A idade mídia, momento em que vivemos, chega
silenciosamente, após a idade moda onde o marketing e a comparação interpessoal
foram explorados ao máximo e muito tempo depois da idade média, período de
grande desenvolvimento do universo das artes plásticas e musicais. Graças à
possibilidade da análise de tendências que o mundo moderno permite, pode-se
arriscar que a idade vindoura será a idade "muda".
Sem palavras para conseguir explicação de
como a raça humana se "diferenciou" em algo tão próximo ao que foi apresentado
em 1984 (Orwell), Admirável mundo novo (Huxley), trilogia Matrix (Wachowsky) e
Cosmópolis (Cronenberg), só restará o silêncio e a mudez perplexa comuns aos
pontos de irreversibilidade.
O humano é suposta ponta de lança da cadeia
evolutiva, ao menos para os que cultuam o dissonante olhar Darwiniano, a despeito
de suas limitações e incongruências, defendidas ad nauseum por seus Dawkins,
Darwins, Hawkings e mídias afins, oitavas ressonantes. Alfred Russel
Wallace, Johann Wolfgang von Goethe, Friedrich Schiller, Huberto Rohden, Erich
Fromm, Rudolf Steiner, gratidão solene às marcas de seus passos! Erasmo Darwin, o que houve com seu netinho Charles
na compreensão do que Wallace propunha? Ontem e especialmente hoje, os desvios materialistas assim como os extremamente espiritualistas, são as ilusões e liberdade a serem conquistadas pelo homem consciente.
O míope, longe de cego, apenas enxerga muito bem
de perto, mas perde a capacidade de olhar ao longe, a menos que lentes
corretivas sejam usadas. Por outro lado, "hipermétropes" como
Sócrates, Jesus Cristo, Gandhi e porque não o próprio Kant, um míope puro,
quando exclama nas páginas finais da sua hermética "Crítica da Razão Pura":
"Duas
coisas enchem de maravilha meu ser, a lei moral no interior do homem e o céu
estrelado acima de minha cabeça".
Não, as bactérias, os vírus e seus correlatos
não são necessariamente os causadores das doenças. O corpo humano tem em sua
constituição mais bactérias que células, e estas bactérias são fundamentais ao
equilíbrio e à vida deste corpo. Adoecer é qualidade de um organismo
desvitalizado, um psiquismo desequilibrado, uma vida sem um princípio diretor
existencial estabelecido; uma vida vazia. O próprio adoecer nesse sentido é uma
forma de cura, tentativa de alcançar outro estado de equilíbrio que tire a pessoa
das condições de vida em que ela insiste perpetuar.
Fundamental estar atento ao trocadilho sutil:
“existe doença que é cura e existe cura que é doença”. O médico escritor Guimarães
Rosa vacinava com a caneta e já nos advertiu quanto a isso de outro modo, mas o
mesmo:
“Viver é muito perigoso... Porque
aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. O
mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de
ir até o rabo da palavra.”
Ou ainda, no enfoque do blog, falando na
medicina da saúde:
“Saudade é ser, depois de
ter.” - Guimarães Rosa.
Circunstâncias e mais circunstâncias que se
repetem, mas não por isso deve ser deixado de ver com atenção o
degenerado estado em que o grosso da humanidade está caminhando, no sentido de
sustentar o modelo atual. Josué de Castro, brasileiro renomado mundialmente,
aponta com clareza e profundidade típicas aos hipermétropes, este estado de
coisas. Inoportunamente, a ciência ainda não consegue explicar o porquê das
palavras desta qualidade de ser só ganharem destaque quando não mais habitam
entre nós.
Esses semeadores de verdades, milagre da vida
neste mundo espaço-tempo, de onde será que tiram suas ideias? Alguns podem
pensar, míopes: ora! de seus neurotransmissores!; outros, hipermétropes,
estupefatos, como Rupert Sheldrake, suspeitar que as próprias leis que regem o
mundo presente manifesto estejam em processo de evolução.
Leis da natureza em evolução? Qual é a surpresa
se Kuhn mostra em "A estrutura da revoluções científicas" como um
sistema de pensamento científico se sustenta? As teorias de compreensão do
porquê as coisas serem como são, nada mais são que tentativas momentâneas de
compreender o todo e que raramente sobrevivem o teste do tempo. Porque não
vemos? Por que nossa vida é curta demais para a maioria de nós nos preocuparmos
com questões de natureza ontológica enquanto há tanto para se divertir, sentir
prazer e desfrutar.
Os mais velhos que poderiam auxiliar na
abertura de nossa visão são vistos como desatualizados, e por vezes insistiram
tanto em repetir o modelo de consumo que o próprio sentido da vida foi
incorporado ao sentido de ter. Quanto ao ser, uma coincidência efêmera, produto
do acaso, que uma vez expirado ganhou sentido naquilo que se possuiu e
excepcionalmente naquilo que se É, para os míopes, naquilo que se foi.
Adorei...talvez porque tenha dito verdades poeticamente, talvez porque a poesia está na verdade...ou porque nasci hipermétrope...
ResponderExcluirObrigada por compartilhar suas idéias. M.P.
É M.P.
ExcluirA poesia é colírio para os olhos! E o melhor de tudo é que serve para todo mundo, míopes e hipermétropes...
Obrigado pela sua bondade
R.J.
Muito lindo! Toca profundamente a sensibilidade, que se pudéssemos leva-la sempre como companheira, seriamos todos sãos! Abraço para ti e obrigado.
ResponderExcluirSempre muito perspicaz os teus textos. Tenho observado as pessoas doentes que conheço e prestando atençao aos detalhes, à maneira e o que ela fala, fica claro entao o porque de algumas doenças. Continue nos brindando com as tuas reflexoes. E em breve vamos bater um papo. Abraço, Shirley.
ResponderExcluirOba!
ExcluirAssim que passar aqui pelo Brasil combinamos algo!
Enquanto isso um bom verão com bastante calor aí!
Abraço
Caro Ricardo,
ResponderExcluirMais um que apreciou este profundo e inspirador texto!
Que a paz seja contigo!
Daniel (do GEENL)
E contigo também Daniel - na linguagem esquecida: Deus é meu juiz.
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