Por Ana Cristina
Guimarães - Mãe e Médica da Saúde
Continuação de: http://saudeconsciencia.blogspot.com.br/2013/08/liberdade.html
O Homem ocidental, que vive em uma sociedade democrática da atualidade,
orgulha-se de morar em um “país livre”, e tem certeza absoluta de sua
liberdade.
Porém, na medida em que vai ampliando sua percepção da verdadeira
realidade, ele começa a perceber que talvez não seja tão livre como pensava.
Apenas citando algumas fontes que revi recentemente: livros - “1984” de George
Orwell, “Vidas para consumo” de Z. Bauman, o filme “Matrix” e o documentário “Century
of Self ou O Século do Eu” - disponível no link:
Então
fazemos uma descoberta bem desagradável para nosso orgulho! Na verdade, não
somos tão livres assim como pensamos ou gostaríamos. Reconhecer isto é o
primeiro passo para quem deseja tornar-se livre. E assim como um prisioneiro
numa cela escura, começamos a tatear lentamente em volta, procurando reconhecer
as paredes de nossa prisão.
A PRISÃO DA LÓGICA
Na modernidade, estamos acostumados desde criança a dar valor a lógica e
intelectualidade. Há poucos dias, saiu em revista conceituada uma matéria
divulgando escolas que incluíam aulas de empreendedorismo e finanças para
crianças de três anos.
Ao buscarmos na Internet - Empreendedorismo infantil - nos deparamos com
vários cursos e escolas divulgando esta ideia! Por exemplo:
Desde cedo, crianças que deveriam ter apenas contato com contos de fada e
fantasias estão sendo ensinadas de que serão seres humanos se obtiverem sucesso
profissional e as finanças em ordem. Toda esta ideia é apresentada de uma
maneira lógica e racional, parecendo fazer sentido para pais incautos. Estaremos
criando uma geração de TERES HUMANOS ao invés de SERES HUMANOS?
A Ciência atual é também baseada na lógica e na experiência que pode ser
reproduzida. Na Medicina atual, por exemplo, existem protocolos de tratamentos
para determinadas doenças e devemos “seguir o protocolo” ao receitar diversos
medicamentos.
ENTRETANTO:
Citando C.K Chesterton no seu livro “Ortodoxia”:
”No
momento que sua razão se move, move-se dentro da velha rotina circular, e
andará sempre a volta do seu círculo lógico”.
O pensamento lógico é comparado analogicamente a Lua. Novamente
Chesterton:
“O
intelectualismo isolado é (no sentido exato de uma frase popular) todo luar,
porque é luz sem calor, ou seja, uma luz secundária e refletida de um mundo morto...
O círculo da Lua é tão claro e inconfundível, tão periódico e inevitável, como
o círculo de Euclides no quadro preto...”.
Como a Lua reflete a luz do Sol, do mesmo modo a inteligência humana
reflete a luz criadora da Consciência. A inteligência reflexiva trabalha
retroativamente com o já conhecido, buscando “causa-efeito”. Alguns autores
dizem que este tipo de inteligência trabalha “em círculos”.
Desenvolver este tipo de raciocínio é importante, entretanto se nos limitarmos
a ele estaremos presos, apenas repetindo conhecimentos antigos.
A Eternidade é representada por uma serpente comendo a própria cauda. As
filosofias que falam sobre o “Karma” ou ”Destino” se utilizam do mesmo símbolo
para denominar a “Roda” da vida em que os Homens se encontram prisioneiros.
A Lua
reflete a luz-pensamento reflexivo-lógico.
Sócrates, um dos maiores filósofos da Grécia, dizia: “Eu sei que nada sei.” Devido a isso, foi
considerado pela pitonisa do Oráculo de Delfos, como o maior sábio da época.
Era o único disposto a aprender e a investigar, pois tinha a humildade de
saber-se ignorante. Os que já sabem tudo, nada têm a aprender. Estão “presos”
dentro de sua própria racionalidade e intelectualidade “superior”...
Diversos autores, através dos tempos têm insistido na importância de
desenvolver um pensamento analógico, criativo e intuitivo, para poder escapar
da “prisão”. Dentre estes autores, separados por quase 1000 anos, dois gigantes
do pensamento: Avicena, médico-filósofo árabe medieval (980-1037) e Rudolf Steiner,
filósofo alemão, (1861-1925), criador da pedagogia Waldorf e da Medicina
Antroposófica. Ambos
afirmam que é fundamental desenvolver a lógica e a intelectualidade racional,
porém
elas devem ser consideradas como um degrau para o desenvolvimento de uma
“imaginação criativa” e da “imaginação intuitiva”, o que nos
libera da prisão circular da intelectualidade racional. A inteligência
intuitiva, não racional, analogicamente é comparada ao Sol-Luz-Calor-Sabedoria-Coração.
É um conhecimento imediato, não mediado pelo intelecto.
O Sol
irradia a luz-pensamento criativo, imaginativo-analógico.
Na mitologia grega, Apolo é o Deus identificado ao Sol-Verdade-Sabedoria
e símbolo da inspiração profética e artística. Associado também a música e a
cura. Esculápio, considerado deus da
Medicina, era filho de Apolo. Muitos médicos da Antiguidade e Idade Média
aprendiam música, e no “Banquete” de Platão o médico é comparado a um maestro,
que deve harmonizar as sinfonias do corpo humano.
A inteligência intuitiva cria conhecimento novo, assim como o Sol origina
a luz. Quando desenvolvemos a imaginação criativa, conseguimos nos libertar da
“Matrix”.
Os povos antigos sabiam disto. Por isso, estudavam a lógica e a analogia,
desenvolvendo dois tipos de pensamento que se interconectavam: Astronomia -
Astrologia, Química - Alquimia, Medicina - Filosofia, Matemática - Geometria
Sagrada. Não porque eram ignorantes, desconhecedores da Natureza e da Ciência,
como alguns autores dizem atualmente, menosprezando-os. Mas sim, por que eram
capazes de um pensamento analógico, simbólico, criativo.
Mas atualmente, estamos sempre muito ocupados para aprender. Tantas
distrações – Face book, Big Brother, novelas, academia, roupas de luxo, excesso
de trabalho... O Homem atual encontra-se completamente alienado, e assim vai
gradualmente, cada vez mais se tornando um escravo. Incapaz de perceber até os
mais simples fatos que contribuem para isso: financiamentos bancários
extorsivos que o obrigam a trabalhar exaustivamente para manter seus artigos de
luxo, o estímulo ao consumo, notícias “falsas” do Jornal da TV, o roubo de seus
impostos...
E nos achamos muito espertos e inteligentes por que temos tecnologia!
Talvez as crianças que hoje aprendem finanças e empreendedorismo, no futuro
façam cálculos de que custa caro ter filhos ou ajudar a nós, os pais, se
eventualmente precisarmos. Parar para admirar o por do sol, ler um romance ou
uma poesia, ir a um museu, aprender música, jantar com os amigos... Será que
tudo isso será matematicamente calculado nas suas planilhas financeiras e de
disposição de tempo?
Ricardo garimpeiro, sempre achando tesouros na Internet e nos presenteando com as suas reflexoes. Nietzsche era so mais um macaco com dor de cotovelo por causa da Lou Andreas Salomé, outra macaca. Excelente leitura nesse dia de pentecostes. Shirley
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