Por um instante, consideremos
ser menos 12 de outubro e mais 7 de setembro pois só com muito 1º de maio não
seremos um eterno 1º de abril. Toda essa tinta no chão me faz perguntar se as
coisas não estariam ficando pretas...
Sou estudante na USP, em
greve (Veja: Greve
na USP) há mais de um mês. Ao invés de escrever as resenhas usuais,
aproveito esse tempo de ócio para uma reflexão leve e “macunaímica”.
Como se sabe, o contrário
de uma coisa sempre e inexoravelmente é: “a mesma coisa ao contrário”. A
solução talvez seja o novo, o inusitado, o impensável. Um impensável que não seja
dividido ou partido e muito menos um coração partido, conforme dizia aquele
cantor Cazuza, senão talvez uno como o UNI verso.
Que o exemplo de Cristo
irradie a luz que carecemos nesse momento e que possamos reencontrar o caminho
da roça. Como sempre, aos desavisados sugiro atenção e a bondade de quando cito
Cristo seja feita a devida distinção dentre as inúmeras corruptelas e variações
do mesmo tema, invariavelmente em oitavas inferiores. Pois Cristo é o coração e
as variações são couraçados e desgraçados, e sem a graça já se sabe que a
“coisa” fica sem graxa e a engrenagem emperra.
Quando o Janine assumiu a
educação estranhei, um pensador filósofo? Será que alguém está de fato
interessado em transformar o gigante? Mas, ilusão, durou pouco, quase nada. Janine
escreveu um livro muito bom, eu gostei! “A sociedade contra o social”
minuciosamente mostra como o tecido embasado nas telenovelas prepara e molda o
pensar, se antecipando muitas vezes às mudanças do cenário político do país. Além
disso, o autor ressalta o fato corriqueiro no Brasil de se fazer piada de coisa
séria. Quando se faz piada de coisas sérias o senso comum e a opinião pública
são treinados a perderem a noção de importância de alguns fatos. Fazer piada de
coisas sérias é uma forma de alienar e desviar a atenção, você já pensou nisso?
De qualquer modo, a nomeação do ministro em tempo quântico não passou de mais
uma piada de mau gosto com as coisas sérias. Deve ser uma loucura saber como são
os bastidores de fenômenos dessa natureza.
Agora, cá entre nós, fala
sério!!!
Era uma casa muito
engraçada, não tinha teto não tinha nada... Quanto mais pessoas viviam ali,
maior era a necessidade de alimentos e a qualidade nutricional se empobrecia na
mesma medida. Não havia comida de qualidade para todos! Os preços subiam e principalmente
do feijão. Porque então procriavam, não seria o caso de repensarem a natalidade
e suas taxas?
As torcidas, assim como o
crime, se organizaram e agora os órgãos públicos estão começando a se organizar.
Fala-se em golpe, para alguns de sorte, para outros, nocaute; para você? O fato
é que nesse inverno as quadrilhas continuam a solta e nas festas juninas se
escuta: olha a cobra! É mentira! Quando eu era criança pensava que quando o
ladrão fosse visto roubando precisaria se entregar à autoridade, cresci e
aprendi que a escuta ilegal mesmo quando desvenda o crime não pode ser usada
como prova no tribunal! O que é ilegal afinal?
Vejamos como Thomas More (A
Utopia) descreve em sua obra magna os Utopianos em relação ao quesito legal:
“Possuem apenas um número muito restrito de leis, pois, para
um povo tão instruído como os Utopianos, e com tais instituições, poucas leis são
necessárias. Desaprovam principalmente nos outros povos o número interminável de
leis e comentários sobre as mesmas, e que esses povos consideram ainda insuficientes.
Têm como suprema injustiça que se obrigue um homem a obedecer a leis que não consegue
conhecer, pois são inúmeras e tão obscuras que ninguém as pode compreender com exatidão.
Excluem ainda mais rigorosamente os advogados, procuradores e solicitadores,
que manejam habilmente os processos e discutem astuciosamente as leis. Pensam ser
mais acertado que cada um defenda a sua própria causa e confesse diretamente ao
juiz o mesmo que contaria ao advogado. Deste modo haverá menos ambiguidade, e a
verdade descobrir-se-á mais facilmente, pois o juiz pesará e examinará com bom
senso as razões de cada um, a quem nenhum advogado instruiu com impostura,
defendendo os espíritos ingênuos e simples contra as calúnias maliciosas dos
malabaristas de palavras.
É difícil observar esses princípios em países com número de
leis intrincadas e equívocas. Na Utopia, no entanto, todos são advogados hábeis,
pois é pequeno o número de leis que os regem e sua interpretação mais simples e
vulgar é considerada a mais justa. Pois todas estas leis, dizem os Utopianos, são
promulgadas com o único intento de que cada homem fique convenientemente
informado de seus direitos e deveres. Ora a interpretação cheia de sutilezas e
habilidades é acessível a pouca gente e só esclarece um pequeno número,
enquanto as leis formuladas com clareza e simplicidade são facilmente
compreendidas por todos.”
Quincas Borba, filósofo
Machadiano, já havia previsto isso tudo ao entregar as batatas ao vencedor; mas
a filosofia moderna ensina que o vencedor mesmo é quem consegue dividir as
batatas pelo maior número de pessoas possíveis, assim todos vencem e se alguém
descobrir, nada a fazer! O crime perfeito é aquele que não aconteceu, então
para que votar se os vencedores já dividiram as batatas antes mesmo da eleição?
Parece-me óbvio que para
correr uma maratona é preciso treino. O treino é a poupança necessária para que
se consiga terminar a maratona sem morrer no caminho. Mas qual a diferença
disso e a poupança necessária para a compra da casa de seus sonhos? Nenhuma!
Morrer no caminho e não honrar compromissos são sinônimos; treinar para a
maratona e aprender a poupar também. Tudo isso parece muito óbvio, mas porque o
brasileiro tem tanta dificuldade em poupar? Alguém saberia explicar? Na festa junina
de sábado eles explicaram assim: A ponte caiu! É mentira!
E porque não lembrar
Erich Fromm em um trecho do livro “A sobrevivência da humanidade” onde ele faz
uma imparcial análise do raciocínio normal e do raciocínio patológico na
política. Nesse capítulo o autor alerta sobre os obstáculos que uma sociedade
emocionalmente desequilibrada, carente e racionalmente enfraquecida (território
fértil para as novelas, reality shows e esportes de massa) oferece a seus
habitantes, dificultando a percepção da realidade:
“A maioria das pessoas de qualquer sociedade não tem consciência
dessa deformação. Só vê a deformação quando constitui um desvio da atitude da
maioria, e está convencida de que as opiniões da maioria são certas e “sãs”. Não
obstante, isso não é certo. Tal como existe uma “folie à deux”, há insanidade
de milhões, e o consenso no erro não faz dele uma verdade. Para gerações posteriores
surgidas anos após a irrupção da insanidade em massa, o caráter insano desse
raciocínio, mesmo quando partilhado por quase todos, poderá ser percebido
claramente”.
O Dostoievski na obra “Os
demônios” (se ainda não leu considere seriamente) descreve com clareza imparcial
o modus operandi dos regimes que surgem como alternativa salvadora, mas cujo
objetivo é salvarem a si mesmos. Ninguém melhor que ele, vítima do processo
político russo, para elucidar como regimes aberrantes se apropriam do poder a
partir da instauração sistemática do caos, senão vejamos o que ocorre no
epílogo do clássico na página 646 pelo personagem Liámchin:
“À pergunta: por que tantos assassinatos, escândalos e
torpezas? – Respondeu com uma pressa exaltada que era “para provocar um abalo
sistemático das bases da sociedade, para a desintegração sistemática da
sociedade e de todos os princípios; para deixar todo mundo em desalento e transformar
tudo numa barafunda e, uma vez assim abalada a sociedade, esmorecida e doente,
cínica e descrente, mas com uma sede infinita de alguma ideia diretora e de autopreservação,
tomar tudo de repente em suas mãos, erguendo a bandeira da rebelião e
apoiando-se em toda uma rede de quintetos,
que entrementes agiam, recrutavam gente e procuravam na prática todos os procedimentos
e todos os pontos frágeis aos quais podiam agarrar-se.”
Sempre surpreende os
momentos em que o passado revisita o presente não acham?
Ri!! Cardo!! Assino embaixo! Muito bom!
ResponderExcluirBj da irmã que vc adora.
Isso mesmo adoro!
ExcluirBj do irmão
Gostaria de ser otimista, ou pelo menos estar otimista com a "humanidade", mas estamos vivendo momentos muito confusos, violentos, imorais, sem ética, que resultará, um dia talvez, no rasgo do tecido social, da convivência, da família, chegando ao "cada um por si" e daí, da terra arrasada, surja a esperença de uma nova ordem, uma nova sociedade, mais parecida com a Utopia de More. Parabéns querido Ricardo
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