Comunicar é parte essencial do viver. Essa
ligação com o outro - por meio de uma vibração sonora, escrita ou mental - gera
um intercâmbio que transcende as palavras e nos sensibiliza para um “mantra”,
seja ele uma ideia, uma crença, um comportamento ou um sonho.
Cada um interioriza e irradia as informações que
reverberam em seu íntimo e, dependendo do conteúdo, atrai alegria ou tristeza,
saúde ou doença, união ou separação. Na visão de Michel Maffesoli (2003) a
comunicação entre as pessoas é o cimento social, o que promove o religare (religação).
Conhecido pela popularização do conceito de tribo urbana, o sociólogo francês
afirma que só existimos de fato e nos compreendemos na relação com o outro,
destacando a falta de sentido do individualismo.
O poder da palavra é evidenciado por Braden
(2007) no livro “O Efeito Isaías”, segundo o qual cada ser humano cria seu
código de conduta a partir das informações que recebe, fazendo escolhas a favor
ou contra a vida. Assim, as enfermidades, por exemplo, podem derivar de
escolhas e ações individuais e não apenas de causas exteriores. Percebe-se a
partir dessas observações que o uso consciente das palavras é uma forma de
resgatar a relação perdida consigo mesmo, com as outras pessoas e com o
Universo. É a “linguagem que move montanhas”, segundo Braden.
Em seu cotidiano, observe que ao chegar de mau
humor a um local, as outras pessoas não lhe parecerão bem também. Percepção que
muda completamente a partir de atitude mais disponível e sorriso no rosto. E é
isso mesmo: o corpo serve para compartilhar experiências individuais de raiva,
ciúme e ódio, mas também de amor, compaixão e perdão.
Ainda segundo Braden (2007), há cerca de 500
anos antes de Cristo, na cultura essênia, já se dizia que tudo o que se pensa,
fala ou faz constrói uma prece permanente, semelhante a um estado de constante
oração.
De fato, cada um, nessa prece ativa dos
“mantras” dominantes, projeta sua realidade e define a qualidade de seus
relacionamentos e saúde, além da presença, ou não, de abundância na vida.
Novamente, Jesus Cristo, segundo Mateus nos recorda isso ao dizer: “O que
contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o
que contamina o homem”.
De acordo com a filosofia hermética, a realidade
se compõe de vários "tecidos" que se interpenetram, qualificando um
plano físico (território de estudo das ciências básicas convencionais) e vários
planos suprafísicos (território de estudo das ciências ocultas tradicionais).
Resumidamente, a região química do mundo físico é envolto e permeado pela
região etérica, que por sua vez é envolvido e transpassado pela
"matéria" da região do mundo do desejo, que é cercada e imersa na
"matéria" da região do mundo do pensamento.
Nesse arcabouço, as afirmações manifestas,
mental ou verbalmente, intencional ou inconscientemente, ganham força,
especialmente quando aliadas a sentimentos ou emoções intensas, atraindo e
sintonizando outras vibrações similares presentes na região etérica do mundo
físico e nas regiões inferiores do mundo do desejo (Heindel, 1909).
Nas regiões inferiores desses mundos, se
encontram vibrações destrutivas de medo, pobreza, doença, fracasso e miséria,
assim como nas regiões superiores são encontradas vibrações construtivas de
prosperidade, saúde, sucesso e felicidade (Hill, 2009).
Ao seguirmos essa linha de raciocínio fica claro
que um pensamento “potencializado” pela emoção é semelhante a uma semente que,
plantada em terra produtiva, brota e se multiplica em milhares da “mesma”
espécie. Um “poder” de criação
incalculável ao considerarmos que a mente humana gera, em média, 60 mil
pensamentos por dia (Byrne, 2015), sendo 60% a 70% deles negativos (Lucas, 2013).
O poder da palavra associada a emoções genuínas
é genialmente ilustrado por Tolstói (2001) no conto “Os Três Eremitas”. Ele
conta a história de um sacerdote que, em visita a uma ilha distante, decide
ensinar como rezar a três eremitas que lá habitavam. Com suas crenças, ele se
indigna com a forma simples dos eremitas pedirem a proteção divina: “Vós
sois três. Nós somos três. Tenha piedade de nós”.
Em sua função pedagógica ele dedica um dia inteiro
a ensinar o “Pai Nosso”. À noite, já se afastando em seu navio, o sacerdote é
surpreendido por uma luz distante no horizonte. Ele percebe então os três
eremitas correndo sobre as águas do mar rumo ao barco, em reverência e pesar, a
lhe perguntar sobre uma parte esquecida do Pai Nosso. Diante de insólita
situação, o sacerdote se rende à simplicidade da prece proferida por eles, com
a pureza d’alma que os caracteriza (Tolstói, 2001).
De forma lúdica, o poder dos conteúdos
veiculados foi explorado em filmes como “A Origem” (Inception), ficção
científica onde ideias são inseridas na mente das pessoas por meio dos sonhos
que se confundem com a realidade, e “Poder Além da Vida” (Peaceful Warrior),
baseado em fatos reais onde um ginasta se recupera de grave lesão ao reverter
sua forma de pensar por meio de “mantras” recebidos de um conselheiro (ou
mestre interior).
Os dois filmes explicitam os efeitos danosos de
temáticas negativas, nos âmbitos psicológico e emocional, assim como a
possibilidade de alcançar o equilíbrio, saúde e sucesso a partir do uso
consciente das palavras. Conteúdo semelhante é mostrado de forma jocosa na
comédia “As Mil Palavras”, onde a vida do personagem central é condicionada ao
número de palavras emitidas e à coerência de seu discurso com suas ações.
Assim, salta aos olhos o fato da qualidade de
vida do ser humano guardar relação íntima com o pensar e o sentir. Amigo leitor
como estão seus pensamentos e sentimentos, rendidos ao medo consequente ao
viver de modo reprodutivo, ou imersos na coragem do viver produtivo?
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