segunda-feira, 27 de agosto de 2018

PEQUENAS ATITUDES PARA GRANDES SERES

FAUSTO – GOETHE – MEFISTO




            Goethe viveu a transição de uma época chamada Iluminismo, onde os humanos da época decidiram abrir mão de uma certa qualidade de valores em função de outra. As escolhas daquela época refletem na época atual; alguém disse: quem planta vento colhe tempestade. Quem gosta de chuva forte nem liga, mas quem não gosta tende a ficar cada vez mais ligado.
            Saramago, Guimarães Rosa, Goethe e Tolstoi deixaram rastros, em suas obras literárias, dessa figura bíblica canhestra, esse ser da encruzilhada que se perdeu na caminhada. Na obra Fausto, Goethe o veste com a alcunha de...

MEFISTÓFELES (com seriedade)
Deus o Senhor – sabe-se a causa – quando
Do éter nos exilou à profundeza
Em que arde fogo cêntrico, abraseando
Voraz conflagração em torno acesa,
Vimo-nos lá, na luz exagerada,
Em situação incômoda e apertada.
Pôs-se a tossir toda a mó dos demônios,
Do alto e baixo a expelir bofes medonhos,
O inferno encheu de enxofre, ácido e azia,
Deu isso um gás! monstruoso em demasia,
Até que em breve, apesar de robusta,
Rebentou afinal a térrea crusta.
A cousa agora está por outro bico:
O que antes era a base, hoje é o pico.
Daí o ensino lógico é oriundo:
Virar-se para o mais alto o mais fundo;
Pois escapamos da opressiva esfera,
À integração no ar livre da atmosfera.
É segredo óbvio, muito bem guardado,
Pois aos povos não foi tão cedo revelado. (Ef. 6, 12)

Em Efésios 6,12 lemos:
            “Pois não é contra homens de carne e sangue, que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares. ”

            Quem caminha ao pé na letra trava a luta nos pulmões, quem não, escafandro, na atmosfera. E você Fausto amigo?


VIVEMOS EM UMA SOCIEDADE DOENTE?




Tudo o que existe, o que é, e também tudo o que se crê existir define um ente. Em outras palavras, somos entes na medida em que nos emancipamos, nos individualizamos da massa amorfa, nos tornamos saudáveis, enfim nos pertencemos.
Se por algum motivo nos afastamos desse estado fluídico do ente, do ser, da saúde, alteramos nosso estado de pertencimento a um novo estado que podemos denominar como ser possuído por. Quando me torno possuído por, deixo de ser ente e passo a pertencer a alguma entidade. Ou seja, me torno do ente; do ente que me possui. Nesse caso estou doente, vivencio a doença, enquanto refém desse estado.
Ao procurarmos em outros idiomas, pois idiomas têm uma vida interior, vamos encontrar semelhantes constatações em relação à doença. No inglês uma possível tradução da palavra vontade é "will". O processo de adoecer implica em perder o acesso ao livre exercício da vontade (no inglês livre arbítrio = free will). Quando minha vontade não é suficiente para que eu aja com liberdade eu me encontro doente (ill). Tornar-se "ill" no inglês é tornar-se refém das circunstâncias e portanto do ente ou da doença. Um "w" a menos e quanta diferença, não é mesmo? (When I loose my will I get ill). Um "do" a mais e quanta diferença faz!! (do-ente).
O convite atual proporcionado pelos meios de comunicação, pela opinião pública e pelo senso comum, é um risco potencial à saúde. Radical? Não, claro! Apenas lembremos que vivências dessa natureza deslocam a pessoa de si em direção aos valores oferecidos a partir de convenções externas ao ser. É comum que alguém seja constrangido em sua forma de ser, por uma forma de ser assumida por um grande número de pessoas ou, ainda mais maquiavélico, por alguma personalidade marcante com quem me identifico.
Nessa medida, a pessoa constrangida pode perder-se de si. Pode momentaneamente deixar de pertencer-se e passar a responder a outros valores, seja uma ideia, um sonho, uma ilusão ou mesmo algo que a desvia de seu propósito ou princípio existencial. Esse tipo de perder-se equivale a tornar-se doente, um estado de dependência de um modo operacional externo a seu ser.
Uma sociedade doente é toda aquela onde o individual é visto com indiferença. Viver em uma sociedade doente significa esquecer de si e seus propósitos existenciais, mergulhar na manada, na massa, na moda e na mídia. Vejamos bem que somos livres para escolher esse caminho, mas a questão é fazê-lo conscientes da existência de outra opção, e não como que forçados pela ignorância de podermos optar! Posso ser materialista ou não, posso escolher. Dar a César o que é de César. O que escolho determina o que sou e como atuo no mundo.
As sociedades superorganizadas, plasmadas na competição, pragmatismo e utilitarismo, enfrentam, a despeito de seu alto nível social e cultural alguns efeitos colaterais desafiadores. Arriscando elencar alguns encontramos: o suicídio em grande escala, o uso indiscriminado de drogas alucinógenas legais ou ilegais, as doenças cerebrovasculares (derrames cerebrais e enfartes), a dissolução da família e a mercantilização do erotismo associada ao decorrente aumento nas estatísticas de abusos sexuais os mais diversos e perversos. 
Para o materialista, o humano é o topo da cadeia evolutiva, não há nenhuma forma de vida superior à forma humana. É uma escolha, portanto uma escola e, portanto, uma parcialidade. Saúde é inteireza, doença é parcialidade. Toda pessoa que adoece se transforma após o processo quando sobrevive. Que possamos continuar a sobreviver até que possamos transcender o tempo e suas intempéries. Transcender o tempo é entrar em paz. Estar em paz é estar inteiro e, portanto, saudável. Para ser saudável é imprescindível a clareza conceitual entre desejo, necessidade e vontade. Se tudo isso é a mesma coisa para mim, sou sociopata, careço do discernimento fundamental para o ser saudável.
Vivemos a idade mídia, momento delicado para os interessados em aprofundamento, autoconhecimento e sentido. Essa escolha atual de desfrontalização (deixar de usar os lobos frontais do cérebro - sede da razão e do pensamento abstrato) não deve em absoluto ser vista de forma preconceituosa ou pejorativa, mas de forma alguma deve passar despercebida ao humano em busca da saúde. Isso pois, sentido existencial interior e saúde caminham de mãos dadas.
Parte considerável dos alimentos disponíveis são inflamatórios e parte considerável dos estímulos aos quais estamos submetidos são desorganizadores mentais, não se excluem os noticiários! As doenças crônicas como diabetes e hipertensão aliadas aos distúrbios do humor decorrem em grande parte da forma insana como nos alimentamos na atualidade. Um processo irreversível decorrente da péssima qualidade das escolhas que fizemos em passado recente.
Por outro lado, sejamos otimistas, não sejamos preconceituosos, experimentemos estabelecer uma relação viva com conceitos emancipadores. Não se revolte, senão apenas volte a si e reconheça o porquê do ambiente à sua volta ser como é. Reflexões simples, mas que nos esquivamos da responsabilidade diariamente.
Diminuir o uso de antidepressivos, moduladores de humor, sedativos do ser, talvez seja opção a ser considerada com certa urgência. Parar de apontar fora e reconhecer dentro aquilo que cabe apenas a mim realizar. Tornar-se pílula de saúde individual.
É possível ser saudável dentro dessa sociedade! Mas é preciso atenção às fórmulas, respostas prontas e receitas, pois cada vida é única. Não nos esqueçamos que o contrário de algo é a mesma coisa ao contrário e que para que a integralidade seja alcançada, os opostos devem ser integrados em um todo, ou seja compreendidos. Oposição é parcialidade, integração é saúde. Uma sociedade partida é uma sociedade condenada, onde tudo o que muda visa apenas fazer com que tudo permaneça como está!
O caminho para a vida saudável é o caminho das perguntas, das possibilidades e raras vezes o das respostas e do tic-tac dos relógios. O poeta cantou que temos nosso próprio tempo. Entrar em relação com este tempo interno que é único para cada ser é primeiro passo solitário e certeiro para a possibilidade da vida saudável.
Não é preciso ficar doente para habitar uma sociedade doente. A pessoa com vida interior pode frequentar a sociedade e reconhecer seus equívocos, pois pensa, tem membrana seletiva. A pessoa desfrontalizada responde aos desafios sociais à semelhança dos animais na floresta. E tudo isso é muito belo de se observar. Observar é um grande passo para o humano. Observemos! 


O PODER DOS MANTRAS - A ESSÊNCIA DOS MANTRAS COTIDIANOS


EU SOU AQUILO QUE TENHO - O QUE FAÇO - FAZER MAIS E MELHOR AQUILO QUE OS OUTROS PENSAM A MEU RESPEITO. SOU DISTINTO DOS OUTROS - ESTOU SEPARADO DO QUE FALTA EM MINHA VIDA



Os “mantras” dominantes são criados no momento do nascimento e se estendem por toda a vida, sendo boa parte dos conteúdos veiculados pela família, entorno e mídia (imprensa) ligados ao ego ou à ambição. São as mensagens do amanhecer da vida e que devem ser mudadas ao entardecer, conforme Wayne Dyer (2012).
Um exemplo é a orientação subliminar “Eu sou aquilo que tenho”, que surge muito cedo e se cristaliza como memória celular. Essa mentalidade de acúmulo começa com os brinquedos e cresce ao ponto de fazer com que o sucesso seja medido pela quantidade e tamanho dos brinquedos acumulados na idade adulta. A perda dos mesmos, em alguns casos, pode culminar em depressão e suicídio.
Outra afirmação de profundo impacto na formação, segundo Dyer, é “Eu sou o que faço”, que começa no engatinhar e se estende durante a vida, reforçando a noção equivocada de que é importante sempre “Fazer mais e melhor”! Da mesma forma, a expressão “Eu sou aquilo que os outros pensam a meu respeito” pode condicionar nosso valor à opinião alheia e ao nos afastar do próprio ideal de perfeição, inviabiliza qualquer relacionamento harmonioso e de iguais.
“Sou distinto de todos os outros”, um “mantra” que promove a separação, também é recorrente e abre espaço para outro equívoco: “Estou separado daquilo que falta em minha vida”. Esta afirmação decorre da falta de fidelidade ao próprio poder e ao fluxo divino da vida. Desconectados, passamos a nos ligar ao que falta - ou seja, às carências de amor, saúde e prosperidade.
A tentativa - quase sempre bem-sucedida - de afastamento da Fonte Original decorre do desejo de comando do ego, que se traduz em afirmações que retratam o divino como distante e temperamental ou estruturam o Universo sob um conceito devedor, em que a pessoa está sempre descontente e cobrando algo de alguém (Dyer, 2012).
Somente quando escapamos ao domínio da personalidade egóica ou autocentrada, conseguimos enxergar o fluxo da vida em sua perfeição, com seus sucessivos aprendizados e possibilidades de nos reinventarmos e manifestarmos nossa essência, construindo no ritmo adequado relações mais saudáveis.
Quando a consciência está desperta, floresce o “mantra” ‘Simplesmente Ser’, um convite à autenticidade, e à vida em aceitação e amor. Um retorno ao Ser.