domingo, 10 de dezembro de 2017

ASTROLOGIA E SAÚDE - EXISTE RELAÇÃO?




Um dia houve a separação fundamental entre as ciências físicas e espirituais. A despeito disso, grupos preservaram segredos esotéricos da medicina e da astrologia, sustentando o conhecimento interpretado sob a luz da mística, sendo os segredos espirituais restaurados, ocultos do vulgo e dados àqueles que anelavam pelas causas do espírito.
Hoje observamos educadores que ignoram os valores espirituais; vemos a ciência material tornar-se uma instituição orgulhosa, que ignora a alma, fascinada pela matéria não deixando lugar para a mística. Como resultado, temos uma desilusão geral e um abatimento decorrentes da insignificância das coisas materiais: fuga, desespero e tristeza. O atual interesse renovado pela Astrologia como recurso de cura resgata o pensamento de Paracelso, expoente do pensamento vivo que dizia:
Assim como existem estrelas nos céus (macrocosmo), também há estrelas dentro do ser humano. Portanto, nada existe no universo que não tenha seu equivalente no microcosmo (o corpo humano)” e “O espírito do ser humano deriva das constelações (estrelas fixas - sóis); sua alma, dos planetas; e seu corpo, dos elementos”.
O Macrocosmo é a difusão infinita do cosmos em suas ilhas, galáxias, nebulosas, estrelas, planetas, corpos celestes onde inumeráveis formas de vida estão sempre evoluindo. O Microcosmo são as células de nosso corpo, incontáveis como as estrelas do céu. A chave mestra que permite acesso à correlação entre macro e microcosmos e que favorece a compreensão dos mistérios é:
“Como é em cima, assim é embaixo”.
A Astrologia pode ser vivenciada como uma “tela” que permite o vislumbre da inter-relação das forças entre o Macrocosmo e o Microcosmo, entre o externo a nós e o nosso interior, além de ser um instrumento da realização da Lei de Consequência ou Lei de Causa e Efeito. Assim, dentro de perspectiva que admite a possibilidade do renascer, alguns pensamentos descrevem observações pertinentes ao pensar astrológico:
· “Viver para comer ao invés de comer para viver”, pode implicar futuramente na colheita de complicações no aparelho digestivo.
· A excessiva irritação, intolerância, impaciência, impetuosidade, podem implicar futuramente na colheita de desordens circulatórias e seus efeitos colaterais em todo o sistema: apoplexias, derrames, varizes, pressão sanguínea irregular, etc.
· A impulsividade e o rancor podem implicar futuramente na colheita de úlceras, artrites, disfunções glandulares, insuficiência cardíaca, pressão baixa, problemas linfáticos.
· A atividade excessiva em função do mal, caracterizada por comportamentos maleficamente agressivos, violentos e vingativos pode implicar futuramente na colheita de baixa energia dinâmica assim como de ausência de resistência a doenças; membros defeituosos, acidentes com perda de membros; articulações sujeitas a artrites; dores musculares, reumatismo e enxaquecas.
· O abuso da função sexual e sua utilização apenas para a gratificação dos sentidos pode implicar futuramente na colheita de falta de vitalidade, vontade fraca ou até debilidade mental.
· A recusa em gerar ou aceitar o filho gerado, criá-lo e educá-lo pode implicar futuramente na colheita de disfunções nos órgãos geradores, predisposição ao câncer de próstata ou laringe, útero, seios e estômago.
Felizmente, SÓ COLHEMOS AQUILO QUE SEMEAMOS.
A grande maioria das doenças origina-se no comportamento negativo face às circunstâncias que, quase sempre, envolvem nosso semelhante. Trata-se do antigo e misterioso conselho dado por Cristo no Sermão da Montanha: “se qualquer membro do teu corpo te escandalizar (o mau uso) arranca-o e joga-o fora...” Justo o que fazemos literalmente antes de renascer!
Enquanto os exames médicos mostram as condições de nosso corpo no momento da coleta, o horóscopo mostra as enfermidades latentes e ativas em toda nossa vida terrestre. Deste modo temos tempo suficiente para: prevenir-nos, minimizar os efeitos e até não desenvolver essa enfermidade, pois: “as estrelas impelem, mas não obrigam”!
Através da astrodiagnose e terapia é possível conhecer os melhores métodos para efetuar a cura, assim como o melhor tratamento para cada paciente, além de ser possível observar o caráter do enfermo (forte, débil, negativo, emocional). A partir desse estudo, é possível saber o dia em que as crises tendem a se manifestar e quando as influências adversas diminuirão.
Estamos sujeitos a enfermidades físicas, psíquicas, sociais, mentais e espirituais. De acordo com a ciência oculta, construímos nosso Corpo Denso e o controlamos. Havendo doença nele somos levados a concluir que não fizemos nosso trabalho de forma ideal. Isso é expresso nas duas classes de enfermidades apontadas em um horóscopo:
·        Latentes
o São indicadas pelas aflições planetárias no horóscopo quando nascemos.
o Podem permanecer latentes durante toda a nossa vida terrestre.
o Dependem do nosso modo de vida: se não respondemos às tendências indicadas pelas aflições planetárias, elas não se manifestarão.
o Podemos atuar com nossa vontade até o ponto de anular as indicações de nosso horóscopo.
·         Ativas
o São indicadas pelas aflições planetárias no horóscopo quando nascemos, mas nós respondemos a essas aflições, através: de pensamentos, sentimentos, palavras ou atos negativos, inferiores e destrutivos.
o As posições planetárias progredidas indicam os momentos de atuação.
o Consertando o nosso modo de vida: aliviaremos, suspenderemos ou seremos curados da enfermidade.
Para aplicarmos ao estudo dessa ciência e arte de obter conhecimento científico das enfermidades, suas causas, segundo indicações dos planetas, e dos meios de curar é necessário:
·   Dedicar-nos ao conhecimento da fisiologia e anatomia de nosso Corpo Denso.
·   Usar esse conhecimento altruisticamente na ajuda aos sofredores.
·   Esquecer o próprio horóscopo e dedicar o conhecimento a ajudar os outros.
·   Fazer os exercícios de Retrospecção e de Concentração diariamente.
·   Praticar mais a devoção no dia a dia.
·   “Pregar o Evangelho e curar os enfermos”.

O PODER DOS MANTRAS – VIVER É COMUNICAR

Comunicar é parte essencial do viver. Essa ligação com o outro - por meio de uma vibração sonora, escrita ou mental - gera um intercâmbio que transcende as palavras e nos sensibiliza para um “mantra”, seja ele uma ideia, uma crença, um comportamento ou um sonho.
Cada um interioriza e irradia as informações que reverberam em seu íntimo e, dependendo do conteúdo, atrai alegria ou tristeza, saúde ou doença, união ou separação. Na visão de Michel Maffesoli (2003) a comunicação entre as pessoas é o cimento social, o que promove o religare (religação). Conhecido pela popularização do conceito de tribo urbana, o sociólogo francês afirma que só existimos de fato e nos compreendemos na relação com o outro, destacando a falta de sentido do individualismo.
O poder da palavra é evidenciado por Braden (2007) no livro “O Efeito Isaías”, segundo o qual cada ser humano cria seu código de conduta a partir das informações que recebe, fazendo escolhas a favor ou contra a vida. Assim, as enfermidades, por exemplo, podem derivar de escolhas e ações individuais e não apenas de causas exteriores. Percebe-se a partir dessas observações que o uso consciente das palavras é uma forma de resgatar a relação perdida consigo mesmo, com as outras pessoas e com o Universo. É a “linguagem que move montanhas”, segundo Braden.
Em seu cotidiano, observe que ao chegar de mau humor a um local, as outras pessoas não lhe parecerão bem também. Percepção que muda completamente a partir de atitude mais disponível e sorriso no rosto. E é isso mesmo: o corpo serve para compartilhar experiências individuais de raiva, ciúme e ódio, mas também de amor, compaixão e perdão.
Ainda segundo Braden (2007), há cerca de 500 anos antes de Cristo, na cultura essênia, já se dizia que tudo o que se pensa, fala ou faz constrói uma prece permanente, semelhante a um estado de constante oração.
De fato, cada um, nessa prece ativa dos “mantras” dominantes, projeta sua realidade e define a qualidade de seus relacionamentos e saúde, além da presença, ou não, de abundância na vida. Novamente, Jesus Cristo, segundo Mateus nos recorda isso ao dizer: “O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem”.
De acordo com a filosofia hermética, a realidade se compõe de vários "tecidos" que se interpenetram, qualificando um plano físico (território de estudo das ciências básicas convencionais) e vários planos suprafísicos (território de estudo das ciências ocultas tradicionais). Resumidamente, a região química do mundo físico é envolto e permeado pela região etérica, que por sua vez é envolvido e transpassado pela "matéria" da região do mundo do desejo, que é cercada e imersa na "matéria" da região do mundo do pensamento.
Nesse arcabouço, as afirmações manifestas, mental ou verbalmente, intencional ou inconscientemente, ganham força, especialmente quando aliadas a sentimentos ou emoções intensas, atraindo e sintonizando outras vibrações similares presentes na região etérica do mundo físico e nas regiões inferiores do mundo do desejo (Heindel, 1909).
Nas regiões inferiores desses mundos, se encontram vibrações destrutivas de medo, pobreza, doença, fracasso e miséria, assim como nas regiões superiores são encontradas vibrações construtivas de prosperidade, saúde, sucesso e felicidade (Hill, 2009).
Ao seguirmos essa linha de raciocínio fica claro que um pensamento “potencializado” pela emoção é semelhante a uma semente que, plantada em terra produtiva, brota e se multiplica em milhares da “mesma” espécie.  Um “poder” de criação incalculável ao considerarmos que a mente humana gera, em média, 60 mil pensamentos por dia (Byrne, 2015), sendo 60% a 70% deles negativos (Lucas, 2013).
O poder da palavra associada a emoções genuínas é genialmente ilustrado por Tolstói (2001) no conto “Os Três Eremitas”. Ele conta a história de um sacerdote que, em visita a uma ilha distante, decide ensinar como rezar a três eremitas que lá habitavam. Com suas crenças, ele se indigna com a forma simples dos eremitas pedirem a proteção divina: “Vós sois três. Nós somos três. Tenha piedade de nós”.
Em sua função pedagógica ele dedica um dia inteiro a ensinar o “Pai Nosso”. À noite, já se afastando em seu navio, o sacerdote é surpreendido por uma luz distante no horizonte. Ele percebe então os três eremitas correndo sobre as águas do mar rumo ao barco, em reverência e pesar, a lhe perguntar sobre uma parte esquecida do Pai Nosso. Diante de insólita situação, o sacerdote se rende à simplicidade da prece proferida por eles, com a pureza d’alma que os caracteriza (Tolstói, 2001).
De forma lúdica, o poder dos conteúdos veiculados foi explorado em filmes como “A Origem” (Inception), ficção científica onde ideias são inseridas na mente das pessoas por meio dos sonhos que se confundem com a realidade, e “Poder Além da Vida” (Peaceful Warrior), baseado em fatos reais onde um ginasta se recupera de grave lesão ao reverter sua forma de pensar por meio de “mantras” recebidos de um conselheiro (ou mestre interior).
Os dois filmes explicitam os efeitos danosos de temáticas negativas, nos âmbitos psicológico e emocional, assim como a possibilidade de alcançar o equilíbrio, saúde e sucesso a partir do uso consciente das palavras. Conteúdo semelhante é mostrado de forma jocosa na comédia “As Mil Palavras”, onde a vida do personagem central é condicionada ao número de palavras emitidas e à coerência de seu discurso com suas ações.

Assim, salta aos olhos o fato da qualidade de vida do ser humano guardar relação íntima com o pensar e o sentir. Amigo leitor como estão seus pensamentos e sentimentos, rendidos ao medo consequente ao viver de modo reprodutivo, ou imersos na coragem do viver produtivo?

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O PODER DOS MANTRAS - UM UNIVERSO MÂNTRICO


Dizem que, no início dos tempos, um mantra ecoou do hálito divino: o OM. Esse som primordial teve em si o poder de dar forma ao caos, permitindo a criação do mundo em suas diferentes dimensões e seres. Presente no Universo ainda hoje, ele simboliza o Ser Supremo e entoá-lo conduz a um estado de introversão e harmonia; libera energias letárgicas e pode levar ao contato com a Consciência Transcendental, DEUS.
A capacidade do Som de nos conectar com a essência divina é objeto de vários estudos esotéricos. É descrita, por exemplo, uma relação entre a nota tripla AUM e as diferentes dimensões do nosso corpo, e da nota espiritual OM com nossas aspirações mais elevadas. Segundo Anglada (Na obra: Magia Planetária Organizada), o OM é a expressão vibratória da Alma em seu próprio plano, enquanto AUM é a vibração da alma em encarnação (a personalidade) – sendo “A” expressão da mente, “U” do corpo de desejos (ou corpo astral) e “M” do corpo físico.
Em busca dessa conexão e do estado de lucidez decorrente, o OM e outros milhares de mantras sagrados são repetidos diariamente em várias linhagens religiosas nas diferentes partes do mundo. De forma similar, são empregados os vocábulos AMÉM e AMIN, que significam “Assim seja!”, como um pedido de intervenção divina na criação de algo benéfico. Também orações como a Ave-Maria e o Pai-Nosso são proferidas em busca desta confirmação e estado d’alma.
Mas, à semelhança do som repetitivo do Universo, tudo à nossa volta tem caráter mântrico, repetitivo, a começar pela batida do coração. Do nascimento à morte, imitamos o Universo e organizamos o caos interior, construindo realidades a partir de “mantras”. São decretos transmitidos pela família e pela sociedade de forma consciente ou inconsciente, e que indicam ou mesmo formatam silenciosamente a forma “adequada” de sentir, proceder e viver.

Estas frases dominantes ou palavras de ordem expressam ideias ou valores, mobilizam forças psíquicas e criam crenças e padrões de conduta. A cada segundo, constroem a identidade e o campo mental / energético / espiritual das pessoas, de comunidades e de nações. Seu poder de condicionamento independe da forma de transmissão, seja oral, escrita ou telepática, assim como do teor, positivo ou negativo. Esses verdadeiros “mantras” concretizam uma verdade universal trazida à luz por Cristo e expressa no evangelho de Mateus como: “Pedi, e vos será concedido” (Mateus 7:7).

sábado, 11 de novembro de 2017

ESTUDOS CIENTÍFICOS OU ...DA PERSEVERANÇA

Por: Maria Paula Teixeira jan/2011


Estava cansado do dia a dia. Sentia vontade de sair dali, escapar. O cruel rigor do cotidiano e sua aparente monotonia o deixavam desesperado. Seus pensamentos e desejos se apresentavam tal qual uma cadeia, uma corrente infindável e instável. Diante disso se sentia impelido a sair, se libertar dessa existência que se tornara simplesmente pessoal. Algo o atraía: uma busca por uma compreensão objetiva. Quem sabe até procurar em outro Universo, ir além.
Dentro de seu isolamento espiritual se sentia tal qual o homem da cidade grande que procura refúgio no campo. As pacíficas paisagens o atraem para longe dos ruídos e agitações complicadas. E na pureza da atmosfera repousante, o seu olhar vagueia. Há ali uma lembrança da Eternidade. Mas por que e para quê essa busca? O que procura, afinal?
Nessa cadência tenta, e procura formar uma imagem, de qualquer maneira, do Mundo. Uma imagem seguindo sua própria lógica, que seja simples e clara. Sabe que, de alguma forma, tem que transcender; que sua visão atual já é ultrapassada. E, nessa procura, ao julgar ter obtido êxito, substituirá aquela visão limitada, pessoal, por uma imagem, agora muito mais ampla.
Tenta a seu modo consagrar à imagem assim formada, o máximo de sua sensibilidade; para alcançar talvez a Paz... Sente que a energia gerada no processo é muito maior que aquela advinda da experiência agitada, a que se mantinha submerso.

Mas, chegado ao ponto, um novo início sempre se apresenta, inspirando, quem sabe, um salto! E que Beleza se reserva ali! Do caminho infindável, percorrendo as infinitas possibilidades, a Razão emerge, como um presente.
Uma Graça!

EU E TU II – HISTÓRIAS DO COTIDIANO


“O mundo físico é o mundo da quantidade, o mundo espiritual é o mundo da qualidade.”
O câncer, meu grande amigo.
Naquele dia acordei e fui trabalhar. 06h30min atendi uma criança que chegou à madrugada ao hospital. Tinha nove meses, caiu da cama dos pais, cama alta. Bateu a cabeça. Resultado: fratura craniana parietal direita extensa. Família tensa, mas tudo bem, afinal a criança estava bem e bastava observar por mais um dia, repetir um exame e se tudo ok, alta!
Depois, em outro hospital, antes de começar, fui tomar um café da manhã. No caminho aconteceu...
Ele, um amigo, de longe me viu e se alegrou. Com reverência me cumprimentou como se eu fosse um rei, mesmo sendo ele 24 anos mais vivido que eu!
Pôs-se a falar com alegria: meu amigo, a melhor coisa que me aconteceu esse ano foi esse câncer. Assustei, mas fiquei silente, sabia que ia aprender...
Na vida, disse ele, a gente se preocupa com muitas picuinhas, perde tempo, fica querendo saber o que o outro pensa ou espera de nós; e no fundo uma doença como essa nos ajuda a perceber que tudo isso é uma perda de tempo enorme. A vida é algo maravilhoso e essas preocupações bobas nos distraem dessa grande maravilha de viver o momento presente, onde agora é claro para mim, cada dia a mais, que sempre tem algo milagroso acontecendo. Você sabe que não sou religioso, mas não é preciso ser religioso para acreditar em milagres, você está me entendendo?
Estou disse, mantendo-me receptivo ao transbordamento espontâneo sequencial das pérolas que aquela experiência proporcionou a esse amigo...
Pois é, sabe que desde que comecei minha quimioterapia em fevereiro (estávamos nos últimos dias de maio), sempre recebo as aplicações em um local na presença de outros amigos cancerosos que invariavelmente se mostram, como eu, muito gratos à experiência do câncer. Parece haver uma constante que se repete: preocupação com pequenas coisas que de modo algum têm valor quando olhamos a vida como essa breve passagem pela terra. Eu diria mesmo, enquanto canceroso, que o câncer é a doença do apegado e te explico o porquê. Hoje percebo como eu estava apegado a coisas que hoje me parecem picuinhas, que várias experiências e pessoas me diziam sobre deixar isso para lá, mas eu nunca escutava. Essa doença, no entanto, foi como se aquilo que as pessoas fora de mim tentavam dizer, se tornasse uma delas que agora grita a partir de dentro de mim! Ora, encontrar com alguém que nos convida à reflexão e depois vai embora é uma coisa, mas escutar alguém gritando 24h por dia dentro de você que algo não vai bem, é outra completamente diferente meu amigo! Não tem como não escutar.
Por isso partilho com você esse meu desabafo. Meu amigo, o câncer, é a doença que nos auxilia a soltar, a desapegar e a dissolver alguma coisa que não estamos conseguindo; é um fogo que dissolve, um fogo que te devolve a você mesmo. Nesse momento me sinto muito leve, muito livre, muito pleno, muito feliz. O câncer derrete em você tudo aquilo que não faz mais sentido! Aquilo que você escreve em seu livro sobre a saúde ser consciência é muito acertado meu amigo. Estar consciente da vida e de suas maravilhas é outro tipo de “quimioterapia” que se eu houvesse feito antes, talvez não tivesse a necessidade de passar pelo que estou passando.
Desculpe-me o desabafo, nem perguntei se você estava com tempo para escutar esse tipo de coisa logo cedo, mas tenho andado tão feliz com essas novas percepções, que precisava partilhar com você. Veja que uma série de coisas que me preocupavam, hoje ficaram tão pequenas e distantes, que mal consigo vê-las e escutá-las. O curioso é que todo canceroso que converso nessas minhas andanças nos últimos seis meses contam algo semelhante!
A propósito, existem alguns poucos que se tornam amargos e tenho uma hipótese para eles. São aqueles que se negam a soltar e a deixar irem embora as situações que não podem controlar, ou seja, aqueles ainda muito apegados. Quando digo apego, digo não apenas a coisas de natureza material, mas a emoções negativas, mágoas, pensamentos obsessivos de que algo tenha que ser sempre do modo como desejam que seja. É como se quando somos escravos das emoções apenas reagíssemos e que apenas ao pensar de fato é que se torna possível o agir, retomar o viver. Enfim, às vezes noto raiva, revolta, inconformidade, medo, todos os sintomas de quem deseja obstinadamente poder e controle sobre a vida. Mas veja você o que digo: a vida não foi feita para ser controlada ou possuída, senão vivida e partilhada.
Curioso, sendo já setenário, vir a aprender com algo que em toda minha vida entendi como sendo um mal. Como você pode ver meu amigo de fato conforme o dito popular: há males que vem para bem, e para mim foi assim.
Poxa vida, disse a ele, essa experiência e preciosas palavras precisam ser contadas para as pessoas, se me permitir. Comprometo-me a preservar seu anonimato no processo de extrair a essência dessa sua experiência transcendente.
E assim o faço caro leitor.


terça-feira, 15 de agosto de 2017

SOBRE O TEMPO – UM SONHO




        Outro dia, em sonho, muito tempo atrás, quase ontem, perguntaram se o tempo existe de fato e do que ele se trata. Andei, falei e pensei:
        Sim o tempo existe, e o eterno insiste, duas direções espaciais que quando se fala em tempo se mostram necessárias. Sim, pois a existência do tempo exige o conceito de mudança e de movimento, sem o que o conceito não se manifesta. Se estiver difícil, me interrompa, por favor, e pergunte ok?


        Existir é vir para fora (prefixo ex), é acontecer, é manifestar, é temporalizar. E tudo que é temporalizado ganha duração e, portanto finitude. Se não a finitude no sentido anterógrado, ao menos a do sentido retrógrado, pois que pode ser infinita para frente, mas não o é para trás, visto teve princípio e, portanto não é eterna. Digo que a eternidade é a infinitude do passado e o tempo (temporalidade) é a infinitude do futuro. Por isso sempre ter existido (eterno) é tão diferente de poder existir para sempre (infinito).
        O tempo nasce de um sacrifício. Para se “ter” tempo é importante algum grau de sacrifício. De outro modo, aqueles cujas vidas não “têm” sacrifício, não têm tempo. O tempo os têm, são possuídos pelo tempo, escravos do tempo, vítimas do tempo. Nas palavras de Rohden, podemos ser livres daquilo que possuímos, mas podemos ser escravos, mesmo daquilo que não possuímos. Não há mal nenhum em possuir, todo mal está em ser possuído. Sacrifício é ofício sagrado e verticaliza o humano, sofrimento é escolha animal, horizontaliza o humano e esvazia o sentido de vida. Sacrifício é vital e ativo, já sofrimento é mortal e passivo.
        Mas, o tempo é essa coisa que passa e quanto mais apego mais ele se materializa e entra em nossas entranhas. Faz tudo parecer real, na medida em que vivenciamos um antes e um depois. Decorrências de sua “passagem”.
        Quando se olha um rio do alto, ele aparenta inteiro e imóvel. Quando entramos nesse mesmo rio, ele parece passar ou ir em alguma direção. Quanto mais denso o estado da matéria, mais o tempo se faz sentir.
        Antigamente o tempo era visto como divindade, CHRONOS (Grécia), depois também Saturno (Roma). Nessa época era bem sabido o porquê dessa divindade devorar seus filhos. Hoje o tempo nos devora, mas perdemos aquela qualidade de percepção e a trocamos pela noção de que simplesmente o tempo passa e com ele nós passamos...
        Certamente passamos, mas o tempo será que passa mesmo? Ou se assemelha ao rio que visto do alto é parado e só quando nele se entra é possível perceber o fluxo?
        O tempo também tinha outra representação divina no passado, relacionada à sua qualidade, a seu como. Essa representação era conhecida por KAIRÓS. A qualidade do tempo determina uma instância de natureza etérea em relação à quantidade de tempo, e de fato, a envolve com essa atmosfera. Por isso alguns tempos são mais curtos e outros mais demorados, apesar de serem os mesmos quando medidos em ponteiros. O escritor e físico Alan Lightman escreve sobre isso com propriedade na obra “Sonhos de Einstein”.


        Até hoje, por mais que pesquisemos, não sabemos se o tempo é contínuo ou granuloso (discreto), mas um cientista chamado Planck definiu o que se pode arriscar como a menor quantidade de tempo, a partir da qual podemos falar em tempo; é o TEMPO DE PLANCK. Mas isso tudo só vale enquanto a velocidade da luz, a constante gravitacional e a constante de Planck forem consideradas constantes; se alguém descobrir que não são tão constantes assim, tudo isso deve se transformar em algo bem diferente...
        Se o tempo for granuloso, descontínuo, talvez seja nesses “espaços” que a qualidade possa se encaixar! Algo como a água que adentra as rachaduras do solo! Que pena não se poder medir as qualidades como se pode medir o tempo e descobrir se elas podem ser constituídas de pequenas partes como o tempo do Planck!
        Dizemos que temos tempo, mas temos de fato ou é o tempo que nos têm em si? Estamos no tempo e ele em nós, nossos ritmos cardíacos e respiratórios o dizem, mas por quanto tempo?


        Saturno, o senhor do tempo e também o ceifador, no simbolismo astrológico rege um signo de terra (Capricórnio); a terra é o palco do tempo; além disso, Saturno se exalta em um signo de ar (Libra), que representa os atores do tempo, que atuam em parceria comigo. Ambos signos cardinais, que iniciam movimentos e que evocam a manifestação e a importância do tempo. Por outro lado, Saturno, o senhor do tempo, fica mal posicionado nos signos de Áries e Câncer. Áries é o próprio princípio ígneo que subjaz a toda manifestação e que não pode ser restrito ou subjugado pela temporalidade; Câncer é o princípio vital que clama por manifestar-se em vida e que não pode ser restrito ou subjugado senão apenas brevemente.
No devorar de seus filhos, Saturno nos ensina sobre a tensão dinâmica entre as forças dinâmicas de manifestação e perpetuação da vida em contraposição às forças de cristalização e de atrito da vida.

        Para parar o tempo, é preciso ir para bem longe. É o que as estrelas fizeram. Quando vemos uma estrela, vemos como ela foi e não como é nesse momento. Nosso sol, por exemplo, o vemos como ele foi oito minutos atrás; outras estrelas como foram há milhões de anos atrás. No mundo em que vivemos quanto mais distante um objeto de nós, mais antigo ele nos parecerá; quanto mais próximos de sua luz, mais novo.
O tempo é amigo da distância, a vida é amiga da luz.

A luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreendem.