Continuação
de:
Jesus disse: Se a carne foi criada por
causa do espírito, isto é uma maravilha, mas se o espírito foi criado por causa
do corpo, isto é a maravilha das maravilhas. No entanto, maravilha-me como essa
grande riqueza veio a estar nessa pobreza. (Apócrifo – Tomé: 29)
No artigo "A
mente mente", encontramos um curioso caso de simetria, de um lado o
convite à fonte e de outro um caminho ao umbigo, contingências da tensão na
caminhada entre aquele que é buscador e aquele que busca a dor. A mente é o
ponto de inflexão desta simetria. Mente que para o ocultista é filtro das
qualidades superiores em manifestação e que o manifesta, enquanto que para o cientista é espelho que reflete o
mundo dos sentidos e o explica.
O
paradoxo, um disfarce da simetria, é uma situação
além do alcance da razão. Grosso modo, a ciência moderna foge dos paradoxos
como “o diabo da cruz”; aliás, eventualmente utiliza-os, de forma marota, como
substrato para aumentar a consistência de suas premissas e metodologias. Veja
aqui uma lista de paradoxos:
A negação apriorística de
possibilidades, modus operandi de alguns cientistas, é o caminho escolhido
pelos cruzados da ciência moderna, a despeito da máxima: “Ausência de evidência
não significa evidência de ausência”. Todo cientista pode e deve sempre
refletir sobre seus pressupostos.
Assim, um paradoxo, bem como a
simetria, não trata necessariamente de um par de opostos, mas de um par
semelhante, que longe de oposição, aponta o novo à luz de perspectiva
inusitada; a partir de um de seus inúmeros pontos de vista. O oposto de “algo”
é mais próximo de um “não algo” que sua reflexão (pensamento espelhado).
Das simetrias que me fascinam, a
questão do material e do espiritual está entre as que mais despertam
“anticorpos” no cientista materialista, dada a impossibilidade atual de
aproximação qualitativa e quantitativa da mesma. Vista pelo materialista como
relação do tipo “existe – não existe”, torna a priori infundada qualquer
tentativa de estudo. Entretanto, pode haver benefícios práticos ao bem viver em
tentativas salutares e não apriorísticas de abordagem do desconhecido, do
improvável, do impossível, do espiritual.
Claro que a ciência deve zelar pela construção racional da compreensão do
mundo físico em suas manifestações; refiro-me aqui apenas à necessidade de
algum ramo (Ex. Fenomenologia de Goethe), que se dedique ao campo de fronteira
entre a compreensão do físico (possível de ser desmembrado) e o suprafísico,
que antes de ser permeado, quiçá desmembrado, precisa ser concebido pela
ciência. Conceber algo guarda longa distância de conceituar algo. Ser concebido
implica possibilidade (potência), situação muito aquém de ser compreendido.
Na proposta de Heidegger, o compreender algo foi levado à sua máxima expressão.
Segundo ele (Os conceitos fundamentais da
Metafísica - Mundo, Finitude e Solidão), nunca conceberemos conceitos se
não formos tomados pelo que eles compreendem. Este "ser tomado por", seu
despertar e seu cultivo vigem como esforço fundamental do filosofar. Assim,
compreender é sempre ao mesmo tempo um ser tomado por isso que se compreende. Isso
pode ser aproximado analogicamente a um processo respiratório de outra qualidade
natural, em que o “ar” é compreendido em mim na inspiração e como contraparte
eu sou compreendido no “ar” quando expiro.
E se não entendeu, continue respirando, calmamente e será compreendido...
Já acabou? Um final abrupto. Ou um abrupto final.
ResponderExcluirGostinho de quero mais.
Maria Paula
Acabou!
ExcluirO abrupto final gera um eco. Nesse eco, podemos auscultar aquilo que já sabemos sobre algo, nossas respostas...
Tem uma história mitológica da Eco que é assim:
Eco era uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, onde se dedicava a distrações campestres. Era favorita de Diana e acompanhava-a em suas caçadas. Tinha um defeito, porém: falava demais e, em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra. Certo dia, Juno saiu à procura do marido, de quem desconfiava, com razão, que estivesse se divertindo entre as ninfas. Eco, com sua conversa, conseguiu entreter a deusa, até as ninfas fugirem. Percebendo isto, Juno a condenou com estas palavras: — Só conservarás o uso dessa língua com que me iludiste para uma coisa de que gostas tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas não poderás falar em primeiro lugar.
Paradoxal nosso querer mais ser visto como essa "ecoidade", não é mesmo? Ou seria mais adequado dizer paradigmático?
Adorei o último parágrafo. Grato!
ResponderExcluirSem a piedade, irmã da compaixão, o conhecimento é saci.
ExcluirNarciso foi compreendido pelo lago, não soube compreendê-lo...
Grato!