, por nos
fazer estar no lugar de um e de outro, sofrendo de dores intensas que a ambos
atingem direta ou indiretamente.
Esse nosso sentimento aos
poucos vai sendo substituído por um inconformismo, cuja completude se reveste
de muita raiva e ira.
Afinal, como pode um
paciente terminal com dores intensas e profundas, de provocar suores frios,
engulhos, faces maceradas e olhos esbugalhados, e entranhas em ebulição, ter
que esperar nessa situação, nove horas, como descreve a própria autora, também
cuidadora, para receber a sedação que se fazia necessária?
E mais, se esse estado
terminal nefasto se repetir, porque continuar ou prosperar essa situação, de
sofrimento tão intensa, lastimável, e de configurar tamanha insensatez, já que
até Deus, como já o fizera com seu filho, virou-lhe o rosto e o abandonara,
definitivamente.
E mais, porque não por em
prática ou impedir que meios imediatos e até indolores sejam aplicados em defesa
da eliminação do paciente e suas dores.
Isso se assemelha a
masoquismo, à dormência de sentidos e sentimentos para com tais pacientes
terminais.
E o que é mais aberrante,
no caso, pessoas sãs, por razões de imprudência, de atos muitas vezes impensados,
ou fortuitos, são sacrificadas com fuzilamento, degola, ou simplesmente por
balas perdidas, como vem acontecendo com jovens, crianças e idosos, não para
aplacar sofrimentos, mas apenas para mostrar e dar exemplo, da força e poderio de
mandatários inescrupulosos e insensíveis.
Cumpre também pensar na
situação do cuidador e todos os reflexos que as dores de seus pacientes
projetam física e psicologicamente no cumprimento do trabalho e na sua vida
pessoal, causando-lhe mal-estar, insônias, apatia, desolação, perda de apetite,
choros convulsivos e tantos e tantos outros males e problemas.
Afora, os sentimentos de
seus parentes próximos ou não, que porventura vierem a ver ou saber das
terrificantes dores e aflições de seu filho, marido, pai, amigo ou outro
circunstante parentesco.
De todo modo, como já
diziam os antigos e, hoje, se repete com frequência, “a vida é uma causa
perdida”, pois por mais que se lute, a morte é certa, queiramos ou não. Esse pensar
sobre a antecipação do final não causará maiores infortúnios a quem quer que
seja, ao contrário, haverá, em contrapartida, boas e amadas lembranças de quem
se foi, inclusive de sua última imagem, onde a serenidade se faz presente em
seu rosto, em sua testa não mais franzida, e, em seu vago sorriso de: “gracias
a la vida que me há dado tanto” (Violeta Parra).
Talvez, possam pensar e
dizer sobre o pecado ou a ilegalidade que isso representaria. Esquecem esses
que todo esse exemplo de egolatria será destruído, felizmente dia ou menos dia,
pelos carunchos e traças como material vetusto e imprestável varrido pelo vento
e amontoado pelo tempo, no lixão da História.
Por enquanto só nos resta
aproveitar a oportunidade, para sopesar tudo isso e convir:
“O diabo sempre quer algo
de nós.
Vive a rondar
Com suas tentações,
Exigências, promessas”
“Mas confesso, acho o mundo perverso
E sempre prometo o que não posso cumprir”
(Beatriz Di Giorgi. Fragmentos
de poemas In “Labirinto”)
E, mais, como diz
certeiramente e com grande objetividade o poeta Aleksandr Blok (1880-1921):
Noite. Fanal. Rua.
Farmácia.
Morres e tudo recomeça
E se repete a mesma peça:
Noite – rugas de gelo no
canal
Farmácia, Rua. Fanal.
Dança da Morte
(fragmento, trad. Augusto de Campos), in Antologia da Poesia Russa Moderna”
Assim, por toda a
benquerença de frutos de humanidade que o livro inspira e revela, é de todo
necessário recomendá-lo à leitura, com votos de vida longa e frutos auspiciosos
ao projeto “Cuidando de Quem Cuida”, mesmo que possivelmente todo esse esforço
humanitário e amoroso talvez não atinja, em atendimento, os pobres e os
desvalidos, com ou sem dores lancinantes, atingidos por doenças degenerativas e/
ou em estados terminais.
Mario Inglesi
Nenhum comentário:
Postar um comentário