POR MÁRIO INGLESI - VOVÔ E POETA CONTEMPORÂNEO
Veja também: DIA DO TRABALHO - 1 DE MAIO 2013
Dr. Ricardo
Mais um
dia comemorativo! Desta feita o “Dia 1o de Maio”, Dia do Trabalho,
data estabelecida em homenagem aos operários mortos em confronto policial nos
EUA por ocasião de uma gigantesca campanha de reivindicação em prol de melhores
condições de trabalho, principalmente, dentre elas a fixação da jornada de
trabalho em apenas oito horas, e não catorze horas como vinha ocorrendo.
Essa
reivindicação, juntamente com todas as demais que regulam as relações
individuais e coletivas do trabalho, formou a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas em 1943, durante a sua gestão,
no Brasil, do chamado Estado Novo.
No
intuito de conciliar as relações entre patrões e empregados, já no iniciar do
século 20 foram criadas associações sindicais, que, depois se reuniram formando
até hoje as Uniões Sindicais, como por exemplo, a CUT e a CGT.
No
desenrolar dessas inciativas verificou-se que tais sindicatos estavam à mercê
não dos trabalhadores, mas do próprio governo, que lhes arbitrou para seu
comando, e administração e manutenção, o Imposto Sindical, até hoje vigente,
correspondente à doação anual, pelo trabalhador, do valor de um dia de seu
trabalho em favor da manutenção sindical.
Com
isso os dirigentes sindicais tomaram a pecha de “pelegos”, ou seja, aqueles
elementos que desonram a classe trabalhadora em favor do empresariado em
conluio com o governo.
Hoje,
mesmo com essa estrutura do toma lá da cá, o movimento sindical, embora ainda vigente,
está em declínio vertiginoso, pois os agentes sindicais agora manobram para
fazerem parte das diversas vagas do Estado, em campanhas de fortalecimento do
status pessoal, ou em seu conluio para obtenção de cargos e favores.
Com
isso, o Dia do Trabalho que era data de reivindicações, de demonstração da
força do operariado, tornou-se apenas data comemorativa, com grande alarde de oferta
de brindes, carros, preferencialmente, e de grandes shows, ou seja, o “pão e
circo”, de sempre, para desviar atenções e tensões.
Nesse
cenário o trabalhador ficou só, sua situação agora sofre de todas as agruras de
seu trabalho, e de sua situação de precariedade trabalhistas, cercado de violência
e desmandos: morre “sem querer morrer”, com balas perdidas, quedas de
aparelhamentos em obras faraônicas, sem apetrechos de proteção exigidos, desprotegido
e desamparado, uma vez que nem as leis trabalhistas, pertinentes às horas de
trabalho, e seu descanso diuturno e em dias feriados não mais são respeitados,
causando com isso, enfartes súbitos, doenças psicológicas, e doenças provindas
de toda sorte de fatores, oriundas da má administração e vigilância do trabalho.
Nessa
teia de emaranhado, o trabalhador, já no estertor de sua vitalidade, ainda
sobreleva às alturas o seu Deus lhe pague, como relembra Chico Buarque em sua
“Construção”:
“Por
esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A
certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me
deixar respirar, por me deixar existir
Deus
lhe pague”.
O seu
status de trabalho desmoronou. Hoje, as máquinas fazem muito do que ele, como
trabalhador/operário fazia. Assim, quando muito tornou-se um prestador de serviços
ou um trabalhador avulso, sem carteira assinada, ou ainda trabalhador
terceirizado, ou então, em última instância, objeto de trabalho escravo ou quando
muito, trabalhador dito, braçal, ou ainda boia-fria, aquele trabalhador que
opera em grandes fazendas ou latifúndios, na colheita de produtos.
Ele,
como muitos outros, deixou de ser o operário padrão, com direito a considerar-se
um profissional emérito, tal como torneiro-mecânico, eletricista, ou outros. E
outros mais...
Assim,
apesar das conquistas relevantes que, como trabalhador possui, sua real
qualificação, é ele abandado, desqualificado, perdido no cipoal das grandes
cidades, tendo como maior agravante a precariedade de sua saúde e de todos os
demais que o cercam, uma vez que os bons ofícios da saúde pública, comida com
nutrientes necessários, descanso e lazer lhe são frequentemente negados ou
ausentes de sua vivência diária.
Mesmo
porque, hoje, vigora em caráter prioritário, o senso empreendedor - o empreendedorismo
de seu agente, ficando todo o resto, em compasso de espera de algum milagre.
Ou,
ainda, como enfatiza Domênico de Masi, o que deve viger é o “ócio criativo”, todo
o resto – acautele-se – se já não foi, irá para de baixo do tapete. Afinal,
lembre-se: os tempos são outros, mas o trabalho, esse ainda o é, com todo o
ranço de antanho, e as agruras da modernidade, nas quais a ausência de amparo e
a disparidade de tratamento fazem do trabalhador apenas um objeto descartável.
Mas,
sempre é tempo de arrazoado, e ver, como o fez o poeta Vinicius de Moraes, em
seu poema “O Operário em Construção”:
“Uma
esperança sincera
Cresceu
no seu coração
E
dentro da tarde mansa
Agigantou-se
a razão
De um
homem pobre e esquecido
Razão
porém que fizera
Em
operário construído
O
operário em construção”.
Dentro
dessa barafunda de sentidos e significados de trabalhador e seu dia
comemorativo, onde a manipulação se faz presente, de real, só resta mesmo,
curtir o feriadão, mas mesmo assim sem condições físicas e financeiras
adequadas para tanto, talvez só reste cantarolar, para si mesmo,
“Mas
pra que?
Pra que
tanto céu?
Pra que
tanto mar? Pra que?
De que
serve esta onda que quebra?
E o
vento da tarde? De que serve a tarde?
Inútil
paisagem”.
Tom
Jobim: “Inútil Paisagem”
Ou,
então, em havendo possibilidade e o deixarem, durma, tranquilamente, sem culpas
ou pesadelos. Mas – pensando bem - como
dormir com um barulho desses? Carros de som zoando pelos locais dos eventos, o
som altissonante das aparelhagens de som e toda parafernália de instrumentos próprios
dos shows, como guitarras, baterias, cuícas pandeiros e muitos outros mais, e com
os ruídos da chuva de fogos que naturalmente encerrará o “Dia”. Realmente, dormir, com um barulho desses é
pura utopia, plausível só no reino do Céu, ou quiçá, trancado num iglu, ou enredado
nas montanhas geladas do Evereste, ou ainda boiando depois de percorrer as
profundezas de um mar aberto.
Arreda!
Arreda! Senhor, Meu Deus: Afastai de nós
tanta euforia!!!
Mário
Inglesi